Recentemente, participei de um curso que, à primeira vista, parecia ser apenas mais um entre tantos que fazemos ao longo da vida profissional. O tema era sobre Justiça Restaurativa, algo totalmente novo para mim. Nunca tinha ouvido falar sobre o assunto, tampouco possuía qualquer leitura prévia. Ainda assim, movido pela curiosidade, pelo espírito de eterno aprendiz e inspirado na filosofia de Fernando Pessoa que diz: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, aceitei o convite, sem grandes expectativas, apenas para atender a um pedido da minha gestora. Hoje entendo que aquele curso foi muito mais que um aprendizado técnico: foi um mergulho profundo em mim mesmo, que transformou a forma como vejo os conflitos e como me vejo no mundo.

A cada círculo realizado, a cada partilha de dor, a cada silêncio respeitado, compreendi que educar vai além de transmitir conteúdos. Educar é cuidar de vínculos, reconstruir relações e oferecer presença e escuta verdadeira. A Justiça Restaurativa não se aprende apenas com apostilas ou vídeos, ela se vivencia no encontro com o outro. E eu me permiti viver essa experiência de forma inteira. Em muitos momentos, fui levado a revisitar minhas próprias dores, reconhecer fragilidades e enxergar, com mais clareza, a potência do diálogo verdadeiro. Participar do curso foi, para mim, um exercício de humildade e coragem. Senti que algo em mim também foi restaurado, como professor, como colega, como ser humano.

As professoras formadoras Sabrina e Nayluce foram muito mais que apenas facilitadoras de conteúdo, foram presenças acolhedoras que marcaram profundamente minha experiência no curso. Com uma escuta atenta, afeto sincero e domínio sobre a Justiça Restaurativa, criaram um espaço onde me senti à vontade para refletir, partilhar e crescer. Cada encontro conduzido por elas foi um convite à reconexão comigo mesmo e com os colegas. Levo comigo não apenas os ensinamentos, mas também o exemplo de duas educadoras que acreditam, de verdade, na Justiça Restaurativa.

Ingrid dos Santos Mota, participante da formação, destacou como o curso lhe proporcionou uma mudança significativa de visão: “Depois do curso, passei a entender que é possível intervir de forma não violenta, acolher, ouvir todas as partes envolvidas. A Justiça Restaurativa não é uma solução mágica. Ela oferece um espaço seguro e mediado, onde as pessoas podem expressar sentimentos, compreender o que aconteceu, assumir responsabilidades e buscar, juntas, caminhos para a reconstrução das relações, em vez de simplesmente punir.”

Luciano Rodrigues de Amorim Neto, também participante do curso, falou de sua experiência como profundamente transformadora: “Participar do curso de facilitadores de Justiça Restaurativa foi um divisor de águas, tanto no aspecto pessoal quanto profissional. Aprendi sobre escuta ativa, empatia e corresponsabilidade, pilares fundamentais para relações mais humanas. Os círculos restaurativos me mostraram que conflitos podem ser oportunidades de cura e reconexão. Além disso, a troca com os colegas fortaleceu em mim o senso de comunidade e propósito. Saio do curso mais preparado para contribuir com uma cultura de paz e justiça”.

Logo após a cerimônia de encerramento do curso, perguntei à professora formadora Nayluce de Lima quais seriam, na visão dela, os maiores desafios para colocar em prática a Justiça Restaurativa nas escolas. Com clareza e firmeza de pensamento, ela respondeu: “Talvez o maior desafio seja o desconhecimento por parte de alguns profissionais da escola: gestores, pedagogos, professores, o que torna essencial apresentar a JR a toda a equipe, sem exceção. E quando digo toda a equipe, incluo os profissionais da limpeza, as merendeiras, os porteiros. Quanto mais pessoas conhecem a proposta da Justiça Restaurativa, maior é o seu alcance e mais eficaz se torna sua aplicação”.

Por fim, ao refletir sobre a minha participação no curso, percebi que o maior ensinamento que tirei e carregarei comigo para sempre foi este: a transformação começa em nós. E se queremos uma escola mais humana, mais justa e mais acolhedora, precisamos primeiro olhar para dentro de nós mesmos e reconhecer nossas próprias feridas, nossos limites e também nossa potencialidade de restaurar, porque, no fim das contas, educar é isso: um ato de fé no outro. E esse curso me ajudou a renovar essa fé. Quero colocar a Justiça Restaurativa em prática no meu trabalho, na escola, na família e na vida. Que assim seja, amém!

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025).

Instagram: @luislemosescrito

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