
As mudanças climáticas já alteram a paisagem no campo e o bolso dos produtores rurais no Brasil, onde o agronegócio tem um peso cada vez maior na economia. Lavouras no Rio Grande do Sul, por exemplo, começaram o ano enfrentando uma estiagem atípica e, agora, têm o plantio de culturas como a do arroz prejudicado pelo excesso de chuvas que provoca enchentes na Região Sul. No Norte, a seca mais severa em décadas castiga uma região conhecida pela abundância de água.
O clima sempre foi um fator de incerteza para produtores rurais, mas as alterações provocadas pelo aquecimento global aumentam ainda mais a demanda por algum tipo de proteção aos negócios do setor, mexendo com o segmento de seguros voltados para o campo.
Uma pesquisa recente encomendada pela Bayer, revelada pelo GLOBO, mostrou que mais de 70% dos fazendeiros entrevistados em oito países já tiveram prejuízos financeiros com fenômenos como seca, enchentes e ondas de calor. No Brasil, o índice chega a 84%. Apesar disso, apenas 10% da área cultivável do país têm seguro rural.
Subsídio insuficiente
Este ano, o programa de subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), do governo federal, que oferece ao agricultor a oportunidade de proteger sua produção com custo reduzido, deve crescer 10%, na média do mercado de seguros. Os recursos são insuficientes para a demanda . No início do ano, a estimativa era que essa modalidade cresceria 20% este ano.
— Há demanda grande, especialmente dos produtores do Sul, atingidos pelas chuvas. A expectativa era que o governo colocasse mais R$ 500 milhões, além do R$ 1 bilhão que oferece por ano, mas isso não aconteceu, e revisamos nossa projeção de crescimento do segmento — diz Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
As seguradoras buscam soluções específicas para o agronegócio, responsável pela maior parte das exportações do país. Paulo Hora, superintendente executivo de Resseguro e Produtos do Agronegócio na Brasilseg, uma empresa ligada à BB Seguros, controlada pelo Banco do Brasil, conta que parcerias com empresas de tecnologia, geotecnologia e modelagem de dados estão criando novas estratégias de análise e monitoramento de riscos ligados ao clima.
— Em 2022, tivemos crescimento de 51,8% em prêmios em relação ao ano anterior. O PSR ajuda a fomentar as principais modalidades de seguros para este setor — diz Hora.
Há proteção para mais de 30 cultivos contra perdas por eventos climáticos. Em julho, a Brasilseg lançou, por exemplo, um seguro para a produção de frutas e hortaliças, com indenização para danos causados por granizo.
Monitoramento do tempo
Na Bradesco Seguros, só no primeiro semestre deste ano, foram 28 mil apólices para equipamentos agrícolas, um crescimento de 4% em relação ao mesmo período do ano passado. Em prêmios, a arrecadação da empresa foi de R$ 23 milhões para o setor, alta de 22% na mesma comparação.
— Além de cobertura para acidentes, dano a equipamento de origem mecânica ou elétrica, também há proteção para causas climáticas como raios, vendaval, granizo, ciclone e até furacão — diz Raquel Cerqueira, superintendente executiva de Ramos Elementares da Bradesco Seguros.
A Swiss Re criou um seguro que limita a perda máxima do produtor agrícola em até 35%, com base no histórico de produção de cada região. Na Porto, o Seguro Patrimonial e o Penhor Rural, lançados recentemente, cobrem máquinas, placas solares e benfeitorias nas propriedades em caso de vendaval ou incêndio.
Em conjunto, as seguradoras brasileiras desenvolveram um projeto com ferramentas para mapear riscos climáticos em todos os estados. Uma das soluções é um mapa de calor que oferece uma visão simplificada da exposição geográfica brasileira ao aquecimento global, considerando dois cenários climáticos (aumento de 2°C e de 4°C na temperatura da Terra) e dois horizontes temporais distintos (2030 e 2050).
O projeto ajudará a identificar áreas mais impactadas por ondas de calor e de frio, secas, mudanças crônicas de temperatura, enchentes, alta do nível do mar, estresse hídrico, intensidade do vento e incêndios. E tudo isso ajuda na criação de novos seguros e na precificação de apólices.
— A ferramenta, já utilizada em países da Europa e nos EUA, será adaptada ao cenário de riscos do Brasil, escolhido por suas dimensões e pelo alto índice de seguros relacionados às questões ESG — diz Ana Paula Almeida Santos, diretora de Sustentabilidade e Relações de Consumo da CNseg.
Com informações de: O Globo







