
O exame de PSA (Antígeno Prostático Específico), principal marcador para a detecção precoce do câncer de próstata, demonstrou reduzir em 13% as mortes pela doença em homens que realizam o teste periodicamente. É o que aponta um estudo publicado em outubro no renomado periódico The New England Journal of Medicine, que acompanhou 162 mil homens por 23 anos.
A pesquisa reforça a importância do rastreamento, apesar de ter iniciado em 1993, período em que tecnologias como ressonância magnética, terapia focal e cirurgia robótica ainda não eram amplamente disponíveis. Segundo o urologista Ariê Carneiro, coordenador da pós-graduação de Cirurgia Robótica em Urologia do Einstein Hospital Israelita, os resultados atuais poderiam mostrar uma diferença ainda maior.
Rastreamento Periódico e Seletivo
As sociedades médicas mundiais e brasileiras recomendam que o rastreio anual comece a partir dos 50 anos de idade, estendendo-se até os 75 anos. Para grupos de risco, como homens com histórico familiar e de etnia negra, a recomendação é iniciar aos 45 anos, e para aqueles com mutações genéticas, a partir dos 40.
Carneiro observa que o estudo revelou grandes diferenças nas estratégias de rastreamento entre os países participantes, com a média de um exame a cada quatro anos. “Para nós, isso é praticamente não fazer acompanhamento. Confunde os resultados e nos faz observar o estudo com cautela”, analisa. Ainda assim, ele ressalta que a pesquisa comprova que, mesmo de forma esparsa, o rastreamento salva vidas.
É importante frisar que um PSA elevado não significa necessariamente um tumor maligno, e falsos positivos podem levar a biópsias desnecessárias. O exame de toque retal, antes obrigatório, agora é reservado para casos específicos, complementando a análise e identificando tumores raros que não elevam o PSA.
Desafios no Brasil e o Futuro do Rastreamento
O principal desafio no Brasil, segundo o urologista, é a falta de acompanhamento médico regular por parte dos homens. “Quatro em cada 10 cânceres de próstata aqui só são descobertos em casos metastáticos”, alerta Ariê Carneiro.
O dilema da saúde pública é encontrar um equilíbrio entre o alto custo de rastrear todos os homens anualmente e o risco de o câncer crescer silenciosamente sem o diagnóstico precoce. Por isso, a busca por novas tecnologias é constante.
O futuro do diagnóstico caminha para ser mais seletivo e menos invasivo. Novas técnicas apresentadas em 2025 no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) indicam o uso crescente de biomarcadores urinários e genéticos. Esses marcadores ajudam a identificar quem realmente precisa do PSA, distinguindo tumores agressivos de lesões indolentes que podem ser apenas monitoradas. A ressonância magnética combinada ao PSA também tem se mostrado eficaz para aumentar a segurança do monitoramento e diminuir a frequência de biópsias.
“O futuro é selecionar melhor quem deve ser rastreado e tratado. Estamos caminhando para deixar a detecção mais simples e barata, além de entender melhor também os marcadores genéticos do tumor depois da biópsia”, conclui Ariê Carneiro. “Tudo isso, combinado com a precisão dos tratamentos, incluindo a cirurgia robótica, poderá nos levar a ter uma revolução na melhora da qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes.”
Com informações de Metrópoles










