
Após a prisão de três suspeitos pelo assassinato de Mãe Bernadete, lideranças quilombolas pressionam pelo esclarecimento das motivações do crime, ainda não reveladas. A Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), da qual Bernadete era uma das coordenadoras, celebrou a resposta rápida com as prisões, mas frisou que agora é preciso avançar na investigação sobre os mandantes.
— Nos fica a pergunta de por que foi motivado esse assassinato e quem mandou matar Mãe Bernadete. Entendemos que um dos motivos desse crime foi a disputa territorial. Essa região tem muitas empresas, interesses e a gente precisa saber quais desses interesses podem estar por trás ou não do assassinato. Cabe avançar nesse processo de investigação para apurar e condenar não só quem cometeu o assassinato hediondo, mas punir também quem mandou — afirmou Biko Rodrigues coordenador Executivo da Conaq.
Rodrigues destacou que as prisões anunciadas nesta segunda foram importantes por configurarem uma “resposta imediata” do estado
— O assassinato de Mãe Bernadete, na forma cruel que foi, de uma liderança quilombola de 72 anos, uma ialorixá, provocada por disputa territorial, entendemos que precisava de uma resposta mais rápida possível, não só para a família como para toda a sociedade brasileira. Porque assassinatos como esse não devem existir e tem que ter prontidão muito rápida por parte do estado — complementou.
Nesta segunda, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia anunciou a prisão dos três suspeitos do assassinato. Um, que teria sido o executor, confessou o crime aos policiais. Já os outros dois tiveram, segundo a declaração do secretário de Segurança, participações indiretas: enquanto um teria guardado e escondido as armas usadas no crime, o outro foi preso por receptação dos celulares que foram levados da casa da vítima naquela noite.
O secretário Marcelo Werner disse que uma possível motivação foi declarada pelo suposto executor, mas que a versão ainda não pode ser corroborada pela investigação. Por isso, ele não deu detalhes à imprensa.
Família cobra informações
Nesta tarde, a família dará uma coletiva de imprensa, às 17h30, sobre o caso. Os advogados e o filho de Bernadete, Jurandir Pacífico, vêm se queixando da falta de informações repassadas pela polícia. Ao saber da notícia das prisões, Jurandir se dirigiu à delegacia no início desta tarde.
— Eu estou sem saber de nada até o momento, tenho que aguardar — afirmou o filho, que disse não saber nem mesmo como a polícia chegou nos suspeitos, ao GLOBO.
haverá uma coletiva de imprensa da defesa (Instituto Malê de Acesso à Justiça e Cidadania [IMAJ]) e dos familiares de Mãe Bernadete hj às 17:30 na entrada do Fórum Rui Barbosa (Nazaré/Campo da Pólvora)
Prisão dos suspeitos
As prisões foram anunciadas pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, em coletiva de imprensa em Salvador. De acordo com ele, e com os demais investigadores envolvidos no caso, cada suspeito teria uma participação diferente no crime. Um deles é suspeito de ser um dos autores dos disparos que mataram Mãe Bernadete. Encontrado pela equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa em Araçá, a cerca de 100km de Salvador, ele confessou o crime, chegou a revelar a motivação aos policiais, mas a informação ainda é tratada com cautela.
– Ele fala o motivo, mas precisamos saber se condiz com a verdade. Qualquer informação passada agora pode não ser a verdade – disse a delegada-geral de Polícia Civil da Bahia, Heloísa Brito.
O segundo suspeito teria guardado e escondido as armas usadas no crime. O armamento foi encontrado e apreendido, e o homem foi preso por porte ilegal de armas. Um terceiro foi preso por receptação dos celulares que foram levados da casa da vítima naquela noite. A Polícia Civil ainda procura por ao menos um quarto suspeito de participação no crime, que também teria feito disparos contra Mãe Bernadete.
Os suspeitos, diz a polícia, pertencem a uma quadrilha ligada ao tráfico de drogas e à pistolagem na região. O secretário Marcelo Werner disse que há ainda diferentes linhas de investigação sobre a motivação.
– Nós temos algumas linhas ainda de investigação em andamento. Se a gente antecipar qualquer uma dessas linhas, pode ser prejudicial, vai ser prejudicial à investigação. Então, a gente segue as investigações porque existem ainda outras medidas cautelares em andamento. Nós temos não só equipes trabalhando agora em campo em busca de outros elementos, mas de outras pessoas para serem ouvidas também. Temos recebido diversas informações através de denúncias ao 181, que estão sendo reportadas à equipe de investigação para apuração, inclusive a possível identificação, localização do outro executor – disse.
Com informações de: O Globo







