Indígena da etnia Kokama foi mantida por nove meses em cela masculina da delegacia de Santo Antônio do Içá (AM), onde denunciou ter sido estuprada por policiais. Na imagem, ela aparece com outros presos em espaço insalubre e superlotado, onde ficou com o filho recém-nascido

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) ofereceu denúncia criminal contra cinco policiais militares e um guarda municipal acusados de estuprar, de forma sistemática e coletiva, uma mulher indígena da etnia Kokama. Os abusos teriam ocorrido entre novembro de 2022 e agosto de 2023, dentro da 53ª Delegacia Interativa de Polícia, em Santo Antônio do Içá, no interior do estado, onde a vítima estava presa com seu bebê recém-nascido.

A denúncia foi apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), pelo Gabinete de Assuntos Jurídicos (GAJ) Criminal e pela Promotoria de Justiça de Santo Antônio do Içá. O documento imputa aos acusados o crime de estupro de vulnerável (artigo 217-A do Código Penal), com agravante de abuso de autoridade (art. 61, II, “f”), uma vez que os autores se aproveitaram da função pública e da vulnerabilidade extrema da vítima, que não recebia qualquer tipo de assistência.

De acordo com o MPAM, os acusados usaram a estrutura institucional para cometer os abusos, além de intimidar a vítima e seus familiares, configurando um caso grave de violência institucional. Após a transferência da mulher para Manaus, parte dos denunciados teria tentado coagir a mãe da vítima a silenciar as denúncias.

A investigação reuniu provas contundentes, como laudos periciais, exames médicos-legais, avaliações psicológicas e testemunhos que confirmam a rotina de abusos enfrentada pela mulher, que foi mantida em cela masculina, sem condições mínimas de higiene, saúde ou apoio jurídico.

O caso ganhou repercussão nacional após ser divulgado pelo portal Sumaúma, o que levou o MPAM a agir rapidamente para garantir a responsabilização dos envolvidos. Segundo a procuradora-geral de Justiça, Leda Mara Albuquerque, o caso representa um marco na luta contra a violência institucional: “Estamos diante de uma atrocidade cometida contra uma mulher, mãe e indígena. Nosso papel é garantir justiça e evitar que casos como esse se repitam.”

Prisões e andamento do processo

Cinco dos seis acusados já foram presos preventivamente, em cumprimento a mandados expedidos pela Justiça menos de 24 horas após os pedidos do MPAM. O sexto policial, que atua em missão do governo federal em área remota, deverá ser preso assim que retornar a Tabatinga, conforme informou o Comando da Polícia Militar.

As prisões foram executadas por equipes da Polícia Civil e da Polícia Militar em Manaus, Tabatinga e Santo Antônio do Içá. A medida visa preservar a ordem pública, proteger a vítima e evitar a coação de testemunhas.

A vítima segue sob acompanhamento do Núcleo de Apoio às Vítimas e Vulneráveis (Naviv/Recomeçar) e da Defensoria Pública do Estado. O processo tramita em segredo de Justiça e seguirá agora para a fase de instrução e julgamento.

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