Eventos climáticos extremos afetam a saúde mental de adolescentes • Bruno Cruz l Agência Pará

A crise climática não afeta apenas florestas, rios e cidades: ela também provoca impactos profundos e silenciosos na saúde emocional de quem vive em regiões vulneráveis, como os jovens da Amazônia.

Um estudo divulgado recente do Instituto Mondó revelou que 27,84% dos adolescentes do arquipélago do Marajó relataram sintomas de sofrimento mental após vivenciarem eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas.

Os dados, apresentados em uma conferência internacional em Portugal, acendem um alerta sobre um dos efeitos menos visíveis das mudanças climáticas: o colapso emocional de comunidades expostas diariamente à instabilidade ambiental.

O levantamento, realizado com mais de 500 participantes entre estudantes, professores e responsáveis em escolas públicas do município de Breves, demonstrou que mais da metade dos adolescentes (56,93%) já foram diretamente atingidos por fenômenos climáticos extremos.

E embora os jovens sintam os efeitos, pais e professores relataram ainda mais sintomas de sofrimento psíquico, com índices de 51,22% e 59,55%, respectivamente. A base de análise utilizada foi o PHQ-9 — questionário internacionalmente reconhecido para avaliação de sintomas depressivos.

Para o pesquisador Rodrigo Arruda, do Instituto Mondó, os dados mostram um abismo geracional na percepção dos danos emocionais causados pela emergência climática.

“Enquanto os adultos enfrentam a responsabilidade direta pelas perdas e a instabilidade cotidiana, os jovens, por vezes, ainda não compreendem os impactos profundos desses eventos em sua saúde mental”, explica.

Além dos prejuízos emocionais, os efeitos das secas e enchentes já interferem na rotina escolar. Professores relatam que o rendimento acadêmico é prejudicado durante períodos de seca, com estradas intransitáveis e aumento das faltas. Alunos também demonstram menor disposição nas atividades diárias.

A situação, segundo especialistas, é agravada por outros fatores sociais, como a violência, o bullying e a exclusão. Por isso, o Instituto Mondó lançou o PROA — Programa de Orientação e Acolhimento — com foco na saúde mental da comunidade escolar.

A iniciativa já capacitou 160 profissionais da educação, saúde e assistência social para atuar como multiplicadores e apoiar redes locais de acolhimento em Breves.

COP30 e saúde mental na pauta global

A urgência de lidar com os efeitos emocionais da crise climática estará entre os temas debatidos durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em novembro de 2025, em Belém.

A conferência é considerada uma das mais importantes da década e reunirá chefes de Estado, ativistas, especialistas e representantes de comunidades tradicionais da Amazônia.

Especialistas defendem que é hora de incluir a saúde mental como parte da agenda climática global. “Não se trata apenas de reflorestamento e redução de emissões. A justiça climática também envolve proteger as pessoas mais vulneráveis dos impactos invisíveis da crise ambiental, como o sofrimento psicológico”, afirma Carolina Maciel, diretora do Instituto Mondó.

Com informações de CNN Brasil.

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