
Em ritmo acelerado e considerado “alarmante” por especialistas, a prevalência da diabetes deve mais que dobrar no mundo e chegar a um total de 1,3 bilhão de indivíduos com o diagnóstico em 2050 – cerca de 13% da população mundial considerando a estimativa das Nações Unidas de 9,7 bilhões de habitantes para o ano.
O alerta é de um novo e amplo trabalho publicado nesta semana na revista científica The Lancet conduzido por pesquisadores que colaboram com o estudo Global Burden of Diseases (GBD) (Carga Global de Doenças, em tradução livre), liderados pela equipe do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, da sigla em inglês), nos Estados Unidos.
“A rápida taxa de crescimento da diabetes não é apenas alarmante, mas também desafiadora para todos os sistemas de saúde do mundo, especialmente porque a doença também aumenta o risco de doença cardíaca isquêmica e derrame”, destaca a principal autora do estudo e pesquisadora do instituto, Liane Ong, em comunicado.
Hoje, são cerca de 529 milhões de pessoas com a doença, uma prevalência global de 6,1%. O impacto é mais significativo entre os maiores de 65 anos, em que 1 a cada 5 idosos (20%) tem diabetes. Especificamente entre os de 75 e 79, chega a ser 1 a cada 4 (24,4%).
A maior prevalência é observada nas regiões do Norte da África e do Oriente Médio: 9,3%. Entre os idosos desses locais na faixa dos 70 anos, é de alarmantes 39,4%, ou seja, mais de 1 a cada 3 indivíduos.
Para o futuro próximo, as conclusões da pesquisa apontam que o aumento da doença, uma das 10 principais causas de morte e incapacidade do mundo, deve ser observado em todos os países do planeta.
Nas duas regiões acima, a prevalência em todas as idades deve saltar para 16,8% da população. Na América Latina e no Caribe, 11,3% da população terá diabetes em menos de 30 anos. No Brasil, segundo a última edição da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, 9,1% dos adultos já têm a doença.
Os pesquisadores ainda que em 24 dos 204 e países analisados, mais de 20% da população terá um diagnóstico de diabetes. O trabalho examinou a prevalência, morbidade e mortalidade do diabetes nos países e territórios por idade e sexo entre 1990 e 2021 para fazer as estimativas.
Por que a diabetes cresce no mundo?
Segundo o estudo, o aumento dos casos até 2050 está associado principalmente ao avanço da diabetes tipo 2, responsável hoje por 96% dos pacientes no mundo. A prevalência, que é de 5,9%, deve crescer 61,2% e chegar a 9,5% — tornando-se a causa de 1,27 do 1,31 bilhão de diagnósticos daqui a menos de 30 anos. Já o tipo 1 deve aumentar 23,9%, mas saindo de um cenário de 0,2% da população para somente 0,3%.
Isso é importante porque, enquanto a diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que leva o próprio organismo a atacar as células produtoras de insulina, o tipo 2 é associado a fatores de risco modificáveis. O principal deles, ligado a 52,2% dos casos de morte e incapacidade pela diabetes, é o excesso de peso.
Diferente de como ocorre no tipo 1, no tipo 2 a maior quantidade de glicose no corpo leva a um esforço extra para que as células produtoras da insulina sintetizem mais e mais hormônio, que é responsável por retirar o açúcar da corrente sanguínea, até que eventualmente elas deixam de funcionar adequadamente devido à sobrecarga.
Por isso, o fato de a obesidade estar crescendo globalmente está diretamente ligado ao aumento da diabetes. Segundo a última edição do Atlas da Obesidade no Mundo, deste ano, mais da metade da população mundial estará acima do peso ou obesa até 2035. Isso significa ter um índice de massa corporal (IMC) acima de 25 kg/m², para sobrepeso, e acima de 30 kg/m², para obesidade.
De acordo com o atlas, esse crescimento está sendo impulsionado por fatores como a emergência climática, restrições impostas pela pandemia de Covid-19, poluentes químicos, sedentarismo, composição e promoção de alimentos não saudáveis, como os ultraprocessados, e o comportamento da indústria alimentícia, que estimula esse tipo de dieta.
No Brasil, a estimativa é que 41% da população adulta tenha obesidade até 2035. Hoje, de acordo com o Vigitel, 22,35% dos acima de 18 anos já são obesos. Entre as crianças, o crescimento ao longo dos próximos 12 anos será mais acelerado, de 4,4% a cada 12 meses, até chegar a cerca de 27% dos mais novos.
Mas, além do sobrepeso e da obesidade, os pesquisadores do novo estudo sobre diabetes citam outros principais fatores de risco como a própria má alimentação, o tabagismo, o sedentarismo e o abuso de álcool, que também podem levar ao mau funcionamento da insulina. Porém, Lauryn Stafford, também autora do trabalho e pesquisadora do IHME ressalta que é preciso levar o contexto social e as desigualdades entre os países na hora de pensar em medicas capazes de modificar esses riscos.
“Algumas pessoas podem ser rápidas em focar em um ou poucos fatores de risco, mas essa abordagem não leva em conta as condições nas quais as pessoas nascem e vivem que criam disparidades em todo o mundo. Essas desigualdades acabam afetando o acesso das pessoas à triagem e tratamento e a disponibilidade de serviços de saúde. É exatamente por isso que precisamos de uma imagem mais completa de como o diabetes tem impactado as populações em um nível granular”, diz.
Com informações de: O Globo










