Foto: NIH / NIAD

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, na noite desta quinta-feira, o primeiro caso de gripe aviária em Minas Gerais, na cidade de Pará de Minas. A identificação foi em um pato de vida livre, da espécie Cairina moschata. A pasta também registrou novos diagnósticos nos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, elevando o total no Brasil para 19 casos da doença em animais desde a primeira confirmação, no último dia 15.

“No estado do Espírito Santo foram mais quatros focos, sendo três no município de Marataízes – nas espécies Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando), Thalasseus maximus (trinta-réis-real) e Nannopterum brasilianum (biguá) – e um no município de Guarapari – Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando). Os outros dois focos foram no estado do Rio de Janeiro, ambos na espécie Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando)”, diz nota do ministério.

No Espírito Santo, os registros anteriores haviam sido nas cidades de Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares, Itapemirim, Serra e Piúma. No Rio de Janeiro, todos os casos foram em São João da Barra, Cabo Frio e na Ilha do Governador. Além dos três estados, o Rio Grande do Sul também teve uma ave silvestre diagnosticada, na Estação Ecológica do Taim, nesta semana. (Veja lista completa abaixo)

Caso de Minas é diferente

O novo caso de Minas Gerais, no entanto, tem uma diferença em relação aos outros 18 identificados no Brasil. Enquanto os demais são registros do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) (H5N1), a detecção no pato mineiro foi do vírus da influenza aviária de baixa patogenicidade (H9N2).

Ambos são chamados de gripe aviária por serem cepas do vírus influenza que circulam entre os animais. Porém, a detecção do novo subtipo “não tem relação com os focos confirmados de alta patogenicidade (…) (e) não requer a aplicação de medidas emergenciais”, disse o Mapa.

Isso porque, de modo diferente do H5N1, que tem acendido o alerta de autoridades de saúde e provocado recordes de mortes de animais pela doença no último ano ao redor do mundo, o vírus de baixa patogenicidade não representa uma ameaça tão alta à saúde das espécies.

“Evidências de presença de outros vírus de influenza aviária de baixa patogenicidade já foram encontradas no Brasil anteriormente. Esses vírus circulam normalmente em populações de aves silvestres, principalmente as aquáticas, em todo o mundo, causando doença leve ou assintomática em aves domésticas e selvagens”, explica a pasta da Agricultura.

Além disso, ainda não foram registrados casos de gripe aviária em animais de avicultura, o que faz com que o país mantenha o status de livre de IAAP. Com isso, não há restrições no comércio de produtos avícolas brasileiros. No último dia 22, o ministério instaurou um estado de emergência zoossanitária nacional com o objetivo de evitar que o vírus chegue às granjas.

Caso isso aconteça, o impacto é principalmente econômico, devido à necessidade de sacrificar animais e possíveis sanções comerciais. A pasta ressalta que não existe risco de contaminação humana pelo consumo da carne de frango ou dos ovos.

— É uma preocupação a introdução desse vírus na avicultura de subsistência e comercial ,é preciso de fato haver uma proteção não apenas das grandes produções comerciais, como de pequenas criações. Alimentos não são uma via de contaminação, mas o prejuízo econômico e social é muito grande nesses casos. O Brasil é um grande produtor na avicultura, tanto de carne, quanto de ovos. Então se passarmos a receber sanções em termos de comercialização pela introdução do vírus em lotes comerciais seria um problema — explica Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, e coordenador da Rede Corona-Ômica BR – MCTI , monitoramento nacional de amostras do vírus da Covid-19.

Risco para humanos

A gripe aviária circula majoritariamente entre as aves. Por ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registra algumas dezenas de casos em humanos, disseminados pelo contato direto dos animais infectados, vivos ou mortos, com a pessoa. Geralmente, acontece em trabalhadores de granjas onde houve contaminação das espécies. Até então todos os casos suspeitos em humanos no Brasil foram descartados.

— Por enquanto, a transmissão ocorre muito mais entre espécies de aves, e destas para mamíferos marinhos que habitam a costa dos países afetados. Em relação aos humanos, até hoje não vimos uma transmissão sustentada desse vírus de pessoa para pessoa. Normalmente são eventos esporádicos por meio de contato com animais doentes. Mas claro que precisamos ficar atentos — explica Spilki.

A preocupação é porque, embora a contaminação humana seja rara, o evento é perigoso – cerca de metade dos infectados morrem. Além disso, cientistas temem que os recordes de casos entre os animais, a expansão do vírus para localidades onde antes não havia contaminações, como no Brasil, e o registro inédito de disseminação entre mamíferos, como identificada entre leões-marinhos no Chile, levem a um cenário em que o vírus consiga se espalhar entre humanos.

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