“Rei morto, rei posto”. Entre os vários comentários sobre a antiga expressão, uma delas diz que após derrotar Minotauro, Teseu herdou o trono de Minos, o amor da esposa viúva e a adoração do povo de Creta, narrada, inclusive, por Mary Renault no livro “The King Must Die”.
Mitologia à parte , o ex-governador José Melo, como Minos, também, não resistiu a contundência letal dos golpes contra ele desferidos durante mais de um ano de renhida batalha jurídica, travada contra os seus “adversários” pela posse do poder, e sucumbiu e caiu no mais profundo ostracismo.
Com a ação de cassação proposta pela coligação adversária “Renovação e Experiência”, que tinha como candidato o atual senador Eduardo Braga (PMDB), derrotado em eleição de segundo turno, José Melo perdeu o mandato de governador.
Sem foro privilegiado não demorou muito para ser preso por suposto esquema de corrupção apontada pelo desvio de R$ 120 milhões dos cofres do estado.
Melinho ainda tentou levantar a cabeça mas, parafraseando Gabriele Lima, a coroa já tinha caído.
Ao tentar sair da cadeia para o aconchego do lar doce lar, a 3ª Turma do TRF 1 acatou parcialmente o pedido de habeas corpus e definiu o pagamento de 400 salários mínimos como fiança da prisão domiciliar do ex-governador e da ex-primeira dama, Edilene Oliveira, presa, também, durante a operação “Estado de Emergência”.
Sem dinheiro no bolso – os amigos dos tempos idos desapareceram como fumaça- para pagar a fiança de quase R$ 400 mil, José Melo e Edilene permanecem presos no Centro de Detenção Provisória Masculino 2 (CDPM) e no CDPF, o km 8 da BR-174 (Manaus/Boa Vista), respectivamente.
Melinho recorreu à instância superior alegando indisponibilidade do valor da fiança estabelecido pela relatora do processo, desembargadora Mônica Jacqueline Sifuentes Pacheco de Medeiros.
Até ser trancafiado em uma das celas frias do CDPM 2, José Melo era o “cara”, o “bom velhinho”, cercado e paparicado pelas mais proeminentes figuras da economia, do judiciário e da política local.
O sonho do bom velhinho, entretanto, que na terceira classe de uma “chatinha” – embarcação de pequeno calado e fundo chato – deixou para trás os dias mais felizes de um menino criado em um dos seringais do Juruá – acabou.
No seringal, onde o ser humano só é maltratado pelo desconforto causado pela sezão, Melinho, provavelmente, não teria perdido a liberdade, não teria perdido os amigos e muito menos a dignidade.
A história bem poderia ser diferente, mas Melinho sonhou alto demais e no alto de sua inocência embrenhou-se em movediços e tortuosos caminhos controlados por uma sociedade de ferozes e famintas hienas que o devoraram antes mesmo do final da picada.