Imagem do aplicativo Signal Foto: Associated Press/Jeff Chiu

O jornalista e editor-chefe da “The Atlantic” Jeffrey Goldberg foi adicionado por acidente em um grupo de mensagens de integrantes do governo de Donald Trump no aplicativo Signal em que eram discutidos planos militares contra os rebeldes Houthis, do Iêmen. As conversas incluíam autoridades como o vice-presidente J.D. Vance, além dos secretários Marco Rubio, de Estado, e Pete Hegseth, da Defesa.

O caso, descrito pelo “The New York Times” como uma “falha extraordinária” de segurança, teve palco no Signal, um app de mensagens focado em privacidade e segurança em que nem a própria empresa responsável pela plataforma, a Signal Foundation — uma organização sem fins lucrativos — pode ter acesso às conversas.

O aplicativo de código aberto foi lançado em 2014 sendo um dos primeiros a implementar a “criptografia de ponta a ponta”, adicionada no WhatsApp em 2016. Ainda, a plataforma tem recursos de bloqueio de prints, a garantia de que nenhuma informação do usuário é armazenada e a possibilidade de textos e imagens se “autodestruírem”.

A plataforma não permite que uma pessoa seja achada pelo número do celular. No Brasil, o aplicativo foi utilizado na troca de mensagens dos militares supostamente envolvidos na operação Punhal Verde e Amarelo, de acordo com a PF (Polícia Federal).

Planos de Guerra dos EUA

Segundo o relato publicado na The Atlantic, Jeffrey Goldberg recebeu o pedido de conexão de uma pessoa identificada como Michael Waltz. Esse é o nome do Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

Dois dias depois de aceitar a solicitação, ele foi incluído no grupo para coordenação da ofensiva contra os rebeldes Houthis, que integram o chamado “Eixo da Resistência” do Irã e causaram problemas ao comércio global com ataques no Mar Vermelho em meio ao conflito no Oriente Médio.

Os usuários do Signal presentes no grupo eram identificados com nomes de autoridades do alto escalão do governo Donald Trump. Isso inclui o vice-presidente J.D. Vance; o secretário de Estado, Marco Rubio; da Defesa, Pete Hegseth; a diretora da Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard; o diretor da CIA, John Ratcliffe, entre outros.

Nos dias que antecederam o ataque no Iêmen, o usuário identificado como J.D. Vance se mostrou reticente sobre o ataque. Ele argumentou que a via atingida pelos ataques dos rebeldes era mais importante para Europa do que para os Estados Unidos. E que a operação seria “inconsistente” com a mensagem que Donald Trump quer passar aos europeus.

A contada identificada como Pete Hegseth disse concordar com o argumento, mas insistiu na necessidade da ofensiva. “Há 2 riscos imediatos na espera: 1) isso vaza e parecemos indecisos; 2) Israel toma uma atitude primeiro – ou o cessar-fogo em Gaza fracassa – e não conseguimos iniciar o processo em nossos próprios termos. Podemos administrar ambos. Estamos preparados para executar e, se eu tivesse um voto final de “ir” ou “não ir”, acredito que deveríamos fazê-lo. Isso não tem a ver com os houthis. Eu vejo isso como duas coisas: 1) Restaurar a liberdade de navegação, um interesse nacional fundamental; e 2) Restabelecer a dissuasão, que Biden destruiu”, dizia a mensagem.

A discussão chegou ao fim depois que “SM”, que se presume ser o assessor Stephen Miller, entrou na conversa. “Pelo que ouvi, o presidente foi claro: sinal verde, mas logo deixaremos claro para o Egito e a Europa o que esperamos em troca. Também precisamos descobrir como fazer valer essa exigência”, escreveu. “Se os EUA conseguirem restaurar a liberdade de navegação a um custo elevado, será necessário obter algum ganho econômico adicional em troca.”

Além das discussões políticas sobre a ofensiva, Jeffrey Goldberg presenciou trocas de informações sensíveis sobre os planos militares dos Estados Unidos. Duas horas antes dos bombardeios, a conta identificada como Pete Hegseth compartilhou no grupo do Signal detalhes da operação, como alvos, armas utilizadas e sequência de ataques.

Questionado pela reportagem, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, confirmou a veracidade do grupo. “Essa parece ser uma rede de mensagens autêntica, e estamos analisando como um número inadvertido foi adicionado”, escreveu à “The Atlantic”.

Com informações do Estadão

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