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O documentário Terra de Ciganos, que estreou nos cinemas na última quinta-feira (26/9), é uma celebração das tradições, músicas e da resiliência do povo cigano no Brasil. A produção se destaca por oferecer uma visão profunda sobre uma das culturas mais enigmáticas do país, por meio de uma jornada musical e cultural. Assim, o filme mostra como os ciganos mantêm vivas suas raízes enquanto se integram à sociedade brasileira.

A obra, segundo o diretor Naji Sidki, em entrevista ao Metrópoles, não apenas documenta as vidas e os costumes de músicos ciganos espalhados pelo Brasil, mas também lança luz sobre um povo que, apesar de séculos de presença no país, permanece invisibilizado e estigmatizado.

O diretor sempre teve interesse por culturas nômades. Filho de um refugiado palestino e de uma pintora americana, Sidki cresceu com a vivência de deslocamento e busca por aceitação, algo que o aproximou do universo cigano. “Ao ter contato com ciganos da cidade de Alexânia, em Goiás, me interessei por esta cultura. O filme é sobre, através da sua arte, o desejo da aceitação de uma comunidade excluída”, explica.

Música e resistência

A trama mergulha profundamente nas tradições musicais dos grupos ciganos no Brasil, mostrando como a música é uma ponte entre o passado e o presente, conectando as novas gerações às suas raízes. Para Sidki, a música cigana tem um papel essencial na preservação dessa cultura: “A música não tem fronteiras, não precisa de tradução, viaja pelo mundo proclamando sua irmandade”.

Nicolas Ramanush, um dos artistas ciganos que participa do documentário, compartilha a importância da música em sua comunidade. Líder fundador do grupo Witsa Ramanuj, que contribuiu com três músicas para a trilha sonora do filme, ele destaca que as letras em romanês são parte fundamental da preservação da identidade cigana.

“A língua é o guarda-chuva de qualquer cultura”, explica Ramanush. Ele ressalta que, apesar das mudanças e adaptações da música cigana aos tempos modernos, como o uso de instrumentos contemporâneos, as letras e melodias tradicionais permanecem intactas. “Nós fizemos uma modernização musical, executando com violões, acordeão e percussão, dando o que eu chamo de um ‘molho latino’, já que somos um grupo aqui do Brasil”, explicou.

Além de sua contribuição musical, Nicolas Ramanush vê no documentário uma oportunidade de derrubar estereótipos prejudiciais sobre seu povo. “Foi como abrir uma janela para a alma dos grupos ciganos. Compartilhar nossas histórias e tradições no documentário foi uma oportunidade rara de iluminar quem somos, de mostrar que nossa essência transcende os mitos”, afirma.

Mostrando a realidade

Ingrid Ramanush, outra integrante do elenco, acredita que o filme traz uma representação verdadeira e respeitosa da diversidade cultural dos grupos ciganos no Brasil. “A grande maioria das representações, principalmente em teatro e cinema, mostra o cigano de maneira muito estereotipada. Isso causa mais preconceito e generalizações”, comenta.

Ingrid ressalta que o filme conseguiu retratar as especificidades dos três principais grupos ciganos no Brasil, Rom, Sinti e Calon, com uma autenticidade rara.

“O Naji teve muito cuidado em mostrar a realidade, principalmente da comunidade Calon aqui no Brasil. Eu acho que isso só pode ajudar para que as pessoas conheçam um pouco mais sobre quem nós somos”, opina.

Ela também destaca a contribuição dos ciganos, especialmente os Calon, para a formação da cultura brasileira, algo frequentemente negligenciado pela história oficial. “Essa comunidade está presente no Brasil desde 1549 e muito contribuiu na formação da cultura do que hoje é o nosso país”.

A produção contou com a consultoria da Embaixada Cigana e, para Ramanush, o filme vai além de um relato documental. “No documentário, as pessoas constatarão que nossa realidade é repleta de dor causada pelo preconceito, mas também de resiliência, e, diante da dor, cantamos.” Com informações de Metrópoles.

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