Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo

O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, não tem dúvidas de que o governo errou na comunicação das medidas que acabaram com a isenção para compras em plataformas de comércio eletrônico asiáticas. Para ele, o anúncio deveria ter focado no impacto que esse varejo predatório provoca sobre o mercado de trabalho brasileiro.

Em suas pesquisas e sondagens, o Instituto tem dados que mostram o risco para a popularidade do governo: 82,6 milhões de eleitores do país, cerca de 53%, já fizeram compras nas redes Ali Express, Shein e Shopee. Esse número é maior do que os votos de Lula na última eleição presidencial.

Meirelles tem entre seus clientes redes de varejo brasileiras e defende a medida como correta. Mas alerta sobre os impactos no curto prazo para o governo, por causa dessa falha na comunicação:

– A medida tem um potencial grande de estrago a curto prazo para o governo. Mas a longo prazo, vai contribuir para a geração de empregos e para melhora no serviço público.

Foto: Reprodução/ Google imagens

Veja abaixo a entrevista na íntegra:

O anúncio pode ter efeito sobre a popularidade de Lula?

Os estudos sobre o comércio digital mostram que 89% dos eleitores conhecem algum tipo de plataforma de compra online estrangeira. Cerca de 53% deles, aproximadamente 82,6 milhões, mais do que os votos no presidente, já fizeram compras pela Ali Express, Shein e Shopee. Então, a medida tem um potencial grande de estrago a curto prazo no governo. Mas a longo prazo, vai contribuir para a geração de empregos e para melhora no serviço público.

Houve erro de comunicação?

Sim. O primeiro erro foi usar o nome imposto ou tributação, que fatalmente afasta a opinião pública. Ninguém acha que imposto é positivo, é um nome ruim. As medidas foram apresentadas como algo que resolve o caixa do governo, e o correto seria dizer que a ideia é flagrar sonegadores de outros países, grandes empresas que hoje estão irregulares no Brasil e ficam ricas às custas da nossa população pela não cobrança de impostos.

Qual teria sido o melhor caminho?

O governo poderia ter falado que esse tipo de regulamentação assegura que os consumidores possam saber a origem real dos produtos, se tem ou não trabalhos análogos à escravidão, se tem compromissos com a sustentabilidade.

A regulamentação garante que os pequenos e médios comerciantes brasileiros não sejam prejudicados porque resolve uma competição desleal que existe entre os empreendedores de outros países e os empreendedores brasileiros que pagam imposto quando vendem nos marketplaces nacionais.

Ele poderia afirmar que a medida garante a preservação de empregos no Brasil e a geração de renda pelos grandes magazines e lojas nacionais. E, por fim, perguntar aos consumidores se eles acham justo que mais R$ 20 bilhões, que deveriam ser investidos em educação e saúde, sejam reembolsados por empresas que não pagam imposto no Brasil.

Como enxerga a pressão sobre o governo?

O governo está no início e essa medida é importante para a retomada do emprego, para as contas públicas e a retomada dos programas sociais.

Estabelecer quotas de compras pelos consumidores seria alternativa?

Seria pior para a arrecadação e não mudaria quase nada em relação aos estragos na popularidade de Lula. Além disso, o problema continuaria.

Como foram feitas as pesquisas do Instituto Locomotiva?

Temos dados que pertencem a clientes, e também perguntas incluídas em outras pesquisas. Ouvimos 2.502 brasileiros (16 anos ou mais) em 107 cidades de todo o Brasil. Margem de erro de 2 p.p. em um intervalo de confiança de 95%.

Com informações de: O Globo

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