O suposto desaparecimento de duas brasileiras, identificadas como Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de 26, tem ganhado repercussão nas redes sociais. Relatos publicados em páginas criadas por familiares e amigos especulam que as jovens podem ter sido vítimas de seita, rede de prostituição ou tráfico humano. Nesta terça-feira (18/10), Yasmin Brunet foi acusada de sequestro e se defendeu na web. O Itamaraty se posicionou sobre o caso.
Desirré e Letícia deixaram o Brasil e foram morar nos Estados Unidos após promessas de trabalho da guru Katiuscia Torres, conhecida como Kate A Luz, e não fazem contato com a família há meses. Fotos delas também foram encontradas em sites de prostituição americanos.
Após pressão de pessoas próximas às brasileiras, Kate se pronunciou na sexta-feira (14/10), afirmando que Desirré e Letícia estão bem, mas não querem falar com suas famílias, que seriam abusivas. As duas garotas gravaram vídeos confirmando o que Katiuscia disse. Letícia também apareceu em uma live com a guru, o que não foi suficiente para convencer as pessoas envolvidas nas buscas.
Em nota publicada neste domingo (16/10) na página Searching Desirré, criada para reunir informações sobre o paradeiro da jovem, familiares e amigos dizem que estão preocupados com a integridade física das jovens e que o comportamento delas nos vídeos é anormal. Um dos motivos para a desconfiança é o fato de as brasileiras afirmarem que estão na Alemanha, quando, segundo a família, não há registro de saída delas dos Estados Unidos.
“Muita gente está acompanhando as lives que estão surgindo, todas com narrativas deturpadas – o padrão da falsa guru para desviar o foco dela. Quem conhece as meninas não compactua com as inverdades levantadas. Nos vídeos é possível ver nitidamente que existe uma prisão para além da física, que é a prisão emocional: manipulação, ameaças, culpabilização da vítima e falsas promessas”, diz um trecho.
TRHEAD SUMIÇO DESIRRE E ENVOLVIMENTO KATE A LUZ / KAT TORRES
Vocês estão vendo esse caso da Kate a Luz? Eu por acaso conheci desirre na escola e estou intrigado com a história
#threadkatealuz #desirre #kattorres pic.twitter.com/syl50qUBYe— Matheus Rego (@euregomath) October 15, 2022
“Independente se estão fazendo algo em sã consciência ou não, usar a vulnerabilidade de mulheres brasileiras com a falsa promessa de riqueza, e induzi-las a prostituição na ilegalidade é crime. Letícia tem uma família preocupada que vem sofrendo ataques e sendo julgada por um vídeo em que ela está claramente perturbada. Em sua aparição de hoje (16/10), com a feição inchada e aérea, só reforça o quanto ela se distanciou de quem era. Outra técnica muito comum usada em culto é a despersonalização da vítima”, continua o texto.
A nota ainda afirma que Desirré não aparece em público desde setembro e pede para seguidores americanos denunciarem o caso para as autoridades americanas. “A falsa guru nem se deu ao trabalho de tentar provar que ela está bem. Desirrê nunca teve desejo de viver ilegalmente, era totalmente contra isso, cheia de sonhos e com uma carreira linda pra construir. Quem a conhece na intimidade, conhece a verdadeira essência dela, uma pessoa doce, alegre e extremamente boa”.
As páginas de Kate, Desirré e Letícia no Instagram foram desativadas. O Metrópoles tentou contato com a família das jovens, mas não obteve retorno até a publicação do texto. O espaço segue aberto.
Yasmin Brunet tentou ajudar e foi ameaçada
Yasmin Brunet, que acompanhou todo o caso nas redes sociais, participou da live de Kate e Letícia, e comentou pedindo que a moça exibisse o quarto onde estava. A modelo afirmou que se ela provasse que estava em um lugar seguro, as indagações sobre tráfico humano cessariam. Letícia, no entanto, a acusou de passar pano para seu pai abusador.
Kate Luz também não gostou nada das insinuações e postou uma foto de Brunet no Stories do Instagram, antes de desativar a página, com uma série de ameaças. “Sua p*ta desgraçada, vai ter uma maldição e magia negra especialmente com seu nome hoje, eu e Letícia vamos fazer”, disse Kate.
