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São Paulo — No ano de 2012, o Primeiro Comando da Capital (PCC) promoveu o assassinato de ao menos 106 policiais militares no estado de São Paulo. O massacre foi uma forma de resposta, por meio da violência, às mortes de criminosos provocadas por agentes públicos. À época, a facção também crescia financeiramente a partir do modelo logístico e hierárquico imposto por Marco Willian Herbas Camacho, o Marcola, com as chamadas “sintonias”.

A animosidade do grupo foi, no entanto, arrefecendo aos poucos, já que o PCC passou a priorizar esforços na obtenção de lucros, principalmente por meio do tráfico de drogas — sem abrir mão da truculência, mas deliberando e racionando o uso dela por meio de “tribunais do crime“.

Enquanto a organização criminosa brasileira se reinventava operacionalmente, nascia, em 2012, na penitenciária venezuelana de Torocón, o Tren de Aragua. O líder máximo da facção é Hector Guerrero Flores, o Niño Guerrero, foragido desde 2018 após escapar por túneis subterrâneos.

Em poucos anos, o Tren de Aragua se tornou o maior grupo criminoso do país e, também, parceiro de negócios do PCC. A expansão dos venezuelanos foi meteórica, ao ponto de serem classificados pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, como um grupo “narcoterrorista”.

Niño Guerrero, da mesma forma que as lideranças do PCC, comandava as ações do Tren de Aragua de dentro da cadeia — onde mantinha uma vida de luxo e ostentação, havendo casos em que ele chegou a sair do sistema, inclusive, para passear, mesmo em cumprimento de pena. A ele são atribuídos crimes de homicídio, sequestro, tráfico humano, de drogas e de armas.

Logística e violência

Pesquisador da Universidade de Coimbra e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa afirmou ao Metrópoles que a aliança entre o PCC e o Tren de Aragua reflete a complexa dinâmica entre as organizações criminosas — nesse caso na fronteira entre Roraima e a Venezuela.

O especialista destacou que o Tren de Aragua prosperou em meio ao contexto de caos político e econômico, que resultou na imigração de centenas de milhares de venezuelanos para o Brasil e outros países sul-americanos.

“A organização criminosa prospetou com o colapso da Venezuela, das instituições estatais, e com o crescimento dos mercados ilícitos, tanto do tráfico de drogas, armas e prostituição [que decorre no tráfico humano].”

O Tren de Aragua, assim como o PCC, expandiu seus braços para fora das grades, controlando o entorno das prisões e, pouco depois, também migrando para outros países como Brasil, Colômbia e Peru — os dois últimos grandes produtores de cocaína.

Especializado em controlar rotas para o tráfico por meio de ações de extrema violência, o Tren de Aragua viu vantagens em se alinhar com o PCC, que conta com experiência na logística de compra, transporte e comercialização de cocaína — principalmente para a Europa e África, que rendem bilhões de dólares para a facção e aliados.

Roberto Uchôa acrescentou que “há indícios” de o Tren de Aragua viabilizar o uso de portos na Venezuela, por meio dos quais o PCC dilui o despacho de cargas milionárias de cocaína — droga também embarcada em cargueiros nas regiões sudeste e nordeste do Brasil.

Tráfico de armas

O maior grupo criminoso da Venezuela também se tornou um problema para as autoridades dos Estados Unidos. O país da América do Norte é procurado por muitas criminosos por ser um dos maiores fornecedores de armas de fogo do mundo.

O Tren de Aragua, como mostram investigações da Polícia Federal (PF), é o principal fornecedor de armas para a célula do PCC atuante em Roraima. Em dois anos, foram apreendidos com a facção brasileira fuzis AK-47, AR-15 e submetralhadores Uzi, vendidas pelos criminosos venezuelanos.

A cooperação entre o PCC e o Tren de Aragua nos tráficos de armas e drogas “não é necessariamente estável ou permanente”, como destacou o pesquisador da universidade de Coimbra.

“Ela é feita em uma lógica pragmática de interesse mútuo: enquanto for favorável financeiramente para ambas as facções, a aliança pode continuar.”

Isso, porém, não impede que o dois grupos entrem em confronto caso seja necessário impor o poder de um para o outro. Como mostram dados oficiais, quando o Tren de Aragua aportou em Boa Vista (RO), em 2021, os homicídios saltaram de 90, no ano anterior, para 127 na cidade. Nos anos seguintes, conforme a relação com o PCC foi se estreitando, as mortes caíram gradativamente, até chegarem a 55 no ano passado. Com informações de Metrópoles.

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