
Na oitava reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) desde a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as expectativas do mercado foram confirmadas e a taxa básica de juros foi novamente reduzida pela autoridade monetária.
O corte nos juros foi de 0,25 ponto percentual, acompanhando as projeções da maioria dos analistas do mercado. Agora, os juros estão no patamar entre 3,5% e 3,75% ao ano.
Foi a terceira redução consecutiva na taxa de juros pelo BC dos EUA. Na reunião anterior do Fed, em setembro, o corte também havia sido de 0,25 ponto percentual.
A votação não foi unânime. Stephen Miran, novo integrante do Fed, indicado por Donald Trump, votou por um corte maior, de 0,5 ponto percentual, enquanto Jeffrey R. Schmid e Austan D. Goolsbee votaram pela manutenção da taxa de juros.
O que aconteceu
- Nesta quarta-feira (10/12), o colegiado anunciou a redução dos juros básicos da economia norte-americana em 0,25 ponto percentual. Com isso, a taxa agora se situa no intervalo de 3,5% a 3,75% ao ano.
- Antes de cortar os juros em suas três últimas reuniões, o BC dos EUA manteve a taxa inalterada por cinco encontros consecutivos.
- Este foi o terceiro corte de juros nos EUA sob o governo de Donald Trump, que teve início no dia 20 de janeiro de 2025.
- Antes de Trump assumir a Casa Branca, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado.
- Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.
- Esta foi a última reunião do Fed em 2025. O próximo encontro da autoridade monetária para definir a taxa de juros, o primeiro de 2026, está marcado para os dias 27 e 28 de janeiro.
O que diz o Fed
“Ao considerar a extensão e o momento de ajustes adicionais à meta para a taxa de juros dos fundos federais, o comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio de riscos. O comitê está firmemente comprometido em apoiar o máximo emprego e em retornar a inflação à sua meta de 2%”, diz o Fed no comunicado que acompanha a decisão.
“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o Comitê continuará monitorando as implicações das novas informações para as perspectivas econômicas. O Comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos”, prossegue o Fed no comunicado.
“As avaliações do Comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, bem como desenvolvimentos financeiros e internacionais.”
No comunicado, o Fed diz ainda que “o comitê busca alcançar o máximo emprego e uma inflação de 2% a longo prazo”. E alerta: “A incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada. O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e considera que os riscos de queda no emprego aumentaram nos últimos meses”.
Inflação estável nos EUA
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Segundo dados do Departamento do Trabalho, a inflação nos EUA ficou em 3% em setembro, na base anual, ante 2,9% registrados em agosto. Na comparação mensal, o índice foi de 0,3%, ante 0,4% em agosto.
Já o Índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE, na sigla em inglês), um dos indicadores monitorados com maior atenção pelo Fed, ficou em 0,3% em setembro, na comparação com o mês anterior. Em relação a setembro do ano passado, a inflação do consumo nos EUA ficou em 2,8%.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vinha se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.
Análise
Segundo Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, os dados mais fracos no mercado de trabalho nos EUA foram “suficientes para corroborar esse novo corte, mas as incertezas do que pode vir pela frente deixam dúvidas sobre os próximos passos”. “No momento, as apostas no mercado de juros apontam para uma pausa até meados do ano que vem, seguida de mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual até o final de 2026. Entretanto, existem riscos consideráveis para a materialização deste cenário”, avalia.
“De um lado, crescem as preocupações com a possibilidade de uma desaceleração mais importante na atividade econômica o que permitiria um maior afrouxamento monetário, envolvendo três ou quatro cortes de 0,25 ponto percentual”, explica Igliori. “Muito tem se falado de que uma correção nos preços de ações de empresas de tecnologia seja provável, o que contribuiria para esse cenário. Além disso, teremos a mudança na presidência do Fed em maio e a expectativa é que o novo mandatário tenha uma postura mais favorável a corte de juros.”
