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O dólar operava em alta, nesta terça-feira (16/12), com as atenções dos investidores divididas entre a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e o relatório oficial de emprego nos Estados Unidos, o chamado “payroll”.

O mercado também repercute a nova pesquisa eleitoral divulgada pela Quaest que mostra que, em um possível segundo turno entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), pré-candidato ao Planalto, Lula venceria.

Dólar

  • Às 15h49, o dólar subia 0,72%, a R$ 5,462.
  • Mais cedo, às 14h51, a moeda norte-americana avançava 0,68% e era negociada a R$ 5,46.
  • Na cotação máxima do dia até aqui, o dólar bateu R$ 5,476. A mínima é de R$ 5,417.
  • Na véspera, o dólar terminou a sessão em alta de 0,23%, cotado a R$ 5,423.
  • Com o resultado, a moeda dos EUA acumula ganhos de 1,64% no mês e perdas de 12,25% no ano frente ao real.

Ibovespa

  • O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava em forte baixa no pregão.
  • Às 15h52, o Ibovespa recuava 1,53%, aos 159,9 mil pontos.
  • No dia anterior, o indicador fechou o pregão em alta de 1,07%, aos 162,4 mil pontos.
  • Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula valorização de 2,14% em dezembro e de 35,08% em 2025.

Pesquisa testa Lula, Flávio e Tarcísio

Segundo a pesquisa da Quaest, Lula aparece com 46% contra 36% de Flávio em um eventual segundo turno entre ambos.

O levantamento ainda revela que, se o segundo fosse com Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ele teria 35%, contra 45% de Lula; o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD-PR), aparece com 35%, contra 45% de Lula; o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União-GO), com 33%, contra 44% de Lula; e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG), com 33%, contra 45% de Lula.

Os que não souberam ou não responderam correspondem entre 15% e 18% dos entrevistados na maioria dos cenários. Os indecisos ficam 3% e 4%. A pesquisa é a primeira em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não aparece como candidato na disputa ao Planalto.

O filho do ex-chefe do Planalto confirmou a pré-candidatura em 9 de dezembro, após o aval de Bolsonaro, preso desde 22 de novembro na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília (DF).

A Quaest ainda testou um cenário em que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), concorre contra Lula e Flávio Bolsonaro.

Nesse caso, Tarcísio aparece 13 pontos atrás de Flávio e ficaria fora do 2º turno, que seria disputado por Lula e o senador. O petista lidera com 41% da intenção de votos, seguido por Flávio Bolsonaro, com 23% e, Tarcísio, que soma 10%.

A sondagem mostra, portanto, Lula 18 pontos à frente de Flávio e 33 pontos a mais do que o governador de São Paulo.

Ata do Copom

O Copom divulgou a ata referente à reunião de dezembro. O colegiado enxerga cenário externo ainda incerto, mesmo após os EUA baixarem a guarda em tarifas, e cita o “esmorecimento” no esforço de reformas estruturais que contribuem para a “disciplina fiscal” do governo.

Na ata, o colegiado ainda não descarta uma eventual retomada da elevação da taxa, que está em 15%. “O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que, como usual, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, diz trecho da ata.

Na ata, o comitê explica os motivos que levaram ao fim do ciclo de altas na taxa básica de juros, a Selic. A taxa foi mantida em 15% ao ano pela quarta vez consecutiva.

O ciclo de aperto monetário teve início em setembro do ano passado, quando o comitê decidiu interromper o ciclo de cortes e elevar a Selic, que passou dos então 10,5% ao ano para 10,75% ao ano.

A Selic está no patamar mais elevado em quase 20 anos. Conforme dados da série histórica, a taxa de juros é a maior desde julho de 2006, época do fim do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“O Comitê avalia que a condução cautelosa da política monetária tem contribuído para se observar ganhos desinflacionários e, mais uma vez, reafirma o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta”, diz a ata.

“Além disso, nota que os vetores inflacionários se mantêm adversos e que seguirá acompanhando o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; as expectativas de inflação, que se mantêm desancoradas e são determinantes para o comportamento da inflação futura; o repasse do câmbio para a inflação; o balanço de riscos; e a própria dinâmica da inflação corrente. Diante das condições observadas e prospectivas, o cenário prescreve uma política monetária significativamente contracionista por período bastante prolongado.”

