As audiências de instrução e julgamento para decidir se os acusados de assassinar o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista Britânico Dom Phillips vão a júri popular, têm início nesta segunda-feira (20), em Tabatinga, no Amazonas. Durante três dias de audiência, serão ouvidas 15 testemunhas. O depoimento dos três acusados acontecerá por videoconferência.

Na audiência de instrução e julgamento, o objetivo é verificar se as provas testemunhais colhidas durante a fase do inquérito policial são robustas ou não para irem a júri popular.

As audiências estavam marcadas para ocorrer nos dias 23, 24 e 25 de janeiro, mas não aconteceram por problemas técnicos, conforme a Justiça Federal no Amazonas.

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado; Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima por duplo homicídio qualificado por motivo fútil e ocultação dos corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari (AM), no início de junho de 2022.

A denúncia foi apresentada dia 21 de julho do ano passado à Subseção Judiciária Federal de Tabatinga (AM), onde o processo tramita.

Segundo os cinco procuradores da República que cuidam do caso, Pelado e Lima confessaram ter participado do crime, enquanto o envolvimento de Oliveira foi caracterizado a partir dos depoimentos de testemunhas. Além disso, os procuradores anexaram à denúncia cópias de mensagens que os réus trocaram entre si.

De acordo com o MPF, já havia registro de desentendimentos anteriores entre o ex-servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira, e Pelado, que é suspeito de envolvimento com a pesca ilegal na região. Os procuradores afirmam que Bruno e Dom foram emboscados e mortos depois que Bruno pediu a Dom que fotografasse o barco dos acusados, de forma a atestar a prática de pesca ilegal.

Ainda segundo o MPF, Bruno foi morto com três tiros – um deles pelas costas. Já Dom foi assassinado apenas por estar junto com Bruno no momento do crime

Entenda o caso

Bruno e Phillips foram emboscados e mortos no dia 5 de junho, quando viajavam, de barco, pela região do Vale do Javari. Localizada próxima à fronteira brasileira com o Peru e a Colômbia, a região abriga a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares (cada hectare corresponde, aproximadamente, a um campo de futebol oficial). A área também abriga o maior número de indígenas isolados ou de contato recente do mundo.

A dupla foi vista pela última vez enquanto se deslocava da comunidade São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde se reuniria com lideranças indígenas e de comunidades ribeirinhas. Seus corpos foram resgatados dez dias depois. Eles estavam enterrados em uma área de mata fechada, a cerca de 3 quilômetros da calha do Rio Itacoaí.

Colaborador do jornal britânico The Guardian, Dom se dedicava a cobertura jornalística ambiental – incluindo conflitos fundiários e a situação dos povos indígenas – e preparava um livro sobre a Amazônia.

Já Pereira ocupou a coordenação-geral de índios isolados e recém contatados da Funai, antes de se licenciar da fundação, sem vencimentos, e passar a trabalhar para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Por sua atuação em defesa das comunidades indígenas e da preservação do meio ambiente, recebeu diversas ameaças de morte.

Em 19 de junho, a PF informou que ao menos oito pessoas já estavam sendo investigadas por possível participação no duplo assassinato e na ocultação dos cadáveres. Entre elas, Pelado, Lima e Oliveira.

Homenageados

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, mortos na Amazônia em 2022, foram homenageados por pesquisadores de universidades brasileiras e canadense. Os nomes dos dois foram usados para batizar leveduras descobertas na Amazônia. Os cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal do Tocantins e da University of Western Ontario (Canadá) descobriram duas novas espécies diferentes da levedura Spathaspora, uma espécie de fungo capaz de transformar nutrientes.

No caso das recém-descobertas Spathaspora brunopereirae sp. nov. e Spathaspora domphillipsii sp. nov, os cientistas dizem que elas são capazes de converter d-xilose em etanol e também em xilitol, um tipo de adoçante natural que pode ser usado por diabéticos. As leveduras foram encontradas em madeira em decomposição coletada em biomas da Amazônia brasileira. “Dois deles foram recuperados em diferentes locais da floresta amazônica, no estado do Pará, e, os outros dois, obtidos de uma região de transição, entre a floresta amazônica e o ecossistema do Cerrado, no estado de Tocantins”, explicou o microbiologista Carlos Augusto Rosa. Os achados foram publicados em um artigo na revista International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology.

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