O primeiro voo de repatriação de brasileiros vindos do Líbano chegou na manhã deste domingo (6) na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, por volta das 10h26. O voo partiu de Beirute na tarde de sábado com 229 pessoas, sendo dez crianças de colo, e três animais domésticos. Os brasileiros repatriados foram recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A aeronave KC-30, da Força Aérea Brasileira, trouxe brasileiros resgatados da zona de conflito no Líbano. Em menos de três semanas, a campanha aérea de Israel no Líbano matou mais de 1.400 pessoas, feriu quase 7.500 e deslocou mais de um milhão de habitantes. A investida contra líderes do Hezbollah no país já é considerada a mais intensa fora da Faixa de Gaza em duas décadas, de acordo com o grupo britânico de monitoramento de conflitos Airwars.
Antes de o avião pousar, alguns familiares aguardavam na base aérea. A professora Rima Mahdi aguardava seu filho, de 21 anos, que estava no Sul do Líbano visitando familiares. Ela conta que a região onde o filho estava ficou sob ataque, num dia em que morreram 500 pessoas.
— Ele ficou preso mais de 14 horas a caminho de Beirute, com bastante bombardeio. Meu filho me ligava desesperado, dizendo que não sabia se veria mais a família. Chorei o tempo todo, e não só por caso do filho, mas da família, meus pais e outras pessoas que continuam lá — disse. — Meu filho só chora, falou que não tem mais Líbano, não tem mais a casa da minha irmã, dos meus pais.
O empresário Hicham Abou Hamze aguardava os sogros, que estavam no Líbano para visitar a família desde o ano passado. Ele foi à Base área com a sogra, o pai e os filhos. O empresário conta que os sogros precisaram se deslocar, emergencialmente, para uma cidade um pouco mais seguras.
— De início, não queriam largar os filhos e netos, mas não foi mais possível ficar lá. Nossos outros familiares continuam lá, por enquanto não desejam vir. Estamos muito emocionados, muito felizes por encontrá-los. Muito orgulho de ser brasileiro – afirmou.
Além de pilotos, militares da área de saúde (médico, enfermeiro, psicólogo) integraram a tripulação para prestar o apoio necessário durante a missão, batizada pela Aeronáutica de “Raízes de Cedro”.
O governo brasileiro planeja uma segunda fase da operação para repatriar brasileiros no Líbano para a próxima semana. O novo voo está previsto, inicialmente, para quarta-feira (9).
Operação de guerra
O avião que trouxe os primeiros brasileiros repatriados do Líbano decolou de Beirute após duas horas em solo, em uma operação que contou com inúmeros contatos diplomáticos para ser realizada. Durante viagem a Nova York em setembro para participar da Assembleia Geral da ONU, Lula conversou com autoridades sobre a necessidade de retirar os brasileiros da região e de um cessar-fogo.
A aeronave estava em Lisboa aguardando autorização de voo para o Líbano e decolou de Portugal com o combustível necessário para fazer o trajeto de ida e volta. A previsão inicial era de que o avião ficasse cerca de 40 minutos no aeroporto de Beirute.
O plano era de que o voo decolasse na sexta-feira, mas o governo brasileiro decidiu adiar a programação por necessidade de “medidas adicionais de segurança para os comboios terrestres” que iriam até o aeroporto de Beirute, cuja região tem sido alvo de bombardeios.
Diante da escalada do conflito, todas as operações precisam ser revistas minutos antes de acontecerem, mesmo aquelas que já estão autorizadas, como foi o caso da operação brasileira na sexta-feira.
O comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Damasceno, afirmou que a Força Aérea Brasileira (FAB) tem capacidade de trazer 500 pessoas por semana do Líbano. Ele ressaltou ainda que eventuais desistências serão substituídas para que os lugares sejam aproveitados.
A operação para retirar os brasileiros do Líbano usou a experiência recente do Brasil com a operação “Voltando em paz”, que trouxe os brasileiros que estavam na Faixa de Gaza em meio à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. A operação resgatou mais de 1.400 brasileiros em nove voos, além de animais de estimação. Com informações de O Globo.
