Foto: Joel Saget/Getty Images/AFP

Pacientes que usam Ozempic- injeção à base de semaglutida indicada para o tratamento do diabetes tipo 2, mas que tem sido frequentemente usada para perda de peso – têm apresentado efeitos colaterais inesperados que intrigam médicos. Os relatos incluem redução da dependência de álcool, do tabagismo e até mesmo comportamentos compulsivos como vício em jogo, roer as unhas ou cutucar a pele.

Além do Ozempic, tais efeitos foram observados em pacientes que utilizam o Wegovy, injeção com o mesmo princípio ativo, indicada para o tratamento de obesidade. O composto age suprimindo o apetite e, em testes, o Wegovy levou os pacientes a perder um quinto do peso corporal.

Entretanto, um estudo de pesquisadores do Imperial College London, que ainda não foi publicado, descobriu que uma droga semelhante à semaglutida pode diminuir a atividade em áreas do cérebro ligadas ao vício, segundo informações do Daily Mail. Isso significa que o remédio pode tornar os maus hábitos menos atraentes. Como a semaglutida é mais potente do que a droga usada no estudo, os especialistas dizem que provavelmente terá um impacto maior.

“Todas as evidências apontam para o fato de que [drogas como esta] podem tratar o vício. Não sabemos totalmente o que está acontecendo. Achamos que essas drogas podem reduzir a quantidade de dopamina química que é liberada no cérebro em resposta a certos estímulos, como fumo ou álcool, ou possivelmente até mesmo comportamentos compulsivos – compras, vício em internet ou jogos de azar. Estamos analisando se isso poderia prevenir recaídas em pessoas com vícios. As coisas precisam ser investigadas”, disse o médico Tony Goldstone, professor associado do departamento de ciências do cérebro da Imperial e que liderou a pesquisa.

Diante dessas evidências, especialistas pedem novos ensaios clínicos para ver se esses medicamentos poderiam ajudar os pacientes a combater comportamentos compulsivos.

À medida que a popularidade do Ozempic cresceu, começaram a surgir relatos de curiosos efeitos colaterais. O site Reddit reúne centenas de pessoas descrevendo como Wegovy mudou suas vidas de maneiras inesperadas.

Um homem que alegou ter bebido grandes quantidades de uísque todas as noites durante 20 anos disse que mal havia tocado uma gota em mais de dois meses depois de tomar Wegovy para perda de peso. “Sou capaz de tomar um único gole e não ter vontade de beber outro”, escreveu.

Uma mulher que roía as unhas ‘até as pontas dos dedos’ há 34 anos, desde os quatro anos, havia ‘parado completamente’. Outros relataram ter perdido a vontade de fumar, de comer chocolate ou de fazer compras compulsivamente.

Um usuário disse ao The Mail que a semaglutida não apenas reduziu seu interesse em beber álcool, mas também “interrompeu completamente” seus hábitos de ranger os dentes e roer as unhas.

Segundo Alex Miras, especialista em obesidade da Universidade de Ulster, relatos como esses não são informações normalmente solicitadas pelos médicos. Então, eles só ficam sabendo quando os pacientes contam por conta própria.

— Isso significa que provavelmente está acontecendo mais do que pensamos. Teoricamente, você poderia pegar alguém com um peso normal e dar-lhe essas drogas para outras formas de dependência, mas isso ainda não foi provado — disse ao Daily Mail.

Os cientistas ainda não descobriram o que está acontecendo no cérebro para provocar esse efeito. Mas todos concordam que é plausível e que há pistas intrigantes sobre como essas drogas funcionam.

A semaglutida faz parte de uma família de medicamentos que imitam um hormônio no intestino chamado GLP-1. O hormônio é liberado pelo corpo quando comemos e envia sinais ao cérebro quando estamos satisfeitos. Mas algumas pessoas com obesidade podem produzir naturalmente menos desse hormônio, o que pode explicar em parte por que comem mais.

Aumentar artificialmente os níveis de GLP-1 por meio de medicamentos como a semaglutida pode induzir o corpo a se sentir satisfeito e suprimir o apetite. Mas também pode haver um efeito nas áreas do cérebro ligadas à motivação e à recompensa, acreditam os especialistas.

Em pessoas com vícios, a rede de recompensas pode reagir exageradamente. Acredita-se que as drogas GLP-1 podem enfraquecer a atividade cerebral nessas áreas, fazendo com que produzam menos dopamina, o que também equivale a menos motivação para repetir comportamentos compulsivos, seja comer, beber álcool ou qualquer outra coisa.

O estudo da Imperial College descobru que fumantes que receberam exenatida, um agonista de GLP-1 menos potente que a semaglutida, tinham duas vezes mais probabilidade de largar o vício. A equipe analisou exames cerebrais de ex-fumantes que receberam a exenatida e descobriu que as áreas envolvidas em sentimentos de recompensa eram menos ativas depois de tomar a medicação. Eles esperam que isso signifique uma menor probabilidade de recaídas, embora a pesquisa ainda esteja em andamento.

Em um estudo separado, que envolveu pessoas dependentes de álcool, aqueles que eram obesos no início reduziram o consumo de álcool após receberem exenatida. Para todos os outros, porém, não houve diferença perceptível. Ainda não se sabe o por que isso.

Mas estudos já começaram. Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unido, estão recrutando 48 pacientes fumantes ou com dependência de álcool ‘leve a moderada’ para avaliar a eficácia da semaglutida na interrupção do vício. Metade receberá o composto ativo e o restante uma injeção de placebo.

Com informações: O Globo

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