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O pagamento aos assassinos do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), Vinícius Gritzbach, foi pago por meio de dinheiro vivo e criptomoedas, como aponta o inquérito do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), concluído nessa sexta-feira (14/3). A estimativa da força-tarefa que investigou o caso é a de que o crime tenha custado R$ 3 milhões.

De acordo com o relatório de investigação, obtido pelo Metrópoles, os PMs Denis Antonio Martins e Ruan Silva Rodrigues são as pessoas que aparecem nas câmeras de segurança do Aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro, descendo de um Volkswagen Gol preto e matando Gritzbach, com 10 tiros de fuzil, calibres 7,62 e .556. O tenente Fernando Genauro Silva seria o responsável por dirigir o veículo.

A participação deles na execução fica comprovada, de acordo com a polícia, por exames de DNA, pelo acionamento de antenas feitas pelos seus celulares e, também, de arquivos salvos nas nuvens dos aparelhos.

O cruzamento dessas informações com imagens de câmeras de monitoramento, além de depoimentos — no caso dos policiais, com contradições — colocam Fernando Genauro no volante do Gol e os dedos de Denis e Ruan nos gatilhos que assassinaram Vinícius Gritzbach.

Nos celulares dos indiciados, foram encontradas diversas imagens com cotações e transferências em Bitcoin, o que, para a polícia, “reforça a ideia de que o pagamento do crime foi realizado em criptomoedas”.

No entanto, a equipe de investigação não conseguiu acessar as carteiras digitais dos policiais. Por isso, não foi possível determinar quanto custou o assassinato.

Além dos prints envolvendo criptomoedas, a polícia também detectou fotos exibindo grandes quantidades de dinheiro em espécie. No caso de Fernando Genauro, foram encontradas fotos tiradas por um celular que foi comprado um dia após o assassinato, além de maços de dinheiro dispostos no volante de um carro de luxo. Pouco mais de um mês após o crime, ele também tirou foto de um kit de relógios de alto padrão — e todos os modelos organizados em um elegante estojo.

Segundo as investigações, ele gastou R$ 36,5 mil em espécie. Em conversas deletadas no Instagram, Genauro negociou a compra de um óculos de modelo Juliet 24k por R$ 6 mil.

GPS

A investigação do DHPP afirma que dados do aplicativo Waze, usado por Denis Antônio Martins, confirmam a participação dele no assassinato de Gritzbach.

Relatório policial, obtido pela reportagem, mostra que ele se deslocou para Guarulhos, ocupando o Volkswagen Gol preto usado pelos assassinos e retornou para Osasco, cidade com a qual tem vínculos, em um Audi A1 — pertencente a Kauê do Amaral Coelho, apontado como o olheiro que avisou os assassinos sobre a chegada de Gritzbach na área de desembarque do aeroporto.

Denis, Ruan e Genauro abandonaram o Gol usado no crime na Avenida Otávio Braga de Mesquita, aproximadamente 6 km de distância do local do crime. Os dois primeiros usaram um ônibus para seguir em fuga e, Genauro, foi por outro caminho, a pé. O deslocamento dos policiais foi flagrado por câmeras de monitoramento.

DNA

Laudo pericial anexado ao inquérito instaurado pela Corregedoria da PM, obtido pelo Metrópoles, afirma que foi encontrado material genético de Dênis em um boné e em uma blusa de moletom (veja galeria acima), ambos apreendidos juntamente com as armas usadas no crime.

O armamento foi abandonado, logo após o homicídio, na Rua Guilherme Lino dos Santos, perto do aeroporto, por policiais do 15º Batalhão de Ações Especiais de Policiais (Baep).

O confronto do material genético colhido do policial, com o encontrado nas peças de vestuário — idênticas às usadas por um dos atiradores — confirmaram que os itens foram utilizados por Dênis.

Além disso, a forma de caminhar do assassino, registrada por câmeras de monitoramento, após o assassinato, se assemelham ao caminhar do policial, como também foi flagrado por outra câmera, em frente ao batalhão da PM onde ele trabalhava na ocasião.

Genauro e Ruan

O uso de celular, que acionou antenas de transmissão, imagens de câmeras de monitoramento e contradições no depoimento, também colocam o tenente Genauro no volante do Gol que levou os atiradores até o aeroporto de Guarulhos. Além disso, um boné branco, um par de tênis da mesma cor e peças de roupa encontradas em sua casa são idênticas às usadas por um dos ocupantes do Gol.

A forma de caminhar do motorista do carro usado no assassinato também se assemelha ao do policial, reforçando o fato de ele estar envolvido com o crime.

A quebra do sigilo telemático do celular do PM Ruan Silva Rodrigues também contribuiu para a Polícia Civil reforçar a relação dele com os outros dois policiais. Constatou-se na investigação que, cinco dias após o assassinato, Ruan recebeu nove ligações de Dênis.

Em 15 de novembro, Ruan trocou de celular. Dênis Antônio Martins fez a mesma coisa, no dia seguinte, da mesma forma que já havia sido feito por Fernando Genauro e Kauê Amaral Coelho, o olheiro do PCC.

Outro ponto destacado pelo DHPP é o fato dos policiais, além das ligações e uso de aplicativos de mensagem, também usarem torpedos de SMS, para dificultar a identificação de seus diálogos.

Outros crimes

Além de Gritzbach, o motorista Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, que fazia corridas clandestinas no aeroporto, foi ferido no tiroteio. Ele morreu no dia seguinte ao assassinato do delator.

Como mostrado pelo Metrópoles, os três PMs foram indiciados no último dia 10 de março por dois homicídios, duas tentativas de homicídio e por associação criminosa. Caso sejam condenados, podem pegar mais de 100 anos de prisão, cada um.

A defesa deles não foi localizada até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.

Com informações de Metrópoles.

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