Carros queimados nas ruas da Nova Caledônia nesta terça-feira, 14 de maio - AFP

O território francês da Nova Caledônia impôs, nesta terça-feira (14), um toque de recolher e proibiu as reuniões públicas após distúrbios violentos por uma revisão constitucional debatida em Paris, que os independentistas desse arquipélago no Oceano Pacífico rejeitam.

O representante do Estado francês na Nova Caledônia, Louis le Franc, explicou nesta terça que houve nos distúrbios da noite anterior “tiros com armas de grande calibre” contra os policiais e “casas foram queimadas”.

“Não houve mortos, não houve feridos graves até o momento, mas poderia ter havido”, afirmou em uma coletiva de imprensa em que pediu calma à população.

Os distúrbios começaram na segunda-feira coincidindo com o debate na Assembleia francesa de uma revisão constitucional de caráter técnico que busca ampliar o censo eleitoral para as eleições provinciais da Nova Caledônia.

O censo está congelado desde 1998, o que impede quase um a cada cinco eleitores desse território de 270.000 habitantes de votar.

Os independentistas consideram isso uma medida para “minorizar ainda mais o povo canaco” nativo, por isso organizaram protestos na segunda-feira que levaram a confrontos com as forças de segurança, carros queimados, saques e estradas bloqueadas.

Segundo o ministro francês do Interior e de Ultramar, Gérald Darmanin, 82 pessoas foram presas nos últimos dias pelos distúrbios.

O ministro “condenou de maneira extremamente forte” a violência, que qualificou de “distúrbios cometidos por delinquentes, às vezes criminosos”. Além disso, 54 agentes das forças de segurança ficaram feridos, alguns deles “com gravidade”, disse o ministro à imprensa.

Em Numea, a capital do território, uma fábrica e duas concessionárias ficaram destruídas após serem incendidas. Em uma prisão da cidade, os presos iniciaram uma rebelião, segundo a polícia.

Vários supermercados foram saqueados na capital e nas cidades vizinhas de Dumbea e Mont-Dore.

“A delegacia estava em chamas e um carro também, em frente à minha casa. Havia gritos a todo momento e explosões, me senti como se estivesse na guerra”, disse à AFP Sylvie, cuja família tem vivido nesse arquipélago por várias gerações.

“Estamos sozinhos. Quem vai nos proteger?”, perguntou.

As forças de segurança prenderam 36 pessoas, disseram as autoridades, que informaram 30 guardas feridos nos distúrbios.

Após a noite de distúrbios, o representante do Estado francês no arquipélago anunciou a imposição de um toque de recolher de doze horas a partir desta terça às 18h (4h em Brasília) e a proibição das reuniões públicas e a venda de álcool.

Colégios e escolas de ensino médio fecharam até nova ordem, além do aeroporto.

“Pedimos a todos os caledônios que mostrem senso de responsabilidade (…) Pedimos a eles que usem todas as vias e meios à sua disposição para restabelecer a razão e a calma”, disse o governo da Nova Caledônia.

As eleições provinciais são cruciais nas três regiões desse arquipélago, que dispõem de importantes competências, graças ao acordo de Numea assinado em 1998 com o Estado francês.

Com informações de ISTOÉ  (cm-tbm-sm-ama/dbh/pc/zm/dd)

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