Multidão de palestinos participa de enterros de vítimas mortas durante ataques de Israel Ahmad Gharabli/AFP

Após dois dias de ataques aéreos, blindados e mais de mil soldados em solo, Israel anunciou nesta quarta-feira o fim da maior incursão militar em 20 anos no território ocupado da Cisjordânia, acirrando as tensões em uma área onde a escalada de violência há meses gera temores. Após a retirada, uma multidão de palestinos tomou o campo de refugiados de Jenin para acompanhar o enterro dos 12 mortos.

O principal porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, disse à rádio Khan News, emissora pública do país, que todos os soldados já deixaram o campo de Jenin, o epicentro da operação. Afirmou crer, entretanto, que precisarão retornar no futuro, sem deixar claro o quão em breve uma nova incursão na Cisjordânia, sob ocupação israelense desde 1967, poderá acontecer.

Horas depois, centenas de palestinos foram às ruas participar do enterro das 12 vítimas — segundo a BBC, ao menos oito deles tinham relações com o grupos armados —, com enormes cortejos acompanhados por bandeiras palestinas e tiros para o alto. Nos preparativos, jovens combatentes instalaram armadilhas antitanques e bombas caseiras para dissuadir israelenses de enviarem automóveis com militares à paisana.

Multidão carrega caixões de mortos durante ofensiva israelense — Foto: Ahmad Gharabli/AFP

Multidão carrega caixões de mortos durante ofensiva israelense — Foto: Ahmad Gharabli/AFP

A violência havia aumentado nas últimas horas, conforme os soldados israelenses começavam a se reagrupar para deixar o campo, momento em que foram registrados alguns dos embates mais intensos com integrantes de grupos armados. Israel anunciou que um de seus soldados, David Yehuda Yizhak, de 23 anos, morreu baleado durante a retirada.

Simultaneamente, cinco foguetes foram disparados contra o território israelense da Faixa de Gaza e foram imediatamente interceptados pelo Domo de Ferro, o poderoso sistema antiaéreo do país. Fragmentos dos artefatos caíram sobre uma casa na cidade de Sderot, causando danos mínimos, e não houve vítimas.

Israel, em resposta, atacou o que disse ser instalações subterrâneas do movimento político-militar Hamas, que controla o enclave desde 2007, mas que até o momento não assumiu a autoria dos foguetes, com frequência também disparados por outros movimentos armados. Segundo as Forças de Defesa de Israel, a retaliação “impede significativamente a intensificação e os esforços da organização terrorista Hamas se armar”.

Criado há 70 anos para abrigar refugiados palestinos após a criação de Israel em 1948 e a guerra subsequente, o campo de Jenin tem menos de meio km². No centro do acirramento da violência visto nos últimos meses, é um dos bastiões da resistência armada palestina, berço de uma nova geração de combatentes articulada de forma mais horizontal, que vê com desconfiança a autoridade palestina e os movimentos armados mais tradicionais.

Jenin é também lar de centenas de combatentes de grupos históricos como o Hamas, o Fatah e a Jihad Islâmica — facção contra a qual Israel lançou uma ofensiva há dois meses que deixou 34 mortos em cinco dias de bombardeio em Gaza. Há quase um ano, hostilidades tiraram mais de 40 vidas.

Os ataques israelenses contra o local começaram na segunda, sob a prerrogativa de que a operação era necessária para fazer frente ao crescimento de ataques armados israelenses contra palestinos, muitos deles supostamente realizados por moradores de Jenin. Desde que a Segunda Intifada chegou ao fim em 2005, contudo, não se via bombardeios aéreos contra a Cisjordânia.

O precedente foi rompido pelo governo mais à direita da História do país, após semanas de pressão das alas mais radicais para que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu — que voltou ao poder em dezembro após um interregno de 18 meses — tomasse ações mais contundentes. A ascensão do grupo veio sob promessa de combater a violência e expandir os assentamentos de colonos israelenses, considerados ilegais pelo direito internacional.

A operação para “erradicar o terrorismo e ceifar as ameaças” desta semana, contudo, chega ao fim com 30 prisões, e nesta quarta os israelenses convocaram a imprensa para mostrar as grandes quantidades de armas, munições e artefatos explosivos que afirmam terem apreendido no campo. Alguns deles, afirmam, inclusive dentro de mesquitas.

As milhares de pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, que foram evacuadas também começaram a retornar nesta quarta — algumas dizem que saíram de casa por contra própria, enquanto outras foram forçadas pelas ameaças que ecoam em alto-falantes. Drones israelenses continuam a sobrevoar a região.

— Eu estava preocupado com os meus quatro filhos, sua segurança e saúde mental. Este lugar é uma destruição completa — disse à BBC Mazen Abu Leil, que retornou nesta quarta. — Os combatentes são pessoas humildes como eu, mas a imprensa faz elas parecerem fortes e poderosas. Eu acredito que as forças israelenses voltarão aqui para fazer isso novamente.

Ataques israelenses na Cisjordânia acirram tensão no Oriente Médio — Foto: Arte O Globo

Ataques israelenses na Cisjordânia acirram tensão no Oriente Médio — Foto: Arte O Globo

A destruição é visível, do asfalto levantado pelos blindados israelenses aos buracos nas paredes das casas, feitos para encaixar os canos das armas de atiradores. A mancha de sangue onde o soldado israelense foi baleado nesta quarta permanecia no local horas depois, assim como os carros destruídos. Segundo a ONU, há danos significativos às redes de distribuição de água e energia.

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