
Joilson Souza
Na sala de aula, a gente vê de tudo. Tem o aluno que vibra com uma descoberta, que levanta a mão, que brilha os olhos. E tem aquele que só parece estar ali de corpo presente, desinteressado, como se nada do que a gente fala fizesse sentido.
Muitas vezes, a gente é tentado a culpar esse aluno. “Ele é preguiçoso”, “não se esforça”. Mas será que é só isso?
A verdade dura é que, muitas vezes, a falta de motivação na escola é um sintoma de uma falta maior em casa. É um “abandono invisível” que acontece no dia a dia, em várias áreas da vida.
Pense bem:
· Isso é abandono educacional: Quando os pais não abrem um livro na frente do filho, não leem uma história com ele antes de dormir, a mensagem que passa é: “ler não é importante”. Como cobrar que esse jovem se interesse pelos livros?
· Isso é abandono esportivo e de lazer: Quando a bola fica encostada e o quintal vazio, quando não há um “filho, vem jogar uma bolinha com o pai” ou uma ida a um jogo no campinho, a criança perde a noção de trabalho em equipe, de superação e do simples prazer de se movimentar.
· Isso é abandono cultural: Se a família nunca assiste a um filme junto, nunca comenta uma música, nunca leva a criança para um passeio no parque ou na pracinha, o mundo dela fica pequeno. A escola tenta mostrar um universo vasto, mas ela não tem base para entendê-lo.
· Isso é abandono social: Quando os pais nunca aparecem na festa da escola, na reunião de pais ou na apresentação do filho, mandam um recado silencioso: “sua vida aqui não é importante para mim”. A autoestima da criança vai lá para baixo.
· E isso é abandono espiritual: Quando os pais não levam a criança para a igreja, ou não conversam sobre fé, valores e propósito, ela pode crescer sem um alicerce para lidar com as dúvidas e os desafios da vida. Fica sem uma bússola interior que dá força e esperança nos momentos difíceis.
É claro, a vida é corrida, o cansaço é grande. Ninguém é pai ou mãe perfeito. Mas são nessas pequenas ausências que a motivação para os estudos vai se perdendo. Porque estudar exige disciplina, curiosidade, apoio interno e uma mente tranquila. Se o coração está pesado por essas faltas, o peso cai todo sobre o professor e sobre a escola.
E é aí que entra o nosso papel, como educadores.
Não podemos substituir os pais, mas podemos ser a ponte que liga aquele aluno a um mundo de possibilidades. Podemos ser o porto seguro que ele não tem.
Precisamos ser os adultos que:
· Acreditam nele quando ele mesmo não acredita.
· Mostram entusiasmo por uma matéria, porque sabemos que ele talvez nunca tenha visto isso em casa.
· Oferecem acolhimento e escuta, para que a sala de aula seja um refúgio onde ele pode respirar e se sentir valorizado como pessoa, não apenas como aluno.
· Comemoram o menor dos progressos, porque aquele “parabéns” pode ser o único que ele ouviu na semana.
O aluno desmotivado não está nos desafiando. Ele está nos mostrando uma ferida. Cabe a nós não virar as costas, mas estender a mão.
A nossa sensibilidade é a ferramenta mais poderosa que temos. É ela que nos permite enxergar a criança por trás da nota baixa, a história por trás do comportamento. Quando um aluno não tem exemplos em casa, o professor tem a missão sagrada de ser esse exemplo.
Vamos ser, para muitos, a única chance de descobrir que aprender pode ser bom. Que ele é capaz. E que o seu futuro pode ser muito maior do que o seu passado.







