
Rendeu-me diversas manifestações de apoio, mas também alguns insultos, minha última postagem sobre a prisão de Bolsonaro. É gratificante ver muitas pessoas ao lado da verdade. Os impropérios, por sua vez, não me causaram maior mossa. Tenho-os à conta do fanatismo que, como aprendi desde cedo, nunca foi bom conselheiro. Cuido, porém, que é importante consigná-los, quando nada pela necessidade de transparência, mas sobretudo pelo respeito à diversidade de opiniões.
Um senhor disse que eu sou “um brincante”. Está em completo equívoco. Nem no campeoníssimo boi Caprichoso me deixam brincar, em razão de minha nenhuma intimidade com o ritmo das toadas. Ademais disso, vai muito longe o tempo em que me poderia eu dar ao luxo de encarar levianamente assuntos que exigem reflexão. Ora, o tema de que me ocupei está ligado de maneira visceral ao próprio destino da minha Pátria, de forma que não seria de bom alvitre dele tratar sem um tom conspícuo.
Outro foi mais agressivo no seu desabafo. Para ele eu sou “um imbecil”. Acredito que não fiz por merecer esse galardão, que posso por na coluna do desespero, decorrente da falta de argumentos. Não descarto igualmente a possibilidade de se tratar de um bolsomínion narcisista. Fazendo o que é comum em todos os da espécie, postou-se na frente do espelho e fez o auto reconhecimento. Mera questão de ego inflado.
Uma senhora se expressou dessa forma: o Valois é comunista e todos os comunistas gostam de viver na ditadura. Eis um caso clássico de falso silogismo, que pode ser objeto de estudo acadêmico por quantos se dedicam ao cultivo da filosofia. Conquanto a premissa menor esteja rigorosamente no plano da verdade (o Valois é comunista), a premissa maior (todos os comunistas gostam de viver na ditadura) é de gritante falsidade, de tal forma que a conclusão (logo, o Valois gosta de viver na ditadura) não poderia escapar do timbre da falsidade.
Ilustre senhora, a quem não tenho o prazer de conhecer. Este comunista aqui e todos os seus camaradas da época vivemos de fato em uma ditadura. E posso lhe afiançar, com o coração bem aberto, que não gostamos nada da experiência. A partir de 1964, quando militares e reacionários civis implantaram a ditadura mais cruel de nossa história, fomos nós o alvo predileto. Podíamos ser (e éramos) punidos pelo hediondo crime de pensar. É que, tendo se assenhorado ilegitimamente do poder, os ditadores (ou o ditador de plantão, se lhe parecer mais adequado) não podiam permitir que se divergisse da sua obsessão pela “segurança nacional”, doutrina que lhes serviu de base para o desencadeamento de atrocidades impensáveis.
Tivesse razão a douta senhora, comunistas e progressistas de todos os matizes teríamos dado incondicional apoio à trama golpista urdida por Bolsonaro e sua organização criminosa. Afinal de contas, o que buscavam era singelamente o estraçalhamento da democracia burguesa, a queima da Constituição da República e a volta pura e simples da ditadura nos mesmos moldes (ou piores, se é possível) que comandou o Brasil a partir de 64.
Faço uma concessão: se essa inominada senhora se tivesse referido à “ditadura do proletariado”, talvez houvesse base para uma conversa racional. Seria, porém, querer demais pretender que alguém, que tem Bolsonaro como ídolo, possa se interessar por um dos temas mais palpitantes do marxismo-leninismo.
E todo esse imbróglio porque Bolsonaro e seus comparsas estão presos e cumprindo suas penas criminais. Parece algo extraordinário quando, na verdade, houve apenas e tão-somente a mais tenra aplicação da nossa lei penal. “Mas – dizem os defensores do indefensável -, Bolsonaro está preso por um golpe que não aconteceu”. Faço uma conclamação: asnos de todo o mundo, uni-vos! Pode ser que a união vos faça compreender o que vou repetir pela enésima vez e que é lição primária nos arraiais do direito punitivo: golpe de estado é modalidade de crime que só pode ser punida na sua forma tentada. Se o golpe tiver êxito, até vós havereis de entender que os golpistas não haverão de punir a si próprios. Compreendestes vós, espíritos das trevas?
Chega. São estas as considerações que tinha a fazer este comunista “brincante” e “imbecil”. Se elas não satisfizerem o outro lado, fico esperando que voltem à carga. Mas, por favor, só depois de entenderem que a terra não é plana e que pneu de caminhão não é símbolo nacional. Ah, sim! E que alienígenas não atendem a ligações de celulares.






