O valor de mercado da LVMH, dona das grifes Louis Vuitton, Dior e Tiffany’s, ultrapassou US$ 500 bilhões, tornando-se a primeira empresa europeia a atingir esse marco, graças à expansão das vendas de artigos de luxo na China e ao fortalecimento do euro.

A conquista ocorre menos de duas semanas depois que a LVMH se juntou ao ranking das 10 maiores empresas do mundo, impulsionada por um aumento nas vendas do primeiro trimestre. A rival Hermes International posteriormente publicou seus próprios números fortes, reforçando a visão de que a reabertura da China após bloqueios impostos na pandemia de Covid está alimentando o crescimento em todo o setor.

Com o valor crescente do grupo, seu dono, o bilionário francês Bernard Arnault, que transformou a LVMH em uma potência global por meio de uma série de aquisições, viu sua fortuna saltar para US$ 212 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

As ações da LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton SE, com sede em Paris, como a empresa é formalmente conhecida, subiam 0,3%, para € 903,70 (US$ 991,08), às 10h43 desta segunda-feira (hora local), avaliando a empresa em € 454 bilhões (US$ 500 bilhões).

A LVMH e suas rivais de luxo francesas são para o mercado de ações europeu o que as big techs têm sido para os Estados Unidos: empresas dominantes cujo crescimento se mantém mesmo quando a economia oscila. Isso fica evidente nos rankings de valor de mercado global, com uma série de empresas de tecnologia dominando a lista, onde a LVMH se tornou a mais recente participante, ocupando o 10º lugar.

– As ações de luxo incorporam o que o mercado acionário tem de melhor no momento: exposição ao consumo chinês, que segue surpreendendo em alta, e margens robustas graças ao seu poder de precificação. Isso diferencia o luxo da tecnologia, cujas margens já vêm se contraindo há vários trimestres – disse Lilia Peytavin, estrategista de portfólio europeu do Goldman Sachs em Paris.

A demanda por produtos LVMH se manteve – entre eles bolsas Louis Vuitton, champanhe Moet & Chandon e vestidos Christian Dior – mesmo com o aumento da inflação e das taxas de juros ameaçando levar o mundo à recessão.

A LVMH alertou este mês que está vendo uma desaceleração no crescimento dos EUA, com a demanda por conhaque e artigos de couro particularmente afetados, e alguns investidores temem que as ações inevitavelmente sejam prejudicadas caso a desaceleração econômica piore.

Por enquanto, paradoxalmente, a preocupação com uma recessão está elevando o valor da LVMH em dólares. O euro neste mês saltou para seu nível mais alto em mais de um ano, com a queda da moeda americana, alimentada pelas crescentes expectativas do mercado de que uma piora na economia dos EUA levará o Federal Reserve a cortar as taxas de juros este ano.

Os analistas têm aumentado suas metas para as ações da LVMH em meio à alta acentuada. Eles veem espaço para mais ganhos.

Ashley Wallace, do Bank of America, vê a ação chegando a € 1.000 (US$ 1.096) no próximo ano.

“A LVMH é muito barata devido à atratividade do setor de artigos de luxo, seu forte portfólio de marcas e a melhor execução da categoria”, escreveu Ashley em um relatório de 13 de abril.

O marco de US$ 500 bilhões levou décadas para ser alcançado.

Império formado por dezenas de aquisições

Arnault, presidente e diretor executivo da LVMH, fez sua incursão no luxo em 1984, assumindo o Boussac Saint-Freres, o grupo têxtil falido que possuía uma joia: a Christian Dior. Ele desmembrou a maioria dos outros negócios da empresa e usou o lucro inesperado para comprar uma participação majoritária na LVMH, cujas duas principais empresas, Louis Vuitton e Moet Hennessy, se fundiram em 1987.

Nas três décadas seguintes – e por meio de dezenas de aquisições – ele transformou a LVMH em um gigante do luxo, vendendo de tudo, de bebidas a artigos de couro e joias em mais de 5.600 lojas em todo o mundo. Ele percebeu rapidamente que a China se tornaria um mercado importante, abrindo a primeira loja da Louis Vuitton em Pequim em 1992.

Arnault, de 74 anos e sua família detêm 48% do capital social da LVMH, e ele está preparando o terreno para manter a empresa sob controle familiar nas próximas décadas.

O amplo conglomerado, com suas 75 marcas que vão de Dom Perignon a Givenchy e Tiffany & Co., tornou-se um campo de treinamento para designers ambiciosos que buscam fazer seu nome: Marc Jacobs e o falecido Virgil Abloh na Louis Vuitton; Raf Simons na Christian Dior; e Phoebe Philo na Celine. Todos infundiram as marcas com novidades que as mantiveram relevantes para os consumidores jovens.

Em fevereiro, a Louis Vuitton nomeou o músico e empresário de vestuário Pharrell Williams como designer de moda masculina da marca, ocupando o cargo anteriormente ocupado por Abloh, que morreu em 2021. Williams apresentará sua primeira coleção em junho, durante a Paris Fashion Week.

Ressentimento francês

O forte desempenho da LVMH impulsionou a fortuna de Arnault, tornando-o a pessoa mais rica do mundo, à frente de Elon Musk e Jeff Bezos.

Mas também gerou ressentimento em seu país de origem. Em 13 de abril, os manifestantes invadiram a sede da LVMH na luxuosa Avenue Montaigne. Os membros do sindicato expressaram sua raiva contra os planos do presidente Emmanuel Macron de aumentar a idade mínima de aposentadoria, pedindo que qualquer déficit no sistema previdenciário seja compensado pelo aumento de impostos sobre empresas como a gigante do luxo.

Não há sinal de que Arnault pretenda renunciar tão cedo. A LVMH suspendeu no ano passado o limite de idade de seu CEO, o que permitiria que ele permanecesse no comando até os 80 anos. O titã começou a preparar o terreno para sua sucessão, porém, por meio de uma nova holding.

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