Fernando Frazão/Agência Brasil

Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelam que um lobista tentou intermediar um empréstimo de R$ 300 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), utilizando documentos fraudulentos para beneficiar donos de fintechs suspeitas de lavagem de dinheiro, entre elas a I9Pay.

O conteúdo foi apreendido durante as investigações da Operação Concierge, deflagrada em agosto de 2024, que apura a movimentação ilícita de mais de R$ 7,5 bilhões por meio de empresas de fachada e instituições financeiras não autorizadas. A I9Pay é uma das fintechs investigadas.

Tentativa de fraude

De acordo com a PF, o empresário Patrick Burnett, dono da I9Pay, e o lobista Christian Simões articulavam um plano para obter um empréstimo multimilionário do BNDES utilizando balanços financeiros falsificados, com informações que inflavam artificialmente o capital da empresa para R$ 6 milhões. A fraude incluía também a ocultação de um déficit financeiro no relatório contábil da fintech.

As mensagens mostram a confiança do lobista na liberação do dinheiro. Em um dos trechos, Simões afirma:

“Agora vou abrir o coração pra você: conversei com a Tainá e você tem lá trezentos milhão mesmo viu meninão! Vou buscar esse dinheiro pra você, tá?”

Burnett responde:

“Bom, eu tô com a senha aqui, sexta-feira eu estou com o mago, já pra estruturar números… vou dar a entrada com cento e sessenta, tá? E aí vai bingar!”

Operações da PF

Christian Simões foi posteriormente alvo da Operação Wolfie, deflagrada em outubro de 2024, como desdobramento da Concierge. A investigação segue sob sigilo de Justiça, mas documentos aos quais o portal Metrópoles teve acesso apontam que a rede de fintechs envolvida operava contas bancárias irregulares, facilitando a movimentação de recursos ilícitos fora do alcance dos mecanismos de controle do Banco Central.

Entre os clientes dessas instituições estavam empresas de ônibus de São Paulo associadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo apurações da PF.

Suspeita de influência no BNDES

As mensagens interceptadas fazem referência a funcionários do BNDES, incluindo uma mulher identificada como Tainá, levantando a suspeita de que servidores da instituição teriam facilitado a tentativa de fraude. Em uma das conversas, o lobista menciona ter uma “boquinha” no banco:

“Eu confio no que você fala, entendeu, e eu não quero queimar essa boquinha minha do BNDES não.”

Apesar das alegações, não há registros de entrada de Simões nas dependências do BNDES. Uma das linhas de investigação da PF é a de que o lobista teria apenas simulado influência interna para obter vantagens financeiras.

Em outro trecho, Simões promete a liberação do crédito:

“Olha, até outubro seu dinheiro está na mão, tá? Foi o prometido. O seu está garantido no seu e mais três”, disse, sugerindo envolvimento de terceiros dentro da instituição.

Posição do BNDES

Em nota, o BNDES afirmou que seus mecanismos de compliance foram eficazes e barraram a tentativa de fraude. O banco também declarou ser vítima no caso e reforçou que colabora integralmente com a investigação da Polícia Federal.

A apuração segue para esclarecer o grau de envolvimento dos suspeitos e eventuais conexões com servidores públicos.

Com informações de Metrópoles

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