Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, cuja morte no Hospital Santa Júlia está sendo investigada pela Polícia Civil.

Um médico, que terá a identidade preservada, ouvido na última quinta-feira (27) no 24º Distrito Integrado de Polícia, afirmou categoricamente que a prescrição de adrenalina feita pela médica Juliana Brasil Santos ao menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, “não encontra respaldo médico”.

Segundo o documento, a médica prescreveu 9 mg de adrenalina intravenosa, divididos em três doses de 3 mg a cada 30 minutos, algo completamente incompatível com os protocolos de atendimento pediátrico.

O médico declarou que, quando confrontou Juliana sobre a indicação, ela confirmou verbalmente a prescrição, que também constava no prontuário eletrônico.

Ele explicou ainda que, em situações de laringite — quadro que Benício apresentava — a adrenalina é utilizada somente por via inalatória, por nebulização, com dosagem máxima de 5 ml por dose para uma criança com o peso de Benício (21 kg).

O depoente, que também é professor de pediatria, reforçou que esse é o limite seguro e clinicamente aceito.

Falha na cadeia de checagem do hospital é destacada

O médico foi enfático ao afirmar que houve falha na cadeia de checagem, sistema que deveria impedir erros como o registrado.

No depoimento, ele detalhou que o Hospital Santa Júlia utiliza um sistema eletrônico onde a via de administração é selecionada por clique, e não digitada. Isso pode fazer com que o sistema interprete de forma equivocada a via indicada, alterando automaticamente para “intravenosa”, sobretudo quando se trata de medicamentos sensíveis como adrenalina.

Apesar disso, ele foi claro:

“É obrigação do médico checar a prescrição, conferindo a correção dos termos antes da administração.”

O médico também afirmou que todos os profissionais envolvidos — médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos — possuem prerrogativa para questionar eventuais dúvidas acerca do medicamento antes da aplicação, o que não aconteceu.

Ao analisar o quadro clínico apresentado por Benício, o profissional declarou que há grande probabilidade de que a overdose de adrenalina tenha sido uma das causas das paradas cardiorrespiratórias sofridas pela criança.

Tentativa de reversão e ausência de antídoto

O documento mostra ainda que o médico tentou contato com o cardiologista pediátrico do hospital para buscar algum medicamento que pudesse neutralizar a ação da adrenalina, mas não existe substância capaz de reverter seus efeitos tóxicos.

O protocolo adotado foi apenas suporte intensivo:

  • hidratação;
  • oxigênio;
  • monitorização contínua.

Mesmo assim, o estado da criança evoluiu rapidamente para gravidade.

Falha na cadeia de checagem é apontada em depoimento

O médico também chamou atenção para o que classificou como falha na cadeia de checagem dentro do fluxo de atendimento. Na avaliação dele, não houve uma verificação adequada, em etapas sucessivas, da prescrição antes da administração do medicamento na criança.

Entre os pontos citados estão:

  • a necessidade de conferência rigorosa da prescrição médica por outros profissionais de saúde;
  • a checagem de dose, via de administração e possíveis riscos ao paciente;
  • a responsabilidade compartilhada entre médico, enfermagem e estrutura hospitalar na prevenção de erros.

Para o depoente, se o protocolo de checagem tivesse sido seguido de forma completa, eventuais inconsistências na prescrição poderiam ter sido identificadas e corrigidas antes da aplicação da medicação em Benício.

Caso segue sob investigação

A morte de Benício Xavier de Freitas segue sendo investigada pela Polícia Civil do Amazonas como possível resultado de falha no atendimento médico. A médica Juliana Brasil Santos é alvo de apurações sobre a conduta adotada durante o atendimento à criança no Hospital Santa Júlia.

O depoimento do médico, prestado no 24º DIP, passa agora a integrar o conjunto de provas analisadas pelas autoridades. A polícia deve continuar ouvindo profissionais de saúde, familiares e representantes da unidade hospitalar, além de periciar documentos e prontuários para esclarecer se houve erro na prescrição ou na execução do tratamento e se a cadeia de checagem realmente falhou.

As conclusões do inquérito vão apontar se os responsáveis pelo atendimento deverão responder civil e criminalmente pela morte do menino de 6 anos, cuja família cobra justiça e transparência em todas as etapas da investigação.

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