Por meio do Seminário “Perspectivas do Setor Funerário do Amazonas”, que reuniu na última sexta-feira (4) empresários, professores, estudantes e especialistas da área funerária e ambiental, debateu-se as problemáticas em torno dos cemitérios da cidade, que estão à beira de um colapso pela falta de espaço disponível para novas sepulturas; e os desafios das empresas funerárias e do poder público para novos investimentos no setor, diversificando os serviços e ampliando espaços, além da possibilidade de construção de cemitérios verticalizados ou de crematórios na cidade, organizando essa área que movimenta R$ 2 bilhões por ano no País, uma vez que morre cerca de um milhão de brasileiros todos os anos, sendo 9,5 mil somente em Manaus.
O objetivo desse Seminário foi debater sobre as oportunidades de crescimento do setor, além da necessidade de se pensar o sistema funerário do Estado. A capital amazonense tem somente dez cemitérios públicos, porém, apenas um – Cemitério Nossa Senhora Aparecida (Parque Tarumã) – tem espaço disponível para novas sepulturas, mas foi construído em 1986 e realiza cerca de 18 sepultamentos ao dia. “Se algo não for feito, em menos de dois anos, Manaus poderá entrar em colapso do sistema funerário. Nossa intenção também é conscientizar as empresas e à sociedade para a necessidade de transformar um funeral num evento mais humanizado, com uma atenção maior à saúde, pois alguns velórios são feitos em residências e igrejas, sem a devida atenção e cuidado às normas do sistema funerário, já que pode colocar em risco a vida da população”, alertou o presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Amazonas (Sefeam), Manuel Viana, entidade realizadora do debate, que aconteceu em parceria com o Centro Universitário Luterano de Manaus (Ceulm/Ulbra), no auditório da própria universidade.
Como um dos palestrantes da noite, o secretário Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), Paulo Farias, que falou sobre o tema “A legislação e o sistema funerário em Manaus”, confirmou essa crítica situação em torno dos cemitérios, mas propôs uma parceria entre a Prefeitura de Manaus e as empresas funerárias para a gestão desses locais, uma forma de superar as dificuldades. Por meio do Processo de Manifestação de Interesse (PMI), as empresas irão apresentar seus projetos para concorrer ao processo de licitação. “Queremos propostas para construir um edital que possa oferecer todos os serviços viáveis na nossa cidade. Necessitamos de outra perspectiva de atendimento, com padrões mais modernos e diversificados. Por isso, meu apelo aos empresários e ao Sindicato. Participem desse processo”, conclamou.
Ministrando a palestra “Impactos ambientais e arquitetônicos das edificações dos cemitérios de Manaus”, a consultora e professora de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra, Reny Moita, apresentou histórico mundial das sepulturas e sepultamentos, dizendo que as primeiras iniciativas na cidade de reunir seus mortos em um único local foram dos indígenas, em 1669, na área da Praça do Pedro, onde eram enterradas as urnas indígenas; e somente em 1966 é que foi construído o primeiro cemitério de Manaus, na área do Rio Negro Clube, em frente à Praça da Saudade.
“De lá pra cá, muita coisa mudou. Temos hoje dez cemitérios públicos e um privado, mas a realidade é preocupante. Todos foram construídos desordenadamente, sem planejamento, com a cidade crescendo ao redor, e muitos são os problemas e desafios do setor, principalmente, quanto aos aspectos sociais e ambientais. Não se preocuparam com o solo e com as possíveis contaminações e riscos à saúde por conta da decomposição dos cadáveres”, alertou Reny, referindo-se que ainda há outras questões a serem resolvidas, como: falta de acessibilidade dos cemitérios; desorganização das sepulturas e quadras; falta de manutenção desses locais, seja por parte dos familiares ou poder público; falta de segurança, já que são alvos de vandalismo; falta de velário, sob risco de constantes incêndios, por conta das velas acesas em qualquer lugar; e riscos de contaminação de mananciais. “O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) traz em sua legislação todas as normas e procedimentos para os projetos de cemitérios, mas que não são cumpridos na sua totalidade, o que é preocupante. Falta planejamento, fiscalização e uma maior sensibilização quanto às áreas de cemitérios”.
Serviços de utilidade pública e com excelência
Para o presidente da Associação das Empresas de Pax e Funerárias no Estado do Mato Grosso do Sul (AEPAF/MS), Ilmo Cândido, que ministrou a palestra “Situação e perspectivas do setor funerário no Brasil”, os serviços funerários são de utilidade pública e precisam ser prestados à população com excelência. “O mercado atual já deixa claro que funerárias não podem ser somente locais para comércio de urnas. Por isso, as empresas do setor devem atuar com diversificação e qualidade, respeitando todas as normas e legislações vigentes, e serem sempre parceiras das prefeituras, quem têm a chancela de legislar sobre o assunto”, esclareceu.
Com o tema “Agregando valor e ampliando os serviços ao mercado funerário”, o presidente do Sefeam, Manuel Viana, garantiu que as empresas funerárias da cidade estão expandindo seus serviços para que as famílias possam fazer o velório de seus entes queridos com decência. “Hoje, cinco laboratórios já fazem o serviço de tanatopraxia, que substituiu os ultrapassados embalsamentos, prolongando o tempo de velório; fazendo ainda tratamento de cadáver e até necromaquilagem. A festinha de um ano de uma criança é o primeiro grande evento de uma pessoa. E o último evento é na morte, mas que pode ser feito com tempo suficiente para a despedida, aliviando a dor e o sofrimento, mostrando para a sociedade que o valor sentimental é mais importante que o valor financeiro”.
O mediador desses debates foi o coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Ulbra, professor Gracielio Magalhães, que teve a participação de especialistas do setor, empresários, professores e estudantes da Ulbra/Manaus.







