Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Portugal vive nesta quinta-feira (11/12) uma greve geral de grandes proporções, a primeira em 12 anos convocada em conjunto pelas duas maiores centrais sindicais do país, CGTP e UGT. A paralisação é uma resposta direta ao pacote trabalhista proposto pelo governo de Luís Montenegro, que prevê mais de cem alterações na legislação laboral.

Os impactos da greve começaram a ser sentidos na noite de quarta-feira (10/12) e se agravaram nas primeiras horas da manhã de quinta. O setor de transportes foi um dos mais afetados:

  • Trens (CP): Operam apenas com serviços mínimos até esta sexta-feira (12/12), causando atrasos significativos, especialmente na região do Porto, onde quase metade das linhas foi suspensa.
  • Metrô: Em Lisboa, o metrô está totalmente fechado desde as 6h da manhã, com previsão de retorno apenas na madrugada de sexta. No Porto, apenas a linha amarela funciona.
  • Ônibus (Carris): Em Lisboa, a Carris opera com apenas 12 veículos e intervalos muito maiores que o normal.
  • Travessias fluviais (Transtejo e Soflusa): Apenas 25% das ligações são mantidas, e somente nos horários de pico.
  • Setor aéreo: A TAP opera com apenas um terço dos voos, e a companhia angolana TAAG cancelou o voo diurno para Lisboa.

Para contornar o caos no deslocamento, empresas e trabalhadores tiveram que recorrer a atrasos tolerados ou ao trabalho remoto (home office).

Escolas e Hospitais Sob Pressão

A paralisação também impactou outros setores essenciais:

  • Escolas: Muitas escolas permaneceram fechadas, com a Fenprof (federação de professores) registrando alta adesão. Os pais foram avisados previamente, mas a situação gerou transtornos.
  • Saúde: O setor já vinha em colapso antes da greve, com tempos de espera nas emergências que ultrapassavam 10 horas. Nesta quinta, apenas serviços mínimos (emergências, internações, quimioterapia, radioterapia e cuidados inadiáveis) estão garantidos, em um sistema já sobrecarregado pela falta de pessoal e recursos.

O Pacote Trabalhista: Pontos de Contenção

A proposta do governo, intitulada “Trabalho XXI”, busca “modernizar” o mercado de trabalho e aumentar a competitividade do país, mas é duramente criticada pelos sindicatos como um ataque a direitos históricos. Os pontos mais polêmicos incluem:

  • 150 horas extras obrigatórias por ano: Podem ser impostas unilateralmente pela empresa.
  • Contratos temporários mais longos: Passam de dois para três anos, o que os sindicatos consideram um estímulo à precarização.
  • Regras mais rígidas para mães que amamentam: Reduzindo o período de flexibilidade de horário.

Novas limitações para pais com filhos até 12 anos: Para pedirem horários adaptados.
Os sindicatos argumentam que as medidas afetam principalmente mulheres, famílias monoparentais e trabalhadores mais vulneráveis.

Reação Popular e Perspectivas

Pesquisas recentes indicam que 61% dos portugueses apoiam a greve geral. No entanto, a paralisação em pleno mês de dezembro, com intenso movimento nas cidades, também gera irritação devido aos transtornos no deslocamento.

Apesar das tensões acumuladas, que levaram as centrais sindicais a atuarem juntas pela primeira vez desde 2013, o governo sinalizou que não pretende prolongar indefinidamente a negociação. O texto do pacote trabalhista deverá seguir para debate e votação na Assembleia da República nos próximos meses, mesmo sem um acordo social prévio, após a conclusão do ciclo orçamentário.

Com informações de Metrópoles

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