Se escrevo, é inevitável que emita opinião sobre o tema abordado. Igualmente certo é que, ao adotar uma posição, fica esta sujeita à crítica e à discordância do leitor, estabelecendo-se uma contradição dialética que, mantida a racionalidade, há de levar a uma conclusão. É fundamental, porém, que esse debate se mantenha dentro dos estritos limites do respeito e da boa educação. Discutir não é agredir, assim como discordar não é ficar com raiva. Infelizmente, nas redes sociais esses princípios elementares de boa convivência não são muito levados em conta. Eu, por exemplo, vez por outra sou vítimas de agressões soezes pelo simples fato de defender um ponto de vista que não agrada ao eventual leitor.
Fazer o quê? Não vou ficar trocando insultos. Nunca fui disso e, ainda que o tivesse sido um dia, já não tenho idade para perder tempo com esse tipo de tolice. Sem outro recurso de que lançar mão, chamo minhas netas e elas me ensinam como devo fazer para bloquear o mal-educado, que, assim tolhido, haverá de buscar outra freguesia onde possa entoar seu canto.
Mas esse não é o caso do doutor Paulo Nogueira, delegado de polícia aposentado e pessoa de finíssimo trato. Todas as vezes em que eu me ponho a falar das mazelas desse desgoverno que se implantou no Brasil há três anos, ele, que é bolsominion de carteirinha, simplesmente posta uma mensagem lembrando o velho ditado de que “o direito do enforcado é espernear”. Pronto. Singelo e objetivo, dá-me a entender que o meu inconformismo é apenas reação de perdedor.
Não é bem assim, porém. Vamos dissecar a mensagem do ilustre policial. De pronto, concordo com a evidência de que estamos todos os brasileiros sendo enforcados. Bolsonaro botou o país no patíbulo e sadicamente vai apertando os nós dos pescoços, desempenhando com maestria o papel de carrasco do povo. Diga-se de passagem que, em matéria de provocar mortes, ele tem pós graduação. Aí estão as estatísticas da pandemia, demonstrando que mais de seiscentos mil compatriotas foram enterrados, por força da incúria com que o presidente tratou o assunto. Negou a validade das vacinas e pugnou pela aplicação de medicamentos inócuos.
Vai daí que, passando para os enforcamentos, é uma simples questão de adaptação dos métodos e de convivência com o material da execução. Isso ele aprendeu rápido. Quem se lembra do preço da gasolina antes de esse senhor sentar praça no Planalto? A subida astronômica é bem o reflexo de uma política voltada para interesses menores, sob o comando do malabarista Paulo Guedes. Este, seguindo à risca o ensinamento do brocardo “Mateus, primeiro os meus, depois os teus”, foi abrigar seu próprio dinheiro nos paraísos fiscais, enquanto o dólar dava um salto olímpico no Brasil.
Resulta óbvio que não dá para ficar olhando a paisagem, assim como se vivêssemos em êxtase. Não dá. O mínimo que se pode fazer é reclamar e apontar os desmandos e as sandices que Bolsonaro propicia diariamente, seja revelando elementar falta de educação, seja metendo os pés pelas mãos em matéria de política externa.
Na minha qualidade de enforcado, não vou renunciar ao direito de balançar as pernas. Que esse movimento traduza toda a minha revolta. Enquanto minha traqueia não for quebrada, continuarei inconformado com o espetáculo deplorável em que se transformou o meu país e seguirei bradando contra ele. Ninguém me poderá acusar de omissão. Pode até ser que num desses balanceios a perna atinge as rotundidades posteriores de Bolsonaro e consiga devolvê-lo ao lugar de onde nunca deveria ter saído.