Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Meses antes de ser acusado por funcionárias da Caixa Econômica Federal de assédio sexual, Pedro Guimarães se autoparabenizou por incluir mulheres em postos de chefia no banco. Em cerimônia em fevereiro deste ano, alusiva à convocação de pessoas com deficiência aprovadas em concurso público do banco, Guimarães afirmou que o governo Bolsonaro “escolhe pelo mérito”.

“O governo do presidente Bolsonaro é um governo honesto, é um governo que escolhe pelo mérito e a consequência disso é que nós fazemos o que nunca foi feito”, afirmou o presidente do banco.

Segundo ele, não havia nenhuma mulher como vice-presidente ou diretora, antes de ele assumir o banco. “E eu sou matemático. Se são 85 mil empregados, 42,5 mulheres e 42,5 homens. É uma impossibilidade matemática: o que nós chamamos em matemática de um conjunto de medidas zero, que dos 85 mil os 50 principais cargos vão para homens. Essa é a demonstração, que as pessoas não queriam falar, que não havia meritocracia na Caixa”, disse ele.

“Eu estou falando do básico: não havia respeito às mulheres da Caixa Econômica Federal. E hoje, por meritocracia, nós temos 14 vice-presidentes e diretoras, várias estão aqui”, prosseguiu o executivo, aplaudido pela plateia presente no Palácio do Planalto.

Veja o vídeo:

Guimarães foi denunciado por uma série de funcionárias do banco público à coluna de Rodrigo Rangel por assédio sexual. Uma investigação está em andamento, sob sigilo, no Ministério Público Federal. Ele e o governo ainda não se pronunciaram oficialmente sobre as denúncias, mas há expectativa de que a saída seja oficializada ainda nesta quarta-feira (29/6).

As mulheres relatam toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o presidente do maior banco público brasileiro e funcionárias sob seu comando.

Indicação de Guedes

Com experiência prévia no mercado financeiro, Pedro Guimarães chegou ao governo indicado por Paulo Guedes. Ele assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 e já havia sido cotado para outros postos, inclusive o de ministro da Economia em momentos de enfraquecimento do “Posto Ipiranga”.

Graças à visibilidade que ganhou a partir da entrada para o governo, Pedro Guimarães chegou a cogitar concorrer a deputado federal ou a senador nas próximas eleições. Acabou desistindo depois de ser apresentado a pesquisas pouco animadoras sobre suas chances de vitória. Ele também chegou a ser cogitado para vice de Bolsonaro em 2022.

Carioca, Guimarães é casado e pai de dois filhos. O executivo de 51 anos tem PhD pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos e já trabalhou no mercado financeiro. Ocupou cargos elevados em bancos importantes e em fundos de investimentos.

Guimarães se aproximou paulatinamente das pautas ideológicas do presidente Bolsonaro ao longo da atual gestão. Na pandemia, ele se tornou adepto de teses anticientíficas propagadas pelo presidente da República.

Vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020 mostrou Guimarães ironizando quem está trabalhando de casa enquanto os 30 mil funcionários do banco não poderiam fazer isso. “Não tem esse negócio, essa frescurada de home office, disse.

Além de ser figura frequente nas lives semanais de Bolsonaro, ele costuma acompanhar o presidente também em agendas pelo país. Na última terça-feira (28/6), por exemplo, esteve na comitiva que foi a Maceió (AL), ocasião em que discursou defendendo o governo.

As denúncias

Um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar as situações pelas quais passaram. Todas elas trabalham ou trabalharam em equipes que servem diretamente ao gabinete da presidência da Caixa.

Cinco concordaram em dar entrevistas para o colunista Rodrigo Rangel, desde que suas identidades fossem preservadas. Elas dizem que se sentiram abusadas por Pedro Guimarães em diferentes ocasiões, sempre durante compromissos de trabalho.

As mulheres relatam toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o presidente do maior banco público brasileiro e funcionárias sob seu comando.

A iniciativa dessas mulheres levou à abertura de uma investigação que está em andamento, sob sigilo, no Ministério Público Federal. (Metrópoles)

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