A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) iniciou nesta segunda-feira (10) uma nova capacitação sobre “Abordagem da Hanseníase na Atenção Primária à Saúde (APS)”. A programação, que segue até terça-feira (11) no Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam/Unidade Galiléia), no bairro Cidade Nova, é direcionada para médicos e enfermeiros que atuam em unidades de saúde da zona Norte de Manaus.
Segundo a chefe do Núcleo de Controle da Hanseníase da Semsa, enfermeira Ingrid Santos, a capacitação faz parte do processo de Educação Permanente na rede municipal e tem como objetivo fortalecer o trabalho das equipes de saúde na detecção de casos novos de hanseníase, assim como intensificar a busca dos contatos familiares e sociais de pacientes registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/Ministério da Saúde) e mobilizar as equipes para as ações no ambiente escolar envolvendo o Projeto do Autoexame de Pele Virtual.
“A intenção é fortalecer o conhecimento clínico dos profissionais que atuam na Atenção Básica para o diagnóstico da hanseníase, garantindo que todos os profissionais nas unidades de saúde estejam atentos e preparados para identificar casos suspeitos e realizar o diagnóstico da doença. Na faculdade, o aluno tem um resumo do que é hanseníase, mas é a prática diária que vai fortalecer o conhecimento e a educação permanente faz parte desse processo”, explicou Ingrid Santos.
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen. A transmissão da doença ocorre quando uma pessoa doente, sem tratamento, elimina o bacilo por meio de secreções nasais, tosses ou espirros, transmitindo para pessoas sadias que convivem próximo e por tempo prolongado no mesmo ambiente. Por isso, os contatos dos pacientes, familiares e sociais, devem ser acompanhados nos serviços de saúde por um período de cinco anos para que, se houver a transmissão, a doença possa ser diagnosticada precocemente.
O município de Manaus já registrou este ano 92 casos novos de hanseníase, incluindo oito em menores de 15 anos, mantendo uma proporção de cura de 92,42% e uma taxa de abandono de tratamento de 3,03%.
“Entre 2020 a 2022, o Distrito de Saúde Norte, que abrange as UBSs dos bairros da zona Norte de Manaus, tem registrado 47 casos de hanseníase em tratamento, com o total de 432 contatos registrados no Sinan e que devem ser acompanhados por profissionais de saúde e examinados anualmente por um período de cinco anos, o que vai permitir o diagnóstico em tempo oportuno para evitar sequelas da hanseníase”, informou Ingrid Santos.
Autoexame de Pele Virtual
O técnico responsável pelo Programa de Controle da Hanseníase no Disa Norte, enfermeiro Ramatis Camurça Ferreira, destacou que a capacitação também tem como objetivo orientar os profissionais sobre a execução do projeto do Autoexame de Pele Virtual, que foi idealizado para alcançar 150 mil estudantes nas instituições de ensino que integram o Programa Saúde na Escola (PSE), abrangendo 196 escolas municipais e 61 estaduais.
Pelo projeto, os pais dos alunos podem responder um questionário on-line, em que é possível indicar se o estudante apresenta sintomas da hanseníase, como manchas na pele e possíveis lesões na pele ou nos nervos. A partir das respostas no questionário, os profissionais de saúde analisam as informações para identificar casos suspeitos de hanseníase ou outras dermatoses.
“O Disa Norte tem cerca 42 mil alunos para alcançar, sendo que já foram avaliados cinco mil questionários respondidos pelos pais. Desse total, foram identificados 200 casos de dermatoses e 15 casos com sintomas suspeitos de hanseníase. Todos serão avaliados por uma equipe de saúde e encaminhados para o tratamento necessário. E a capacitação é importante na qualificação dos profissionais do PSE para que possam atuar na avaliação dos questionários on-line”, afirmou o enfermeiro.
A dermatologista Rosa Correa, que atua no Núcleo de Controle da Hanseníase e conduziu a capacitação, lembrou que o mesmo processo de qualificação já aconteceu junto aos profissionais do Disa Sul e que vai envolver também os Disas Leste, Oeste e Rural.
“É importante estarmos qualificando os profissionais, lembrando as informações sobre a doença e os exames que devem ser realizados, para que possam atender a população, nas escolas e também no consultório. A hanseníase afeta a pele e principalmente os nervos. Se não for diagnosticada e tratada, a pessoa vai ficar com sequelas para o resto da vida”, alertou Rosa Correa.
Na fase inicial da doença, a hanseníase é caracterizada por lesões na pele e nervos que causam diminuição ou ausência de sensibilidade. Em estágios mais avançados pode ocorrer, entre outros sintomas, formigamentos, câimbras, dor ou espessamento dos nervos periféricos, principalmente nos olhos, nas mãos e nos pés, com diminuição ou perda de força muscular, inclusive nas pálpebras.
A médica Daniele Melo, que trabalha na Unidade Básica de Saúde Arthur Virgílio, no bairro Novo Aleixo, participou da capacitação e destacou a importância da Educação Permanente, que mantém o alerta dos profissionais de saúde na identificação de casos suspeitos da hanseníase.
“Nunca um paciente chega na UBS com queixa por suspeita de hanseníase. Eles chegam por outras queixas e nesse momento é que fazemos a captação. Eu atendi este ano três casos, um foi de paciente solicitando laudo para natação e no exame de pele identifiquei mancha suspeita para a doença. O segundo caso foi de paciente em consulta de rotina, quando percebi uma mancha na pele e fiz o exame. Já o terceiro caso foi referenciado por profissional de fisioterapia que participou de uma capacitação sobre hanseníase e identificou sintoma suspeito no paciente”, contou Daniele Melo.