A economia brasileira fechou 2023 com índices que podem ser considerados bons e que apontam, a princípio, para um desempenho positivo.

A inflação fechou o ano em 4,62% (IPCA), inferior aos 5,79% de 2022 e 10,06% de 2021. Ainda assim, ela ficou acima da meta anual acumulada para 2023 que foi de 3,25%.

A taxa de desemprego também experimentou retração no terceiro trimestre, comparativamente ao segundo trimestre de 0,4%. A previsão para 2023 é que fique em torno de 7,5%. A taxa em 2022 foi de 7,9%. De se ressaltar que, a se confirmar, a taxa de desemprego em 2023 será a menor desde 2014, que fechou em 6,6%.

Em termos de Produto Interno Bruto o Fundo Monetário Nacional divulgou em dezembro último o ranking das 20 maiores economias do mundo. O Brasil ocupa a 9ª posição com 2,13 trilhões de dólares. Em primeiro lugar está os EUA, seguido da China, Alemanha e Japão.

Tais desempenhos são dignos de serem comemorados, principalmente nos tempos pós pandemia, responsável por desacelerar a economia em vários países e provocar crises sem precedentes.

No entanto, é importante que voltemos nosso olhar para outras realidades que se apresentam como problemas crônicos que se arrastam por anos a fio em nosso País, sendo sempre colocados para debaixo do tapete pelos sucessivos governantes.

Os números do saneamento básico no País não mudaram muito nos últimos anos. Continuam estarrecedores para uma economia que se gaba de estar entre as dez maiores do Planeta. 100 milhões de brasileiros, isto é, quase metade da população brasileira, não têm rede esgoto. Falta água potável para 35 milhões de brasileiros. Esse número é paradoxal, pois o País é o que mais possui reserva de água doce do mundo (12% das reservas), à frente da Europa com 7% e da África com 10%. Não bastasse isso, 37% da água tratada é perdida, ou seja, quase 2/5 do total.

As rodovias nacionais são outro grande gargalo. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte realizada em 2023, 41,4% das rodovias brasileiras são classificadas como regular. 20,3% delas é ruim  e 5,8% é considerada como péssima. Isso equivale a 67,5% das rodovias nacionais. Encabeçando a lista está a BR 319 que, governo após governo, é relegada a terceiro plano. A população que dela depende (e a economia regional) tem que amargar uma péssima malha rodoviária que eleva o custo Brasil e trava o crescimento e desenvolvimento nacionais, pois obstrui a circulação da despesa. Se fôssemos comparar as condições da malha rodoviária brasileira com um paciente com sérios problemas em seus vasos sanguíneos, eu diria que a maior parte dos “vasos” (rodovias) encontra-se obstruída oportunizando a ocorrência de um infarto (colapso) a qualquer momento.

O meio ambiente é outro grave problema que convivemos. Parece que as ações se limitam a discursos inflamados nos parlamentos e poucas atitudes no plano concreto. Somos prósperos em realizar debates, conferências, congressos renomados, mas pouca coisa ou quase nada sobra para nos tirar do ostracismo. Nós aqui de Manaus somos prova viva disso. Nos meses de outubro e novembro do ano passado respiramos fumaça pura. Houve dias que não dava para ver um palmo adiante do nariz. Problemas respiratórios fizeram com que a procura por serviços médicos mais lembrasse os terríveis tempos da pandemia aqui. O uso da máscara foi até recomendada pelas autoridades.

Nada obstante à gravíssima situação, pouquíssimas autoridades levantaram suas vozes contra as chamas que consumia a Amazônia. Governo federal, forças armadas, classe artística nacional e estrangeira e autoridades internacionais, todos pareceram que comeram abil. Não falaram absolutamente nada, com raríssimas exceções pontuais, mas muito aquém de nossas necessidades. Tivemos que nos virar sozinhos. Trabalhar com o que tínhamos. Deu a impressão que a “preocupação” com o meio ambiente não passou de mais uma estória da carochinha.        

No Sistema Único de Saúde tudo continua da mesma maneira. Corrupção, desvio de recursos, políticas de saúde desencontradas e quase sempre sem um comando unificado. Ainda não tivemos a sorte de conhecermos uma autoridade à altura das necessidades do cidadão comum, que clama pelo mínimo para ser tratado dignamente quando mais precisa (quando lhe falta a  saúde).

Por fim, a violência tomou conta do País definitivamente. O crime, o roubo e os assaltos se incorporaram de vez à nossa rotina. Ser assaltado neste País parece que caiu na vala comum. Algo impossível de ser evitado. Vivemos presos em nossas casas e condomínios. O medo e a dúvida ocupam nossa mente todas as vezes que deixamos nossa família. A possibilidade de não mais voltar a revê-la nunca foi tão real. Vivemos sentados sobre um barril de pólvora que pode ser detonado a qualquer momento por facções.

Ao que tudo indica, o Estado cedeu seu espaço a elas, dando-lhe carta branca para fazerem o que quiserem.

Em meio a todo esse estado de coisas, não vejo o que comemorar em termos de desempenho econômico. De que vale ter uma inflação dentro de um teto, se não sermos tratados como PESSOAS por quem nos governa?  

Podemos ser a 9ª economia do mundo tomando por referência os dados “frios” do sistema econômico. Mas estamos longe – aliás, muito longe – dos países de primeiro mundo quando a pauta é QUALIDADE DE VIDA (meio ambiente, saneamento básico, sistema público de saúde, malha rodoviária nacional, saneamento básico).

Muitos podem até comemorar a retomada dos sinais vitais de nossa economia. Eu, de minha parte, lamento profundamente. Não há nada que comemorar. Comemorar desempenhos econômicos como esses é a mesma coisa que se conformar em se alimentar de migalhas.

É como penso.

Alipio Reis Firmo Filho

Conselheiro Substituto/TCE-AM     

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