Antônio Pereira / Arquivo Semcom e Camila Batista / Arquivo Semsa

Uma série de estratégias da Prefeitura de Manaus está fortalecendo a vigilância contra o sarampo para impedir que a doença volte a ser registrada na cidade, mesmo sem a confirmação de novos casos desde 2021. A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) alerta que a baixa cobertura vacinal de crianças gera preocupação, devido à maior suscetibilidade desse público às formas graves da doença.

Em Manaus, a cobertura vacinal contra o sarampo ficou em 64,90% no primeiro semestre deste ano, mas a meta é imunizar 95% do público infantil de até 1 ano, 11 meses e 29 dias de idade. A população estimada era de 18.966 crianças, mas só 12.309 foram levadas aos postos de vacinação para receberem a primeira dose.

“O sarampo é uma doença altamente transmissível e perigosa, e afeta principalmente as crianças menores de 5 anos de idade. Uma das complicações da doença é a pneumonia, mas também há outros quadros graves que podem levar à morte. O sarampo é uma doença imunoprevenível, ou seja, quem está com esquema vacinal atualizado, está protegido”, explica a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe.

Shádia informa que os sintomas da doença também são muito desconfortáveis para as crianças, sendo os três principais: febre, exantema (manchas vermelhas na pele) e tosse/coriza/conjuntivite. As manchas vermelhas podem ser confundidas com uma reação alérgica, segundo a secretária, e por isso é essencial uma avaliação médica nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

 

Vacinação

A gerente de Imunização da Semsa, enfermeira Isabel Hernandez, conta que a Tríplice Viral é a vacina usada contra o sarampo, e também protege contra rubéola e caxumba. O Ministério da Saúde preconiza que todas as pessoas de até 29 anos de idade tenham comprovação de duas doses, e até 59 anos de idade, uma dose.

“A primeira dose dessa vacina deve ser recebida aos 12 meses de idade, e a segunda, aos 15 meses. Porém, se a pessoa perdeu o cartão ao longo dos anos e não sabe se completou o esquema vacinal, ela pode, sim, receber a vacina em outras faixas etárias”, orienta Isabel.

A enfermeira ressalta que as crianças que já completaram seis meses de vida podem ser vacinadas com uma dose de proteção contra o sarampo, chamada de “dose zero”. O imunizante pode ser encontrado em todas as 171 salas de vacina da Semsa, cujos endereços e horários podem ser conferidos no link bit.ly/salasdevacinamanaus.

“Nós estamos muito abaixo da cobertura vacinal adequada, e observamos uma queda ainda maior na procura nos meses de maio e junho deste ano. Então a gente alerta aos pais e responsáveis que levem suas crianças à unidade mais próxima para atualizar o esquema vacinal”, pontua Isabel.

 

Vigilância

A diretora de Vigilância Epidemiológica, Ambiental, Zoonoses e da Saúde do Trabalhador da Semsa, enfermeira Marinélia Ferreira, explica que uma série de ações é iniciada para o controle do sarampo a partir do momento em que o profissional da UBS notifica um caso suspeito.

“Mesmo antes do resultado laboratorial, já temos que iniciar a identificação do caso suspeito, investigação em nível domiciliar, hospitalar ou ambulatorial, bloqueio ou intensificação vacinal, além do monitoramento por até 30 dias de todos os contatos que essa pessoa teve no período de transmissibilidade. Quanto mais cedo essas medidas forem adotadas, mais chances teremos de quebrar a cadeia de transmissão da doença”, detalha.

Segundo Marinélia, todo o trajeto que a pessoa com suspeita da doença percorreu no período de transmissão, seja escola, trabalho, casas de parentes, é resgatado para investigação de possíveis casos secundários. O bloqueio vacinal pode ser feito em até 72 horas a partir do contato, mas quando passa desse período oportuno, é chamada intensificação vacinal.

“Nesses casos, as equipes identificam todos os locais onde o paciente esteve e todas as pessoas com quem ele teve contato, e fazem avaliação do cartão vacinal. Se não tiver o cartão ou estiver com esquema vacinal incompleto, essas pessoas recebem a Tríplice Viral já nesse primeiro contato com as equipes de saúde”, acrescenta a enfermeira.

A Semsa também realiza a “Semana Negativa”, quando todo estabelecimento de saúde, uma vez na semana, sinaliza para o seu Distrito de Saúde (Disa) se houve atendimento a algum caso que atende à definição de suspeita de sarampo. Esse é um dos 12 indicadores avaliados pelo Ministério da Saúde sobre a qualidade da vigilância em relação ao agravo do sarampo.

A secretaria também desenvolve ações da “Busca Ativa Retrospectiva”, com apoio da Diretoria de Inteligência de Dados (DID). A estratégia consiste em um cruzamento de dados do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) em busca de usuários das UBSs que apresentavam sinais e sintomas de sarampo, e que por algum motivo passou despercebida.

A “Busca Ativa Retrospectiva” foi realizada em 262 unidades de saúde, estaduais e municipais, de 28 de março e 12 de abril de 2022, quando foram pesquisados 338.475 prontuários. Desse total, 235.397 não possuíam critérios para revisão e 103.078 foram revisados.

Apenas um paciente apresentou critérios que atendem a definição de caso para sarampo. O caso foi investigado e foram realizadas as ações de controle e prevenção. Uma nova busca ativa retrospectiva deverá ser feita ainda neste mês de outubro.

“Se a criança e o adulto não têm a vacina atualizada, eles estão altamente susceptíveis ao sarampo. Se houver um caso positivo, toda a comunidade é colocada em risco devido à grande transmissibilidade. Essas ações, direcionadas pelo Ministério da Saúde, e coordenadas pelo Estado e município, buscam justamente que esse vírus não chegue novamente na cidade de Manaus, e que o Brasil consiga o resgate do certificado de eliminação do vírus do sarampo em nível nacional”, finaliza Marinélia.

 

Casos

Neste ano, 51 casos suspeitos de sarampo foram notificados em Manaus, sendo 50 já descartados e um sob investigação. O Brasil registra, neste ano, 44 casos confirmados de sarampo, com os Estados de São Paulo e Amapá mantendo atualmente surto ativo da doença.

Em 2016, o país havia recebido o certificado de eliminação do sarampo, concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas o status foi perdido em 2019, após reintrodução do vírus e confirmação de novos casos.

O Estado do Amazonas se manteve por 17 anos sem casos positivos de sarampo, mas sofreu com surto da doença em 2018, quando foram confirmados 8.791 casos. A epidemia da doença afetou todo o país na época, devido à baixa cobertura vacinal da população e aumento no fluxo migratório. 

Em 2019, o Estado confirmou quatro casos e no ano seguinte, sete casos. Desde 2021, não há casos confirmados da doença no Amazonas, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

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