Havia um homem muito rico, mas muito rico mesmo. Sua fortuna era maior que o Produto Interno Bruto de muitos países.

Tinha uma frota de carros de luxo que, se saísse de sua casa durante um ano inteiro, não repetiria um único veículo.

Tinha terras, fazendas, aeronaves e todo tipo de bem que o dinheiro pode comprar.
Possuía joias raras e reluzentes, pedras preciosas de valor incalculável, anéis, colares e braceletes guardados em cofres espalhados pelo mundo todo.

Era proprietário de jornais influentes, revistas de grande circulação e canais de televisão que alcançavam milhões de pessoas, controlando não apenas riquezas materiais, mas também a palavra impressa, a imagem transmitida e o poder de moldar opiniões.

Sua mansão parecia um pequeno país: segurança, jardins impecáveis, obras de arte raras e um silêncio permanente que, em vez de paz, soava como vazio.

Mas, apesar de tudo isso, o homem era profundamente infeliz.

À noite, quando a casa toda dormia, ele percorria os corredores imensos sentindo-se oco por dentro. O eco dos seus passos lembrava-lhe que ninguém o esperava, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia, ninguém se alegrava com a sua chegada.

A solidão, essa sim, era sua fiel companheira e não havia cheque que a mandasse embora; sentava-se ao seu lado nas mesas fartas, atravessava os corredores das mansões e o acompanhava em silêncio, lembrando-lhe, noite após noite, que nem toda a riqueza do mundo é capaz de comprar o mais belo dos tesouros: o amor.

Um dia, ao visitar uma de suas fazendas, encontrou um velho trabalhador sentado à sombra de uma mangueira, rindo com o neto enquanto dividia um pedaço simples de bolo de milho.

O velho ganhava pouco, tinha quase nada e mesmo assim parecia possuir tudo.

Intrigado, o homem rico aproximou-se e perguntou:

— Como o senhor consegue ser tão feliz tendo tão pouco?

O velho levantou o olhar, sorriu com serenidade e respondeu:

— Meu patrão, eu tenho o que o dinheiro não compra. Tenho gente que me ama e gente que eu amo. Tenho alguém pra dividir o pouco que tenho. Isso aqui — disse apontando para o coração — é o único tesouro que vale alguma coisa quando a vida aperta.

A resposta atingiu o homem como um raio. Pela primeira vez, ele percebeu que havia passado a vida inteira colecionando objetos, mas nunca colecionou afetos. Construiu um império, mas não construiu uma família.

Naquele dia, sentado sob a mesma mangueira, enquanto o vento soprava leve e o riso da criança preenchia o ar, ele entendeu algo que nenhum consultor financeiro jamais lhe ensinara:

A verdadeira riqueza não cabia em cofres, não dependia de cifras, não podia ser herdada nem vendida.

A verdadeira riqueza era o amor, de qualquer forma: verdadeiro, sincero ou até complicado; o importante era o amor. Mas isso ele não tinha e nem conhecia.

E ali, pela primeira vez, em muitos anos, aquele homem desejou, de todo o seu coração, começar a ser rico de verdade.

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025). 

Instagram: @luislemosescrito

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