As lideranças do PL se reuniram na manhã deste domingo (24) no estádio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para a convenção nacional do partido. O evento, com cerca de 10 mil pessoas, marca a oficialização da campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, bem como de seu candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto.
A convenção teve a participação aberta para os militantes do presidente, que puderam entrar sem apresentar ingresso. A abertura se deu por conta de um boicote de internautas à plataforma Sympla, onde diversas pessoas retiraram ingressos para limitar a oferta daqueles que quisessem de fato participar, visando imitar o esvaziamento da convenção do Partido Republicano nos Estados Unidos, durante a campanha de Donald Trump em 2020.
Apesar do evento oficializar a candidatura do candidato a vice, este não está discursou. A escolha de Braga Netto para a função oficializa o rompimento de Bolsonaro com seu atual vice, Hamilton Mourão, que concorre ao Senado no Rio Grande do Sul pelo republicanos. Ao contrário do ex-ministro da defesa, Mourão se opôs à postura do presidente em seus diversos episódios de conflito com os demais poderes.
Braga Netto foi comandante da intervenção federal no Rio de Janeiro durante a gestão de Michel Temer. Na gestão Bolsonaro, assumiu a chefia da Casa Civil entre 2020 e 2021, quando passou a ser ministro da defesa. Na chefia da pasta, ficou ao lado do presidente durante o conflito com os antigos comandantes das Forças Armadas, que entregaram seus cargos após se queixar do uso político das forças.
Bolsonaro tem como principal adversário o ex-presidente Lula e seu vice Geraldo Alckmin. As pesquisas eleitorais apontam para um cenário acirrado, mas com vantagem oscilando entre 10% e 15% para o petista. Por um lado, Bolsonaro conta com um elevado índice de rejeição, especialmente entre mulheres e pessoas de baixo poder aquisitivo. Por outro, a recente redução no preço dos combustíveis decorrente da redução do ICMS e o aumento no valor dos auxílios sociais tendem a aumentar sua popularidade nos próximos meses.
Terror comunista e ataques ao STF
Durante seu discurso, Jair Bolsonaro concentrou esforços em retomar a retórica adotada em 2018, buscando associar o ex-presidente Lula, seu principal rival em 2022, à ideologia comunista e aos regimes implantados em Cuba, Coreia do Norte e Venezuela. Bolsonaro também associou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) às dificuldades enfrentadas ao longo de seu governo, retratando o judiciário como um poder antagônico à vontade da população.
Nos ataques ao STF, Bolsonaro chegou a chamar sua militância para uma nova manifestação de Sete de Setembro. “Nós somos a maioria, nós somos do bem, nós temos disposição para lutar pela liberdade e pela nossa pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no sete de setembro, vá as ruas pela última vez. (…) Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o poder executivo e o poder legislativo”, declarou.
Sobre Lula, seu foco foi no tratamento das pautas de costumes, seguindo a retórica do pleito anterior. “Esse é o mesmo cara que defende o roubo de celulares como um direito do bandido roubar para tomar uma cerveja. Esse mesmo cara que fala que a guerra da Ucrânia se resolve tomando cerveja. Esse é o mesmo cara que quer legalizar o aborto no Brasil, que quer legalizar as drogas no Brasil”, afirmou.
A pauta do combate às drogas foi um dos pilares do discurso de Bolsonaro ao longo de sua gestão, e recebeu atenção especial na fala. “Será que esse cara sabe quanto sofre uma mãe quando um filho se entrega às drogas? Será que ele sabe o sofrimento dessa mãe com essa criança no mundo das drogas?”. Lula, porém, não possui posicionamento definitivo sobre o assunto
Outro assunto adormecido que Bolsonaro trouxe à tona para atacar seu adversário foi a questão de gênero. “Esse mesmo cara, que em decreto de 2019, além de querer a desconstrução da heteronormatividade, criou o que se chama ideologia de gênero. Com isso, emboscar nossos filhos e netos a partir dos cinco anos de idade dentro da escola, para estimulá-lo ao sexo desde essa idade. Isso não é papel de alguém que quer o bem do seu povo”, declarou. O mandato de Lula acabou em 2010, e sua sucessora Dilma Rousseff governou apenas até 2016.
Bolsonaro também criticou as gestões do PT por conta da demora na entrega da obra de transposição do rio São Francisco, e do endividamento da Petrobras. Os governadores ligados à oposição, com ênfase nos estados do nordeste, também foram alvo de críticas por terem adotado medidas restritivas para o controle da covid-19 nos primeiros meses da pandemia, contrariando a política desejada pelo governo federal.
O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) foi exaltado no discurso, em especial por propiciar a aprovação do teto do ICMS e da PEC dos Auxílios, que permitiu o aumento do valor dos programas sociais durante o período eleitoral, duas leis que, devido ao impacto sobre os preços de bens de consumo, são apontadas como as duas cartas de maior peso em favor de Bolsonaro nas eleições.
A dificuldade de inserção de Bolsonaro no eleitorado feminino também afetou o discurso de Bolsonaro, que tentou demonstrar preocupação com as mulheres ao falar das políticas de inclusão da mulher no campo, bem como ao entregar o microfone para a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que discursou antes do presidente. (Congresso em Foco)