Durante abertura da cúpula de chefes de Estado do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso dotado de convicções e projetos. Em sua fala, o agora titular da presidência do bloco afirmou que é importante que o Mercosul apresente à União Europeia uma resposta firme e contundente ao acordo de livre comércio.
“O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente”, defendeu Lula aos presentes na solenidade.
O petista ainda foi enfático ao dizer que o bloco não vai se satisfazer apenas com o “eterno papel de exportadores de matérias-primas” e que, para que possam exigir isso em negociações, é preciso de maior “integração e articulação”.
“É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado, um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta. Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo. Precisamos de políticas que contemplem uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação. Isso requer mais integração, a articulação de processos produtivos e na interconexão energética, viária e de comunicações”, pontuou Lula.
Mais cedo, durante participação do programa semanal Conversa com o Presidente, Lula também se queixou sobre os diálogos que teve com pares europeus. O mandatário salientou que não será feito tratado um tratado em “que eles ganhem e a gente perca”.
“Nós não aceitamos a carta, e agora estamos preparando uma outra resposta. Vamos a Bruxelas discutir com a União Europeia e os países da América Latina, e precisamos ter uma resposta do que nós queremos para consolidar um acordo. Queremos fazer uma política de ganha-ganha, não queremos fazer uma política que eles ganhem e a gente perca”, reafirmou Lula.
Durante a cúpula na Argentina, o Brasil assume a presidência temporária do Mercosul, e a relação com os europeus deve ser tema central da discussão.
Na gestão no bloco, o governo brasileiro deve reforçar a “vontade política” para destravar o acordo de livre comércio com a União Europeia, emperrado há mais de duas décadas, além de costurar outros tratados comerciais na tentativa de reafirmar o protagonismo regional.
Segundo o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, o Brasil chegará à cúpula com o objetivo de reafirmar vontade política para discutir o tema, mas ciente de que serão necessários ajustes nos textos já negociados entre as partes envolvidas.