
Há um Natal que não aparece nas vitrines nem cabe nos comerciais de fim de ano. É o Natal de quem não tem mesa farta, nem casa cheia, nem risos espalhados pela sala. É o Natal de quem atravessa dezembro com o coração em silêncio, carregando ausêncisas, saudades e uma fome que não é apenas de pão.
Para esses, a noite de Natal costuma ser longa. As luzes piscam nas ruas, mas não iluminam o que dói por dentro. As músicas anunciam alegria, enquanto a solidão senta-se à mesa vazia. E, ainda assim, é justamente para esses que a mensagem de Jesus Cristo se torna mais clara e mais necessária.
Jesus não nasceu no conforto. Veio ao mundo sem teto, sem berço, sem aplausos. Nasceu à margem, entre o frio e a simplicidade, acolhido mais pelo silêncio do que pela celebração. Seu nascimento foi, desde o início, um sinal: Deus escolheu habitar onde quase ninguém olha. Escolheu fazer morada na pobreza, na fragilidade e na esperança que resiste.
“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” Essas palavras ecoam como abrigo para aqueles cuja noite de Natal parece interminável. Jesus se aproxima não dos que celebram em abundância, mas dos que carregam silêncios, ausências e cansaços profundos, oferecendo presença e descanso ao coração ferido.
Ou seja, é no coração ferido, na mesa vazia e na esperança quase apagada que a presença de Jesus se faz mais viva, oferecendo descanso à alma e sentido mesmo quando tudo parece faltar. Ele não chega com promessas de excesso, mas com a delicadeza de quem compreende a dor humana e permanece.
O Natal, então, não é sobre ter, mas sobre acolher. Não é sobre abundância de coisas, mas sobre presença. Jesus ensinou que o amor verdadeiro não depende das circunstâncias ideais; ele nasce justamente quando tudo parece faltar. “Eu estive com fome, e me destes de comer”, disse Ele, como quem lembra que o milagre começa quando alguém se inclina para o outro.
Para quem não tem, o Natal pode ser a certeza de que Deus não passa longe da dor humana. Ele entra na casa simples, senta-se ao lado do cansado, caminha com o que perdeu quase tudo, menos a dignidade. Jesus não prometeu um mundo sem sofrimento, mas uma presença que não abandona.
Talvez o Natal de alguns seja feito apenas de um gesto pequeno: um pão repartido, uma palavra que consola, um olhar que reconhece. E isso basta. Porque foi assim que Jesus ensinou: o Reino de Deus começa no pouco, no simples, no coração que ainda consegue amar.
Natal, por fim, é lembrar que ninguém está invisível aos olhos de Deus. É descobrir que, mesmo na escassez, ainda é possível encontrar alegria. Que, mesmo nas noites mais escuras, Jesus insiste em permanecer conosco. Não nas coisas que passam, mas na esperança silenciosa que nasce, outra vez, em nosso coração.
Feliz Natal para você, sua família e seus amigos, é o desejo sincero deste cronista. Mesa farta, respeito, paz e amor, muito amor no seu coração. Que Jesus venha visitar a sua casa e nela permaneça. Que assim seja, amém!
Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025).
Instagram: @luislemosescrito






