Uma pesquisa publicada nessa segunda-feira (6/1) na revista Nature revelou dados alarmantes sobre os impactos do consumo de bebidas adoçadas com açúcar, como refrigerantes e sucos industrializados.
De acordo com o estudo, apenas em 2020, essas bebidas foram responsáveis por 2,2 milhões de novos casos de diabetes tipo 2 e 1,2 milhão de novos casos de doenças cardiovasculares.
Os pesquisadores basearam suas análises em dados do Global Dietary Database, que reúne informações sobre consumo alimentar, obesidade e taxas de doenças crônicas em 184 países. A partir desses dados, os cientistas modelaram estimativas para compreender o impacto específico das bebidas adoçadas na saúde do mundo inteiro.
“Elas estão causando mais de 330 mil mortes a cada ano, além de milhões de novos casos de diabetes e doenças cardiovasculares. Mesmo assim, relativamente poucas ações estão sendo tomadas pelos governos”, afirmou Dariush Mozaffarian, diretor do Food is Medicine Institute, da Universidade Tufts, e autor sênior do estudo.
Impactos globais do consumo de bebidas açucaradas
Os resultados indicam que, em 2020, o consumo de bebidas adoçadas foi responsável por 9,8% de todos os novos casos de diabetes tipo 2 e 3,1% dos novos casos de doenças cardiovasculares no mundo. Além disso, 80.278 mortes por diabetes (5,1% do total global) e 257.962 mortes por doenças cardiovasculares (2,1%) foram atribuídas às bebidas.
Outro dado preocupante foi a perda de qualidade de vida. As bebidas adoçadas contribuíram para 12,5 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs, na sigla em inglês), uma métrica que calcula os anos perdidos por morte prematura ou por viver com uma saúde debilitada.
“Bebê-las regularmente ao longo do tempo leva ao ganho de peso, resistência à insulina e uma série de problemas metabólicos ligados à diabetes tipo 2 e doenças cardíacas”, explicou Mozaffarian.
Regiões mais impactadas
Na América Latina e no Caribe, as bebidas adoçadas foram responsáveis por 24% dos novos casos de diabetes tipo 2 em 2020, a maior proporção entre todas as regiões do mundo.
No México, quase um terço dos novos casos de diabetes foi associado ao consumo dessas bebidas, enquanto na Colômbia a proporção chegou a impressionantes 48%. Na África Subsaariana, onde o número de casos de diabetes mais que dobrou entre 1990 e 2020, 21% dos novos casos foram ligados a bebidas adoçadas.
A pesquisa ainda apontou que adultos com níveis educacionais médios e altos, em áreas urbanas e rurais, são os grupos com maior consumo das bebidas, indicando que o problema afeta diferentes camadas sociais.
Possíveis soluções
Para os autores do estudo, a redução do consumo de bebidas adoçadas depende de políticas públicas mais rigorosas. Uma das estratégias defendidas é a tributação significativa sobre esses produtos.
“Tributos são mais eficazes quando baseados no conteúdo de açúcar, e não apenas no volume da bebida. Isso incentiva a reformulação da indústria para reduzir o teor de açúcar”, explica o pesquisador.
Outras medidas sugeridas incluem restrições à venda em escolas e hospitais, campanhas de conscientização pública e advertências nas embalagens, similares às aplicadas em maços de cigarro.
“Como espécie, precisamos abordar o consumo de bebidas adoçadas com açúcar. É uma questão de saúde global, e muito mais precisa ser feito, especialmente em países da América Latina e África, onde o consumo é alto e as consequências são severas”, concluiu Mozaffarian.
Com informações de Metrópoles