A palmada, punição corporal muitas vezes aplicada por adultos em crianças, causa impactos negativos sobre o funcionamento cerebral similares aos provocados por agressões físicas mais violentas e abusos sexuais.

Essa é a conclusão de um estudo novo que foi publicado pela “Child Development”, um dos mais prestigiados veículos científicos na área de desenvolvimento infantil.

Segundo os autores do trabalho, é a primeira vez que fica comprovada a ligação entre palmadas e reações neurais exageradas à percepção de risco no meio ambiente.

A descoberta preenche uma importante lacuna na pesquisa acadêmica sobre as possíveis consequências de diferentes formas de violência contra as crianças.

Estudos já haviam mostrado que tanto palmadas quanto formas mais severas de agressão, como espancamento e abuso sexual, impactavam o comportamento, a aprendizagem e a capacidade de adaptação, ainda que em intensidades diferentes.

Mas, até agora, só havia a comprovação de que essas mudanças eram causadas, de fato, por alterações no funcionamento cerebral nos casos de violências mais lesivas física ou psicologicamente.

“Os estudos anteriores [sobre palmadas] olham para diferentes avaliações educacionais ou registros do comportamento, mas sem medir o desenvolvimento cerebral e biológico das crianças”, disse Jorge Cuartas, um dos autores do novo estudo, em entrevista à Folha.

“Descobrir que a punição corporal pode afetar o desenvolvimento do cérebro é muito forte. Por isso, decidimos fazer esse estudo”, afirmou o economista.

  • Cuartas está terminando seu doutorado em educação na Universidade Harvard e tem pesquisas anteriores sobre os efeitos de punições corporais, inclusive na Colômbia, seu país natal.

Os outros autores do estudo são David Weissman e Katie McLaughlin, ambos também de Harvard, Margaret Sheridan, da Universidade da Carolina do Norte, e Liliana Lengua, da Universidade de Washington.

Diretora do laboratório de estresse e desenvolvimento de Harvard, McLaughlin é a principal formuladora de um modelo que já indicava a alta probabilidade de que vivências adversas –incluindo palmadas e testemunho de violência– teriam impacto parecido sobre o desenvolvimento emocional e neural, variando apenas em intensidade.

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