Por Luís Lemos*

No quinto dia da semana, no mês de dezembro, numa tarde preguiçosa em Manaus, sentado numa cadeira de balanço, no quintal da minha casa, com o canto dos pássaros ao fundo, lia um livro de filosofia japonesa, quando surgiu, bem na minha frente, o professor Caraíba, de barba longa, cabelo cor de algodão, calçando alpercatas de couro cru, vestindo camiseta regata, calça jeans e uma longa capa cor de ouro, parecendo um reizinho, e me disse:

“O melhor remédio para as dores da alma humana é o perdão, porque não há ferida que não se cure quem dele beber. O perdão é curativo, libertador. Seu valor é inestimável e sua importância é incalculável. Quem perdoa se livra do sofrimento e da tortura do remorso. Porém, o perdão só é verdadeiro quando você se liberta da raiva e do sentimento de vingança. A vida é tão breve para você ficar cultivando sentimentos negativos. Não vale a pena! Viva intensamente a sua vida enquanto pode, enquanto tem saúde, tem liberdade, tem disposição. Ocupe a sua cabeça com coisas boas e belas. O mundo é tão cheio de arte, de cultura, de beleza, de literatura, de música, de poesia, de filosofia. Existem tantas coisas lindas, justas e belas para ver, fazer e admirar no mundo. Lugares, pessoas, livros, autores, obras, que estão esperando por uma visita sua. Escolha fazer o bem. Escolha está do lado certo da história. Não se nivele e nem se compare com os maus. O único sentimento que você deve levar no seu coração é o perdão. Eu sei que depois que uma pessoa sofre uma injustiça, seja ela pessoal ou profissional, é difícil perdoar. Mas o que seria do perdão se não uma conquista diária? Para perdoar e ser perdoado é preciso limpar o seu coração do ódio, do rancor e de toda magoa. Perdoe todos àqueles que te fizeram mal, não importa o tamanho e nem quando, se foi ontem ou há dez anos. O importante é perdoar. Quando perdoamos nos livramos dos sentimos ruins e nos sentimos livres, corajosos, felizes. No perdão, a nossa alma se liberta do pecado e voa livre pelos ares. Estudos apontam que a falta de perdão tem contribuído para o aumento da raiva, da descrença, da infelicidade, da insatisfação pessoal e social, da imaturidade emocional e do desenvolvimento de doenças físicas e emocionais, tais como: dores musculares, úlceras, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, demência, deficiência intelectual e síndrome do pânico. O perdão é um poderoso remédio, que está acessível a todos, dentro do seu coração. Ele pode ser usado à vontade, por qualquer pessoa, em qualquer idade, a qualquer hora do dia, em qualquer lugar, não tem contraindicação. Por fim, tem razão o apóstolo Paulo quando escreveu aos Efésios (4,32) dizendo: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo”. Não existe sentimento mais lindo no mundo do que o perdão. Experimente o poder do perdão. Como o mundo seria bem melhor se os homens soubessem perdoar. Ah, que sentimento lindo é o perdão! Experimente-o!”.

Dizendo-me isto, o professor Caraíba pegou com as mãos trêmulas, parecendo cansado, o livro sagrado do Budismo, o Tripitaka, e começou a ler com uma voz tranquila e calma: “Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas, depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão e que conduz ao bem e benefício de todos, aceite-o e viva-o”.

Luis Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas” e “Filhos da Quarentena A esperança de viver novamente”.

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