Inicialmente, Maria tinha receio de dormir no cemitério, temendo que as almas pudessem “puxar seus pés”.
“Eu pensava que não ia dormir à noite. Imaginava que as almas vinham puxar meus pés. Mas nunca aconteceu, e nunca vi nada que me assombrasse. Ando qualquer hora da noite aqui e olha que é escuro que só. Mas não tenho medo de quem morreu, tenho medo de quem está vivo”, explicou Maria.
A casa onde Maria mora é simples e cheia de gatos e cachorros, além de outros animais abandonados que ela cuida, somando mais de 100.
A residência fica de frente para a rua e é separada dos túmulos por um portão. Com o passar do tempo, o casal se adaptou à rotina do cemitério, embora tenham enfrentado dificuldades, como a presença de insetos e aranhas-caranguejeiras, que provocaram uma forte alergia em Maria.
“Elas saem de dentro dos túmulos, e sou alérgica. Peguei uma alergia muito forte, e acabei mudando para outra casa por um tempo. Mas voltamos de novo. A gente foi se habituando. Hoje, está diferente, porque ele [o marido] era a única pessoa que tinha na vida”, desabafou.
Mudança para o Rio Grande do Norte
A filha de Maria mora em São Miguel, no Rio Grande do Norte, e Maria planeja se mudar para lá. A família está realizando uma campanha para ajudar nessa mudança, já que Maria não tem fonte de renda.
Ela tentou receber a pensão por morte do marido, mas descobriu que no sistema não consta que ele era contribuinte. Atualmente, Maria vive de doações de pessoas que conhecem sua história e moram nas proximidades.
Francisco era empregado por uma empresa que gerencia o cemitério em regime de concessão pública.
Em nota, a empresa Ômega informou que Francisco tinha carteira assinada e que a rescisão foi feita e paga devidamente à viúva e aos filhos.
A empresa acrescentou que prestou assistência funeral sem custo para a família e disponibilizou a ajuda necessária para a mudança de Maria para o Rio Grande do Norte.
No entanto, Maria diz que recebeu apenas R$ 500 por todos os anos de trabalho do marido.
“Durante o dia, vou levando a vida, mas, quando chega a noite, a solidão, a tristeza e o isolamento tomam conta de mim”, disse Maria.