No texto, o Copom afirma ainda que, “endossando o cenário esperado do Comitê até aqui, prosseguem a moderação gradual da atividade em curso, a diminuição da inflação corrente e a redução nas expectativas de inflação”.

“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, diz a ata do Copom.

Segundo Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, a ata do Copom “deixa clara a questão da vigilância e do compromisso com o controle inflacionário”. “Apesar de o comitê reconhecer avanços no processo de desinflação, deixa evidente que o cenário ainda exige cautela, sobretudo por conta das expectativas que seguem desancoradas e de um ambiente fiscal que adiciona bastante ruído ao balanço de riscos”, diz o analista.

“O tom acaba sendo mais firme quando destaca que a política monetária precisa permanecer restritiva por tempo bastante prolongado. Sem espaço para complacência, o Copom sinaliza que cortes de juros, quando ocorrerem, vão depender de evidências consistentes de convergência da inflação para a meta e não apenas de leituras pontuais mais benignas”, prossegue Sueishi.

“Em resumo, a ata consolida uma uma prudência elevada, com foco absoluto na ancoragem das expectativas, e deixa claro que a taxa de juros é um instrumento ativo e que o Copom está pronto para mantê-la alta por tempo necessário para garantir a estabilidade de preços. Parece um Copom menos preocupado com o curto prazo e mais comprometido com a credibilidade do regime de metas.”

Em linhas gerais, o mercado financeiro interpretou a ata do Copom com um sinal de que o início do ciclo de corte da taxa básica de juros no Brasil pode ocorrer apenas em março, e não em janeiro de 2026.

“Payroll” nos EUA

No front externo, o grande destaque desta terça-feira foi a divulgação dos dados oficiais de emprego nos EUA pelo Departamento do Trabalho.

O “payroll” é um indicador econômico mensal dos EUA que mostra a evolução do emprego no país fora do setor agrícola. O relatório, divulgado pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), é considerado determinante para as avaliações sobre o desempenho da economia norte-americana.

A força do mercado de trabalho nos EUA é um dos componentes considerados pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) para definir a taxa de juros e esfriar a demanda na economia a fim de combater a inflação.

Analistas temem que uma possível aceleração do mercado de trabalho nos EUA leve a um novo aperto da política monetária pelo Fed. Nesse sentido, dados mais fracos do “payroll” poderiam ser até considerados positivos, por sinalizarem maior espaço para a queda dos juros – embora também exista a preocupação em relação a uma retração excessiva da maior economia do mundo.

Segundo o Departamento do Trabalho, os EUA registraram a criação de 64 mil vagas de emprego fora do setor agrícola em novembro.

O resultado veio acima das projeções do mercado, que indicavam a criação de 40 mil vagas. A taxa de desemprego foi de 4,6%.

Atualmente, a taxa de juros nos EUA está no intervalo entre 3,5% e 3,75% ao ano, depois de três cortes seguidos de 0,25 ponto percentual. A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros, a primeira do ano, está marcada para os dias 27 e 28 de janeiro.

André Valério, economista sênior do Banco Inter, observa que, setorialmente, “houve adições de 28 mil empregos na indústria, 6 mil no varejo e 64 mil em saúde, enquanto transportes destruiu 18 mil empregos e o setor público 5 mil empregos”.

“Entretanto, em outubro, houve destruição de 162 mil empregos no setor público devido ao shutdown, explicando em grande parte o resultado negativo de outubro. Enquanto isso, a variação de salários foi de apenas 0,1% em novembro, abaixo do esperado e levando a média móvel de três meses anualizada para 3,1%, menor valor desde abril de 2025”, destaca.

Segundo o economista, o resultado do payroll “reforça a visão de que o corte de juros em dezembro foi apropriado e indica um cenário de fragilidade do mercado de trabalho, com deterioração na demanda por emprego, reduzindo temores de pressões inflacionárias”.

“Dada a sensibilidade do Fed ao mandato de emprego e a taxa de desemprego no maior patamar em quatro anos, aumentam as chances de novo corte em janeiro. Até lá, teremos mais uma leitura dos dados de emprego. Se continuarmos a observar a tendência atual de fragilidade, isso deverá ser suficiente para garantir um novo corte na próxima reunião, salvo uma piora considerável na inflação, cujos dados serão divulgados na próxima quinta”, conclui Valério.

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