
Um estudo conduzido pelo economista Michael Spagat, da Universidade de Londres, indica que mais de 80 mil palestinos podem ter morrido na Faixa de Gaza desde o início da guerra com Israel, em outubro de 2023 — número 65% superior ao divulgado oficialmente pelo Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
A pesquisa, feita em colaboração com o Centro Palestino para Políticas e Pesquisas (PCPSR), coletou dados diretamente com 2 mil famílias em Gaza, sem depender de entrada internacional, restrita por Israel. Os pesquisadores entrevistaram deslocados internos e realizaram cruzamentos para estimar com maior precisão o impacto humano do conflito.
Números principais do estudo:
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75.200 mortes diretas entre 7 de outubro de 2023 e 5 de janeiro de 2025;
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8.540 mortes indiretas (por fome, sede e doenças em consequência da guerra);
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Mais de 30% das vítimas são crianças e adolescentes com menos de 18 anos;
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Outros 22% são mulheres e 4% têm mais de 65 anos;
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A maioria das vítimas são homens jovens, mas o estudo não distingue civis de combatentes.
A estimativa oficial até aquele período, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, era de 45.650 mortos. O estudo de Spagat mostra que a contagem local não está inflada, como Israel alega, mas sim possivelmente subestimada, sobretudo porque muitos nomes nunca foram incluídos nas listas formais.
“Mortes invisíveis”
Os pesquisadores alertam que o número de mortes indiretas ainda pode crescer, especialmente após o bloqueio de ajuda humanitária que durou onze semanas. Gaza vive uma grave crise de desnutrição e colapso sanitário, e o colapso do sistema de saúde poderá agravar o cenário.
“Mesmo com um cessar-fogo imediato, as mortes secundárias continuariam a aumentar”, alerta Spagat, que classificou a tragédia como uma das mais letais do século 21, com cerca de 4% da população morta — algo inédito nos conflitos contemporâneos.
Tragédias com nome e rosto
Por trás dos números, há histórias como a da família al-Najjar. Em 23 de maio, nove irmãos — Yahya, Rakan, Ruslan, Jubran, Eve, Rivan, Saydeen, Luqman e Sidra — foram mortos em um bombardeio israelense em Khan Yunis. A mãe, médica, sobreviveu por estar de plantão. O pai morreu dias depois. Apenas Adam, de 11 anos, sobreviveu ao ataque.
Conclusão
O estudo ainda não foi revisado por pares, mas seus métodos são consistentes com outros levantamentos publicados em revistas científicas como The Lancet. A principal conclusão é clara: os dados oficiais de mortos em Gaza estão longe de refletir toda a dimensão da tragédia humanitária em curso.
Com informações de Metrópoles