Para Igliori, também ainda existem “dúvidas sobre o cenário prospectivo para a inflação no ano que vem”. “Após importante queda até meados de 2023, os índices de inflação ao consumidor permanecem teimosamente acima da meta de 2% ao ano. O que não se sabe ao certo é quanto do impacto potencial das tarifas já está nos preços frente ao que pode aparecer nos próximos meses”, afirma. “Um eventual repique da inflação por conta de repasses das tarifas pode dificultar a redução de juros. Na fotografia atual, existe cerca de 35% de probabilidade implícita nos contratos de juros para termos, no máximo, um corte de 0,25 no ano que vem”, completa o economista.
Escalada de ataques de Trump ao Fed
Antes mesmo de tomar posse para seu segundo mandato na Casa Branca, Donald Trump já fazia críticas às decisões do Fed sobre a taxa de juros e defendia que os cortes fossem intensificados.
Já empossado presidente, em discurso durante o Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), Trump disse que trabalharia para que os juros nos EUA caíssem “imediatamente”.
Em novembro, após a confirmação da vitória de Trump sobre Joe Biden nas eleições, o Fed justificou a diminuição no ritmo de corte de juros afirmando que “as perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”. Na ocasião, o nome de Trump não foi mencionado.
Em meados de abril, Trump subiu o tom contra o chefe da autoridade monetária, Jerome Powell, e cobrou a redução da taxa de juros no país. “Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou.
No início de junho, Trump voltou a cobrar a queda dos juros e criticou Powell. Em declarações dadas durante um evento na Casa Branca, Trump negou que tivesse a intenção de demitir o presidente do Fed, mas criticou novamente o chefe da autoridade monetária e insinuou que pressionaria pelo corte dos juros.
Na semana anterior, o presidente dos EUA havia recebido o chefe do Fed para uma reunião na Casa Branca, em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.
Em julho, Trump voltou a criticar Powell. “As famílias estão sendo prejudicadas porque as taxas de juros estão muito altas e até mesmo o nosso país está tendo de pagar um juro mais elevado do que deveria por causa do ‘atrasado’”, escreveu em sua rede social, a Truth Social.
Em setembro, dias antes do primeiro corte de juros pelo Fed em 2025, Trump voltou a criticar o presidente do Fed e o chamou de “incompetente”.
No fim de outubro, o republicano voltou à carga contra Powell e se disse aliviado pela proximidade do fim do mandato dele na presidência do Fed, em maio do ano que vem. “Temos um chefe incompetente do Fed. Temos um cara ruim no Fed, mas ele sairá de lá em alguns meses e teremos alguém novo”, afirmou Trump.
O favorito para a sucessão de Powell
A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed.
Em outubro, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, revelou os cinco nomes que estavam disputando a indicação para a presidência do Fed. Os “finalistas” para disputar a indicação são os atuais membros do conselho do Fed Christopher Waller e Michelle Bowman; o ex-diretor do Fed Kevin Warsh; o diretor do Conselho Econômico Nacional os EUA, Kevin Hassett; e o executivo Rick Rieder, da gestora de ativos BlackRock.
Nas últimas semanas, no entanto, as bolsas de apostas para a sucessão de Powell se concentraram praticamente no nome de Kevin Hassett, hoje considerado o grande favorito para assumir o posto.
No início de dezembro, durante uma reunião na Casa Branca, Trump chegou a dizer que o provável sucessor de Powell na presidência do Fed estava presente – enquanto apresentava Hassett.
Trump disse também que anunciará o nome do seu indicado ao comando do BC norte-americano no começo do ano que vem. Segundo o republicano, a decisão já está praticamente tomada.
O principal cotado para a presidência do Fed foi economista sênior do BC dos EUA e pesquisador do American Enterprise Institute. Durante mais de duas décadas, Hassett fez parte do círculo de formulação econômica do Partido Republicano, de Trump.
Ele também foi conselheiro de ícones do Partido Republicano como os ex-senadores John McCain (1936-2018), em 2000, e Mitt Romney, em 2012, e também do ex-presidente dos EUA George W. Bush, em 2004. Hassett atuou ainda na Hoover Institution e foi professor da Columbia Business School.
Caberá a Trump fazer a indicação para a sucessão de Powell. O nome escolhido ainda terá de passar por uma sabatina no Senado norte-americano.










