Um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), com apoio do Greenpeace Brasil, mapeou as correntes marinhas da Bacia da Foz do Amazonas e concluiu que um eventual derramamento de óleo na região contaminaria centenas de quilômetros de mares, afetando tanto a vida marinha quanto a população costeira de regiões nacionais e de países da Pan-Amazônia.

A pesquisa foi realizada em março a bordo do veleiro Witness, do Greenpeace, durante a expedição Costa Amazônica Viva, que navegou pelas costas do Amapá e do Pará, áreas de alta vulnerabilidade socioambiental e alvo de interesse da indústria petroleira.

Marcelo Laterman, coordenador da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, explica: “A Bacia da Foz do Amazonas tem correntes marítimas e costeiras muito fortes, cujas dinâmicas são pouco conhecidas. Nessas condições, um vazamento de óleo causaria uma grande dispersão difícil de ser contida.”

Metodologia da Pesquisa

Os pesquisadores do IEPA, com auxílio da tripulação do Greenpeace, lançaram ao mar sete derivadores, equipamentos oceanográficos semelhantes a boias, equipados com sensores e antenas que transmitem sua localização em tempo real e captam informações da temperatura da superfície do mar. Esses derivadores foram lançados em sete pontos estratégicos ao longo da Foz do Amazonas e do Bloco 59, um poço de petróleo no litoral do Amapá onde a Petrobras pretende perfurar.

Denison Ferreira, geógrafo e porta-voz de Oceanos do Greenpeace Brasil, comenta: “Os pesquisadores determinaram os pontos e a quantidade dos derivadores para simular um possível vazamento de óleo durante a perfuração do Bloco 59 ou o transporte do óleo em navios pela região.”

Resultados da Pesquisa

Os derivadores demonstraram que um vazamento na Bacia da Foz do Amazonas contaminaria centenas de quilômetros de mares e regiões costeiras no Amapá e em países vizinhos. Cinco dos sete derivadores atravessaram águas internacionais e chegaram à Guiana Francesa, Suriname e Guiana. Os outros dois derivadores, lançados mais próximos à costa, tocaram o litoral do Amapá.

Luís Takiyama, pesquisador do IEPA, detalha: “Mesmo com a descarga do rio Amazonas aumentando, os derivadores trafegaram em direção à costa do Amapá, indicando que se o óleo chegar em áreas rasas, há risco de atingir as regiões litorâneas.”

Além de mapear as trajetórias, os derivadores acumularam dados em tempo real que permitiram uma maior compreensão sobre a hidrodinâmica da bacia, influenciada pelo regime de maré e pelos ventos fortes da região.

Necessidade de Mais Pesquisa

Takiyama destaca a importância de aumentar os esforços de pesquisa e monitoramento para entender melhor as dinâmicas da Bacia da Foz do Amazonas e prever riscos associados às atividades na região. Marcelo Laterman relembra o histórico de acidentes em águas rasas durante perfurações no passado e alerta para as incertezas e ameaças atuais.

“A bacia da Foz do Amazonas tem 213 blocos exploratórios em oferta e estudo. É uma verdadeira bomba de carbono para a atmosfera, com potenciais vazamentos de petróleo que trariam consequências desastrosas para as populações amazônicas e regiões Pan-amazônicas”, alerta Laterman.

O estudo do IEPA e do Greenpeace Brasil serve como um alerta para os riscos ambientais e sociais associados à exploração petrolífera na Bacia da Foz do Amazonas. A necessidade de mais pesquisa e monitoramento é crucial para proteger a biodiversidade e as comunidades costeiras dessa região de alta vulnerabilidade.

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