Reprodução/Arquivo Pessoal

São Paulo – Um policial militar que agrediu com tapas no rosto, além de ameaçar de morte um homem, mantendo na face dele uma arma de fogo, não registrou a ocorrência na delegacia da região, que é 42º DP, nem seu parceiro que o acompanhava.

Durante a violência — que resultou no afastamento de dois soldados do 21º Batalhão da PM, após o Metrópoles revelar um vídeo (assista abaixo) feito por uma testemunha — um dos PMs afirmou sobre o encontro de drogas e contabilidade do tráfico, feito durante a abordagem.

As apreensões, conforme apurado pela reportagem, não foram apresentadas no 42º DP, onde o provável flagrante de tráfico também não foi relatada à Polícia Civil.

Após conversar em voz baixa com o homem abordado, o PM afirmou que ambos se conhecem, acrescentando ao suposto suspeito o fato de ele “saber como o negócio funciona”.

“Achei onde você tá muquiando [escondendo a droga], na casa de ‘zé povinho’, beleza. A família não tem nada haver com isso. Consegui puxar o bagulho [droga e] sua anotação [contabilidade] e tudo […] vocês deixaram o bagulho muquiado ali e eu achei”, afirma o PM.

O policial também questionou “quem estava no movimento” com o homem abordado, referindo-se à venda de drogas. Ao interrogatório, durante o qual a vítima é obrigada a manter as mãos para trás, o PM incluiu agressões físicas, além das ameaças de morte.

“Vou matar ele”

“Quer continuar apanhando, você não é homem, é moleque, só dou tapa na cara de moleque. Pega a arma que eu vou matar ele”, afirma o policial, que chama novamente o abordado de moleque, enquanto encosta a arma no rosto dele “tem que ser na cara [o tiro] para estragar o velório”, ameaçou, ainda durante o interrogatório.

O PM seguiu falando de forma violenta com o abordado, sem deixar de encostar a arma no rosto dele, até a testemunha se ocultar atrás de um muro e o registro ser interrompido.

Além das agressões e suposto desvio dos itens apreendidos, os policiais são investigados pela Corregedoria da corporação por terem impedido as câmeras corporais de registrar as infrações.

O que a SSP diz

Em nota enviada ao Metrópoles, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que os dois policiais afastados seriam ouvidos nessa quinta-feira (27/2). Os relatos seriam incluídos em inquérito instaurado pela Corregedoria da PM. O órgão fiscalizador também apura, segue a nota, “o correto uso das câmera corporais”.

A SSP acrescentou que as forças de segurança “não compactuam” com desvios de conduta dos agentes, “punindo exemplarmente aqueles que infringem a lei”.

Não houve manifestações sobre a inexistência de boletim de ocorrência no 42º DP, sobre a abordagem, da mesma forma sobre o local para o qual as drogas mencionadas pelo PM eventualmente teriam sido apresentadas.

Violência policial

O novo ouvidor das Polícias de São Paulo, Mauro Caseri, diz que o crescimento da violência policial é o principal desafio a ser encarado durante os próximos dois anos. No último dia de janeiro, números divulgados pela própria SSP mostram aumento de 70% de mortes pela Polícia Militar (PM) em 2024 em comparação com o ano anterior.

Caseri foi chefe de gabinete do ouvidor antecessor, o professor Claudio Silva, que esteve à frente do órgão durante os dois primeiros anos da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), marcados na segurança pública pelas operações Escudo e Verão, que deixaram rastro de sangue na Baixada Santista, com mais de 100 mortes.

Caseri foi o último colocado em uma lista tríplice apresentada para Tarcísio, que o indicou para o comando da Ouvidoria.

Com informações de Metrópoles.

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