Médica Juliana Brasil Santos (à esquerda), o menino Benício Xavier (ao centro) e a técnica de enfermagem Raiza Bentes (à direita), que serão colocadas frente a frente em acareação nesta quinta-feira (4) no 24º DIP.

A investigação sobre a morte do menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, dá um novo passo nesta quinta-feira (4), quando a médica Juliana Brasil Santos e a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva serão colocadas frente a frente em uma acareação no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), em Manaus. A medida foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins, responsável pelo caso, após a constatação de divergências relevantes entre os depoimentos das duas envolvidas no atendimento.

Segundo o delegado, os relatos apresentados por cada profissional sobre o momento da administração da adrenalina — que deveria ter sido inalatória, mas foi aplicada diretamente na veia da criança — são incompatíveis e precisam ser confrontados diretamente.

“Identificamos contradições nos depoimentos de ambas. Por isso, agendamos a acareação para esclarecer ponto a ponto o que cada uma afirma ter ocorrido”, explicou.

Martins destacou que a acareação servirá para reconstruir com maior precisão a dinâmica do atendimento no Hospital Santa Júlia.

“Cada uma relata, do seu ponto de vista, fatos que diferem. A acareação existe justamente para sanar essas dúvidas e permitir que o inquérito avance com clareza”, afirmou.

Vídeo apresentado pela defesa não altera investigação

A defesa da médica havia apresentado um vídeo alegando falhas no sistema informatizado do hospital, que supostamente teria alterado automaticamente o registro da via de administração da adrenalina. Para os advogados, Juliana teria prescrito o medicamento por via inalatória, e o sistema teria mudado para intravenosa sem sua ciência.

O delegado, no entanto, afirmou que o conteúdo entregue não muda o curso da investigação. O inquérito segue focado na análise técnica sobre a diferença entre as vias de uso da adrenalina — sendo a via intravenosa indicada apenas para situações críticas, como parada cardiorrespiratória — e no impacto da aplicação inadequada no organismo da criança.

Polícia apura suspeita de adulteração de provas

Além da prescrição incorreta, a Polícia Civil também apura uma possível tentativa de adulteração de provas pela médica. De acordo com o delegado Marcelo Martins, pelo menos três profissionais de saúde afirmaram ter percebido indícios de manipulação.
“Esses relatos nos chamaram atenção, e estamos aprofundando essa frente de investigação”, disse.

Reconhecimento do erro e sequência da apuração

Benício morreu na madrugada de 23 de novembro após receber a dose inadequada de adrenalina. A própria médica reconheceu o erro em um documento enviado à polícia e em mensagens trocadas com o médico Enryko Queiroz, embora sua defesa alegue que tal admissão ocorreu “no calor do momento”.

O caso permanece sendo investigado pela Polícia Civil e também pelo Ministério Público do Amazonas (MPAM).

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