Casos de vírus sincicial (VSR), que pode levar a inflamações agudas dos bronquíolos (a bronquiolite), têm enchido emergências, além da influenza, cuja adesão à vacinação este ano ainda está aquém do ideal. Outros vírus, como o Coxsachie, que causa a doença mão-pé-boca, também estão em alta, embora este não afete vias respiratórias.
— Essa circulação de mais de um vírus ao mesmo tempo aumenta as chances de as crianças pegarem uma infecção atrás da outra. É o que dá a impressão aos pais de que o filho está gripado há um mês. Muitas vezes, são infecções diferentes — diz Richtmann.
Gripes podem provocar febres abruptas, por exemplo, mas é difícil afirmar qual vírus causa o quadro sem um exame de painel viral, que se popularizou na pandemia. O certo é que as medidas de prevenção coincidem em vírus diferentes e são essenciais para diminuir o risco de contágio e de transmissão a outras crianças.
Algumas delas se fortaleceram durante a pandemia, como higiene frequente das mãos com água e sabão ou álcool em gel, lavagem nasal e ventilação dos ambientes.
— Se a criança está em escola é mais difícil prevenir o contágio, mas é importante manter a imunidade em dia — diz o pediatra Daniel Becker, colunista do GLOBO. — Isso inclui alimentação saudável, à base de comida de verdade, natural, evitando ao máximo produtos ultra processados.
Atividade física e brincadeiras, acrescenta, em especial na natureza, são também uma injeção de imunidade.
— Além da brincadeira e do movimento serem fortalecedores de imunidade, a natureza tem fitoquímicos que produzem redução da inflamação no organismo, favorece o microbioma, tem “vitamina S”(de sujeira) da laminha, da terra, da grama, com bactérias boas que fortalecem a imunidade. Dormir bem e o afeto e a conexão com pais e amigos completam as principais medidas — enumera.
Vacinação em dia é também essencial. As campanhas de imunização para influenza e Covid estão em vigor, e o Ministério da Saúde tem reforçado a importância de recuperar as altas coberturas, em queda nos últimos anos.
— Doenças sazonais têm impacto importante principalmente em momentos de baixa cobertura vacinal. Temos uma cobertura vacinal baixa para Covid em crianças, e nesta época de outono e de mais circulação de vírus respiratórios o impacto dessa e outras doenças é maior — diz o pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Para alguns casos, como o VSR, não há vacina, mas existe uma opção de imunização passiva, com um anticorpo monoclonal, oferecido no SUS em casos de bebês extremos prematuros e cardiopatas menores de dois anos. No caso da influenza, ainda há opção de tratamento com antiviral.
Os médicos recomendam atenção aos sintomas e à possível necessidade de ir ao pronto-socorro.
— É importante observar sinais como desidratação, apatia, febre persistente, recusa alimentar e dificuldade respiratória. Grande parte dos casos não evolui, mas aquelas crianças, e até mesmo outras faixas etárias de risco, como idosos e prematuros, com doenças cardíacas, respiratórias, imunológicas, entre outras, podem apresentar piora clínica — diz Bruno Paes Barreto, coordenador do Departamento Científico de Alergia na Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
As medidas de prevenção valem ainda para os pais, que eventualmente podem pegar as infecções dos filhos. Se o pai ou a mãe tiver alguma fragilidade imunológica, como diabete, asma, ou outra comorbidade, é recomendado ainda usar máscaras enquanto a criança estiver doente.
— E, se possível, não mande para a escola a criança com febre, coriza, espirro — recomenda Becker. — Isso pode ser um problema durante o pico de transmissão. O ideal é esperar passar pelo menos 24 horas sem febre. Mandar para a escola na fase aguda favorece o contágio e que lá na frente essa infecção retorne para a sua casa.
Com informações de: O Globo