As declarações do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, sobre o desempenho do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais de 2024, geraram uma intensa reação interna, com a presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, criticando publicamente a avaliação de Padilha.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Padilha afirmou que, apesar de avanços, o PT ainda não teria superado o cenário desafiador que se iniciou em 2016 e estaria na “zona de rebaixamento” das disputas municipais.
“O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 [zona de rebaixamento] que entrou em 2016 nas eleições municipais”, disse o ministro. Padilha também destacou o fenômeno de reeleições pelo país, observando que 82% dos prefeitos e vereadores conseguiram a reeleição em 2024, a maior taxa já registrada, o que, segundo ele, reflete um movimento que favoreceu a continuidade dos mandatos e, em alguns casos, limitou o avanço do PT em novas regiões.
A avaliação de Padilha, que apontou a necessidade de uma “recuperação” do partido e de estratégias para retomar protagonismo nas grandes e médias cidades, foi considerada “ofensiva” por Gleisi Hoffmann, que rapidamente se manifestou em resposta. “Temos de refrescar a memória do ministro Padilha, o que aconteceu conosco desde 2016 e a base de centro e direita do Congresso, que se reproduz nas eleições municipais, que ele bem conhece”, disse Gleisi, em tom crítico. Ela ainda ressaltou que o PT está em meio a uma “ofensiva da extrema direita” e criticou o governo de coalizão ampla que, segundo ela, também impõe desafios ao partido.
Gleisi não poupou palavras ao afirmar que o colega deveria se concentrar em suas funções dentro do governo, especialmente nas articulações políticas, e sugeriu que o desempenho do partido nas eleições refletiria, em parte, essas ações. “Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados. Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam”, finalizou.
As divergências revelam uma tensão interna sobre os rumos do PT e sua adaptação ao atual cenário político, enquanto o partido busca uma análise mais aprofundada de sua atuação no cenário municipal. A troca de críticas expõe visões distintas sobre os desafios da legenda para recuperar o protagonismo nas cidades brasileiras e sinaliza a complexidade da relação entre o PT e o governo de coalizão liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.