
Imagine o seu livro — aquela criança literária nascida das noites insones e da cafeína — dentro de um palco. O miolo, essa plateia invisível ao leitor comum, é onde seu texto dança e canta. Mas, diferente de um musical da Broadway, não adianta só ensaiar bonito: tem que cuidar da cenografia, do figurino e, sobretudo, da luz — ou, no nosso caso, da diagramação.
Primeira lição para o escritor independente que não quer ver sua obra virar um samba do crioulo doido visual: atenção às margens. Elas são o espaço sagrado do texto, onde o olhar respira e a alma repousa. Margens muito apertadas deixam seu livro com aquela cara de espremido, como se o texto estivesse fazendo regime radical — e ninguém gosta de ler um texto em crise de ansiedade. O ideal? Margens equilibradas, nem tão generosas para desperdiçar papel, nem tão miúdas para sufocar a leitura.
E as sangrias? Ah, as sangrias! Aquelas pequenas entradas de parágrafo que indicam que você está começando um novo pensamento, como um suspiro antes da próxima frase. Sem elas, seu texto fica como aquele tio que fala tudo de uma vez, sem pausa para respirar. As sangrias são a delicadeza da diagramação, o gesto do maestro antes de mudar a melodia.
Falando em maestro, não podemos esquecer de cuidar das nossas infames viúvas e órfãos — termos que soam tão dramáticos quanto realmente são. Viúvas são linhas solitárias no final da página, e órfãos são linhas que sobram na próxima, isoladas e tristes. Eles são os fantasmas do layout, capazes de distrair até o mais paciente leitor. A missão do diagramador é caçá-los e eliminá-los, para que seu texto tenha harmonia visual e flua como uma conversa entre velhos amigos.
A tal da harmonia visual não é mera frescura. É o equilíbrio entre texto, espaço, imagens e respiração do olhar. Uma diagramação bem feita é invisível, ela simplesmente deixa o leitor feliz, confortável, como quem chega em casa depois de uma longa viagem. Já uma diagramação ruim grita, incomoda e, pior, afasta.
Então, caro escritor independente, antes de enviar seu arquivo para impressão ou publicação digital, lembre-se: o miolo do seu livro merece mais que um ctrl+c ctrl+v apressado no Word. Ele merece o carinho de quem entende que um bom texto merece um palco à altura — com margens que acolhem, sangrias que sinalizam, e cuidado para que nem viúva nem órfão apareçam no roteiro.
E, se possível, não economize na revisão do layout — porque a primeira impressão do seu texto, para o leitor, é justamente como ele está vestido na vitrine do seu livro. E convenhamos: ninguém gosta de vitrine mal arrumada.










