
Por Carlos Santiago
Entram governantes e saem governantes e o Amazonas continua dependendo economicamente do modelo Zona Franca de Manaus. O Estado não produz nem toda farinha, peixe, tomate, cheiro verde e limão que consome. Bananas, laranjas, mangas, melancias e outras frutas consumidas no cotidiano e, que são compradas nos supermercados, têm etiquetas de outros estados. Repito: entram governantes e saem governantes.
Lugar do medo. Imagens de assaltos violentos, latrocínios e homicídios já se transformaram em espetáculos diários nas redes sociais. Facções tomam conta de bairros da capital e de áreas de municípios do interior. Muitas delegacias não funcionam 24 horas e milicianos já operam. O trânsito segue matando e sequelando muita gente. Repito: governantes assumem e governantes saem.
Unidades de saúde lotadas. Filas para exames e para cirurgias, além de doentes pobres das cidades do Amazonas trazidos em barcos sem estrutura para conseguir a necessária consulta na capital com o médico especialista. Mortes na Covid-19 e sequelas causadas por ineficiências de gestores públicos ainda ocorrem em muitas famílias. Repito: governantes assumem e governantes saem.
A educação não tem bons indicadores nacionais. Metas obrigatórias do Plano Nacional de Educação não foram alcançadas. O tamanho da população ainda analfabeta em pleno século XXI é um absurdo. Professores aguardando promoções. Discentes ministrando aulas em outras áreas de suas formações e escolas sem computadores ou sem um simples retroprojetor estão sempre na ordem do dia. Repito: entram governantes e saem governantes.
Extrema pobreza assola parcela significativa da maioria da população. Programas de transferência de dinheiro estadual e federal não suprem todas as necessidades. Governos fazem propagandas das refeições oferecidas em restaurantes populares. Cresceu o número de pedintes em todas as áreas de Manaus. Pessoas morreram com as chuvas e milhares estão vivendo em áreas de risco esperando um milagre para não morrer ou não perder o pouco que conseguiram na vida.
A população cresceu enormemente na última década. O Amazonas teve um crescimento acima da média nacional. O número dos habitantes do município de Manaus disparou, sendo um dos mais populosos do Brasil e o maior da Região Norte, impactando na organização urbana e nos serviços públicos, expondo também a falta de planejamento governamental entre os entes da federação. Repito: entram governantes e saem governantes.
Municípios não possuem um plano ou programa para a destinação do lixo, nem leis ou pessoas qualificadas para combater o desmatamento e as queimadas criminosas, muito menos programa fundiário. O saneamento básico na capital e no interior ainda precisa avançar. O centro histórico de Manaus está sem o devido cuidado, quase abandonado. Repito: entram governantes e saem governantes.
Alguns órgãos públicos foram fatiados por grupos familiares ou por estamentos. Penduricalhos financeiros são pagos aos poderosos, parlamentares trabalhando pouco, sem ânsia para fiscalizar os outros poderes, mas crescem as mordomias e os subsídios são atualizadíssimos. Há, implicitamente, uma disputa para saber quem mais fura o teto constitucional sobre remuneração no serviço público. Repito: entram governantes e saem governantes.
Porém, nesse movimento de entrada e de saída dos governantes, há sempre um mantra. O Terceiro Ciclo já passou. A Zona Franca Verde também já passou. Ronda nos Bairros já deu. O Novo na Política está desacreditado. O homem com a Ficha Limpa, o documento sem mácula, não empolga mais.
Talvez, seja por isso que Marina Silva e a BR-319 viraram mantras. Há agressões verbais, insinuações sobre o interesse dela sobre o petróleo mundial e foi até registrado um dedo de um deputado estadual mirando o rosto dela.
Pois bem. Enquanto Marina Silva não concorda com os seus atuais divergentes e parte da BR-319 não é asfaltada há décadas, bem que os governantes com mandatos poderiam melhorar a qualidade da gestão pública do Estado e a vida dos Amazonenses nas áreas que não precisam da ministra Marina e nem do asfalto da BR-319. Repito: entram governantes e saem governantes.
Carlos Santiago é Sociólogo, Cientista Político e Advogado.