Yasmin, por sua vez, afirmou que apenas pediu que Letícia mostrasse o quarto porque estava preocupada, notando: “O fato de você não estar mostrando só dá mais força a essa história estranha”.
Kate voltou a lamentar a atitude de Brunet, dizendo que ela estava acusando de crimes e Yasmin revelou que a processará. “Eu não acusei ninguém de nada. Inclusive todo mundo que estava na live viu o que aconteceu. Agora a senhora está me ameaçando, então pode esperar que o advogado vai entrar em contato com você. Ameaça é crime”.
Já nesta terça-feira (18/10), Letícia Maia publicou um vídeo em que acusa Yasmin Brunet de sequestro e cárcere privado. De acordo com a jovem, ela conseguiu escapar do cativeiro, mas Desirré continua no local.
“Eu estou tentando a ajuda de vocês, eu estou tentando falar e vocês não estão acreditando, por favor. Eu deveria estar em perigo ainda, a Yasmin Brunet ainda está com ela lá. Eu consegui sair do cativeiro, mas a Desirré continua lá. Eu vou tentar salvar ela, eu vou tentar arriscar minha vida por ela”, diz no vídeo.
Algumas horas depois, a modelo negou envolvimento e afirmou que só divulgou o caso porque queria ajudar as jovens. “Não vou nem comentar mais nada a respeito desse caso. Os meus advogados no Brasil e nos Estados Unidos estão tomando providências legais e cabíveis. As autoridades já estão investigando. Entrei nessa história buscando ajudar, mas agora vendo essa confusão que estão fazendo, entendi que buscam apenas atenção”, desabafou Yasmin.
“Só que fazer isso envolvendo um assunto tão importante é chocante. Tráfico humano é um assunto grave, não é para brincar ou ganhar fama em cima. Quanto mais a gente banaliza, mais essas vítimas se tornam invisíveis, parte de um senso ficcional, sendo que esse mercado horrível existe, movimenta muito dinheiro em cima dos corpos das mulheres. Tráfico humano não é fanfic. É assunto sério e urgente”, completou a modelo.
Versão de Letícia
As duas garotas gravaram vídeos confirmando o que Katiuscia disse. Letícia também apareceu em uma live com a guru, o que não foi suficiente para convencer as pessoas envolvidas nas buscas.
“Não queria estar expondo isso, falando do meu passado. Mas chegou em um ponto que já chega”, disse ela.A “Eu quero expor que quando eu era criança eu já fui abusada pelo meu pai. Minha mãe sempre ia para a roça e eu ficava com meu pai. Então era nesse tempo que tudo acontecia. Ele abusava de mim, abusava sexualmente e eu falava para minha mãe, ela chegava em casa e eu falava o que aconteceu e ela agia como se nada tivesse acontecido e deixava para lá”, argumentou Letícia em um vídeo.
Os abusos, segundo a jovem, ocorreram até os 15 anos. A relação com a influenciadora teria começado a partir das violações. “Comecei a fazer consulta com a Kat e ela foi a única pessoa que contei essa história e ela me falou que eu deveria ir para os Estados Unidos para fazer au pair lá”, acrescentou.
Em nota publicada neste domingo (16/10) na página Searching Desirré, criada para reunir informações sobre o paradeiro da jovem, familiares e amigos dizem que estão preocupados com a integridade física das jovens e que o comportamento delas nos vídeos é anormal. Outro motivo para a desconfiança é o fato de as brasileiras terem afirmado, no início da polêmica, que estavam na Alemanha. Contudo, não há registro de saída delas dos Estados Unidos.
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais afirmou que “há registro de desaparecimento da jovem, de 21 anos, cujos fatos relatados na ocorrência estão sendo apurados pela Delegacia de Polícia Civil em Perdões.
Itamary e polícia brasileira
Procurado peloMetrópoles, o Itamaraty afirmou que tem conhecimento da situação, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston, e que “está em contato estreito com as autoridades policiais norte-americanas responsáveis pela investigação do caso. Aquela repartição consular permanece à disposição para prestar a assistência cabível às nacionais brasileiras e a seus familiares, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”.
O texto diz ainda que “em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”.